Nas redes, Bolsonaro deu mais atenção às Forças do que a outras áreas de governo
Hoje pressionado por testemunhos de militares, ex-presidente afagou corporação na maioria das postagens, inclusive na data do golpe
Leonardo Cavalcanti
Durante o período que passou no Palácio do Planalto, Jair Bolsonaro deu mais atenção aos militares nas postagens feitas no Instagram, no X (antigo Twitter) e no Facebook do que aos integrantes de áreas e ministérios civis. Hoje pressionado pela delação do tenente-coronel Mauro Cid e pelos depoimentos dos ex-comandantes do Exército e da Aeronáutica, o general Freire Gomes e o brigadeiro Baptista Júnior, o então presidente afagou as Forças Armadas na maioria das postagens quando os temas eram órgãos federais. É o que mostra um levantamento inédito do SBT News a partir de todos os movimentos de Bolsonaro nas redes sociais de 2019 a 2022.
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Como foi feita a conta: o SBT News analisou as redes de Bolsonaro enquanto presidente com base em banco de dados inicial com quase 25 mil postagens. A avaliação foi feita a partir da ferramenta Pinpoint, do Google, ao separar as corporações civis e militares citadas nas postagens. Ao todo, o ex-presidente fez 697 referências ao Exército, à Força Aérea Brasileira (FAB), à Marinha e ao Ministério da Defesa, comandado pelo general da reserva Braga Netto de março de 2021 a abril de 2022, quando deixou o cargo para se candidatar a vice na chapa de Bolsonaro.
O golpe: em uma das postagens, de 31 de março de 2020, a conta de Bolsonaro no Facebook posta a versão sobre a tomada de poder pelos militares. Numa linha do tempo resumida e sem qualquer parâmetro historiográfico o então presidente se propõe a contar um pouco da “história”. Na cronologia, Bolsonaro escreve que em 2 de abril de 64 o “Congresso declara vago o cargo de presidente da República. Assume o deputado Raniere Mazzilli”. Na sequência, o político, hoje inelegível, afirma que em 11 de abril daquele ano o Congresso elegeu indiretamente o marechal Castelo Branco como presidente, de acordo com a Constituição de 1946. “15/abril/1964 assume a presidência o marechal Castelo Branco. A verdade: o marechal foi eleito de acordo com a Constituição e não houve golpe em 31 de março.” A postagem tinha recebido até ontem 107 mil “likes”, 10 mil compartilhamentos e 8 mil comentários.
Proibição de manifestações: a postagem de Bolsonaro, feita sob medida para agradar os militares, ganha ainda mais relevância diante da decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em vetar atos dos ministros em memória dos desaparecidos e dos mortos na ditadura no aniversário de 60 anos do golpe. A ação do petista foi tomada depois que ministérios, como o dos Direitos Humanos, tinha preparado manifestações. Do lado de militares da reserva, a data sempre é lembrada como “revolução” e combate o comunismo. Mesmo diante da decisão de Lula, a sociedade civil prepara uma série de 100 atos entre hoje e terça-feira (2 de abril).
Outras postagens: além de exaltar o trabalho de militares, Bolsonaro também publicava nas redes auto-referências como “chefe Supremo das Forças Armadas”, como fez no Instagram no dia 9 de agosto de 2021:
Os comandantes na época também faziam questão de se referir a Bolsonaro como o “comandante supremo das Forças Armadas”, como fez o próprio Baptista Júnior numa repostagem de uma tuíte do então presidente elogiando a FAB no dia 16 de junho de 2022:
Ranking: distante dos afagos dos militares, o ministério que mais recebeu referências de Bolsonaro nas redes foi o da Saúde, com 200 referências, mesmo diante de uma pandemia que durou quase metade do mandato do ex-presidente. Depois aparecem os ministérios de Relações Exteriores (198), Desenvolvimento Regional (178), Economia (172), Justiça (153) e Controladoria Geral da União (148).