PF vê conexão entre atentado suicida em Brasília e tentativa de golpe de Estado
Relatório diz que ataques à democracia propiciaram ações violentas em dezembro de 2022, 8 de janeiro de 2023 e em 13 de novembro de 2024
O relatório final que indicia Jair Bolsonaro e 36 aliados, a maioria deles militares, cita o atentado suicida perpetrado em Brasília por Francisco Wanderley Luiz como mais uma ação violenta dentro do "ambiente propício para o florescimento de um radicalismo". Segundo o documento, os "ataques sistemáticos aos valores mais caros do Estado Democrático de Direito" praticados pelo ex-presidente e seus partidários culminaram em ao menos quatro ataques.
+ PF coloca Bolsonaro e Braga Netto no topo da trama golpista
O primeiro ataque aconteceu em 12 de dezembro de 2022, dia da diplomação de Luiz Inácio Lula da Silva e Geraldo Alckmin, então eleitos presidente e vice-presidente do Brasil. Naquele dia, apoiadores de Bolsonaro que estavam acampados em frente ao Quartel General do Exército, em Brasília, cometeram atos de vandalismo próximo da sede da Polícia Federal. Carros foram danificados e incendiados e ônibus foram depredados.
O segundo ataque aconteceu no dia 24 de dezembro de 2022, quando uma bomba foi colocada num caminhão-tanque cheio de querosene de aviação, próximo do aeroporto de Brasília. O detonador da bomba falhou e acabou evitando a tragédia.
O terceiro e maior ataque foi o 8 de janeiro, quando milhares de apoiadores de Bolsonaro vestidos de verde e amarelo invadiram e depredaram os prédios dos três Poderes: a sede do Supremo Tribunal Federal, o Congresso e o Palácio do Planalto.
O último ataque, mais recente, foi o atentado suicida realizado por Francisco Wanderley Luiz, conhecido como tio França. No dia 13 de novembro, o homem detonou explosivos na Praça dos Três Poderes, em Brasília, levando à própria morte. Na visão da PF, o ataque, embora uma ação individual, faz parte do clima propício ao radicalismo gerado pelos seguidos ataques às urnas e às instituições.
Segundo o documento da PF, o "golpe de Estado perpetrado pela organização criminosa não ocorreu, apesar da continuidade dos atos para conclusão da ruptura institucional, por circunstâncias alheias à vontade do então presidente da República Jair Bolsonaro, no caso, a posição inequívoca dos comandantes do Exército e da Aeronáutica, Freire Gomes e tenente-brigadeiro do ar Carlos de Almeida Baptista Junior, e da maioria do Alto Comando do Exército, de permanecerem fiéis aos valores que regem o Estado Democrático de Direito, não cedendo às pressões golpistas".
|+ Bolsonaro liderou, atuou e planejou atos para golpe de Estado, diz relatório da Polícia Federal
O inquérito que levou ao indiciamento de Bolsonaro
O relatório final que indicia Jair Bolsonaro e 36 aliados cita reuniões nos palácios do Planalto e da Alvorada, a minuta do golpe, o plano Punhal Verde e Amarelo, a ação Copa 2022 – com o planejamento de atentados contra Moraes, Lula e Alckmin –, a ação do Partido Liberal (PL) de difamação e questionamento das urnas eletrônicas, conversas obtidas nos celulares dos investigados e a delação de Mauro Cid como provas de que o ex-presidente e várias autoridades do governo e das Forças Armadas tentaram impedir a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, em 2023.
O documento de mais de 800 páginas foi tornado público nesta terça-feira (26) pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e está nas mãos da Procuradoria-Geral da República para análise. A PGR deve decidir se denuncia ou não Bolsonaro e os outros indiciados.
A PF aponta que Bolsonaro sabia e participou ativamente do plano golpista que pretendia impedir a posse de Lula com ataques ao sistema eleitoral brasileiro. Os investigadores também apontam as digitais de Bolsonaro no na minuta do golpe encontrada na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres, que previa intervenção no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Também são citadas como provas da participação do ex-presidente reuniões realizadas no Planalto e no Alvorada com o alto comando do governo e das Forças Armadas. Segundo a investigação, Bolsonaro participou dos encontros e era o principal beneficiado da trama.
O general da reserva Braga Netto, candidato a vice de Bolsonaro na chapa derrotada, é o principal alvo do indiciamento em relação aos planos do Copa 2022 e o planejamento do Punhal Verde Amarelo.