Partido de Bolsonaro pressiona por anistia e ameaça romper com presidente da Câmara
PL cobra urgência na votação e fala em "clima de inferno" caso Hugo Motta não inclua projeto na pauta do plenário

Rafael Porfírio
A reunião oficial do colégio de líderes, que envolve deputados tanto de governo quanto oposição, acontece na manhã desta quinta-feira (24), na Câmara. A expectativa entre os parlamentares é de que o encontro tenha um clima tenso, com possibilidade de a oposição, que defende a anistia a envolvidos nos atos golpistas do 8 de janeiro, elevar o tom para que o texto seja levado ao plenário.
Nessa quarta (23), o líder do PL na Câmara, deputado Sóstenes Cavalcante (RJ) fez um aviso direto ao presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB). O parlamentar falou que se o requerimento de urgência para votar a anistia dos presos pelos atos golpistas de 8 de janeiro não for incluído na pauta da próxima semana, o partido pode romper com ele.
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"Se ele [Hugo Motta] não inserir [o requerimento de urgência na pauta], ele vai dizer que está rompendo com a gente [...] Falei mais cedo com o Valdemar que precisamos estabelecer um limite, porque, se não, ele vai ficar nos enrolando, empurrando com a barriga. Ele [Valdemar] falou que estou certo e que é para estabelecer esse limite[...] Não queremos romper, mas se ele continuar enrolando, vamos até o fim", destacou Cavalcante, destacando apoio do presidente do PL, Valdemar Costa Neto.
Entenda movimento do PL e postura de Motta
A ameaça principal é que o PL passe a controlar sozinho os recursos das comissões que preside, como as de Saúde, Agricultura e Turismo, o que pode criar ainda mais tensão no Congresso Nacional.
Hoje, existe um acordo entre os partidos: quem preside uma comissão tem direito a 30% das emendas, e os outros 70% são divididos entre as demais bancadas. Mas o PL ameaça romper esse acordo.
"Eu não quero fazer isso, mas, se for necessário esticar a corda e colocar a corda no pescoço, o rompimento até nisso pode afetar. Não queremos fazer isso. Se ele [Motta] romper conosco, podemos chegar nessa medida extrema", afirmou Cavalcante.
Por enquanto, Motta não respondeu diretamente à pressão do PL. Mas ele já deixou claro que não quer misturar os temas.
Durante um evento nessa quarta (23), Motta disse que a pauta da anistia não vai passar na frente de outros projetos importantes, como o que isenta do Imposto de Renda quem ganha até 5 mil reais por mês.
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"Em um cenário de crise internacional, não podemos ter uma crise institucional. Temos que ter diálogo. Não vamos misturar essas pautas, vamos usar todo o nosso tempo com responsabilidade", declarou o presidente da Câmara.
Partidos adotam cautela
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também entrou em cena. Na noite de ontem, o petista se reuniu com Motta e líderes partidários para um jantar na residência oficial da Câmara e ouviu que não há acordo para votar a anistia neste momento.
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Mesmo partidos de centro-direita, como União Brasil e Progressistas, disseram que não devem apoiar a proposta. Já os líderes da oposição, que defendem a anistia, nem compareceram ao encontro.
A situação mostra que o PL está tentando forçar uma votação polêmica, mas encontra resistência até entre antigos aliados. Motta tenta manter o foco em projetos mais consensuais e o governo Lula, nesse cenário, prefere a cautela