Mauro Vieira critica ataques de Israel em Gaza e comenta decisão dos EUA que pode atingir Moraes
Ministro de Relações Exteriores condenou ações contra palestinos e reagiu a possível restrição de vistos anunciada por Washington

Rafael Porfírio
O chanceler Mauro Vieira afirmou que o Brasil mantém aberto o canal de conversa com os Estados Unidos. Nesta quarta-feira (28), durante audiência na Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados, ele explicou que mandou uma correspondência formal para o secretário de Estado Americano, Marco Rubio, para tratar do relacionamento entre os dois países. Mas, segundo Vieira, a resposta ainda não veio.
“A correspondência chegou ao gabinete dele, mas não recebi retorno nem fui convidado para conversas. Ainda assim, deixei clara minha disponibilidade. Isso não significa, entretanto, que as comunicações entre Brasília e Washington estejam interrompidas, muito pelo contrário, seguimos com múltiplos canais de diálogo”, destacou.
A declaração aos parlamentares veio depois que o deputado Marcel van Hattem (Novo-RS) sugeriu que o ministro não conseguia contato com os americanos. Vieira esclareceu que, mesmo sem resposta formal, o Brasil segue conversando com os EUA por vários caminhos.
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O assunto ganhou peso com a notícia de que o secretário de Estado Americano anunciou a restrição de vistos a autoridades estrangeiras que, segundo o governo americano, apoiam censura contra cidadãos dos EUA. Embora Marco Rubio não tenha citado nomes, bolsonaristas veem na mira o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.
Na semana passada, Marco Rubio afirmou que o governo dos EUA está 'avaliando' impor sanções contra Moares.
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Nesse contexto, Vieira citou Barão do Rio Branco, ícone da diplomacia brasileira, para lembrar que “o Brasil não cultiva alianças nem parcerias incondicionais. O que prevalece sempre é o interesse nacional, que ocupa posição prioritária". Mauro Vieira foi questionado pelo deputado Filipe Barros (PL-PR) sobre possíveis retaliações envolvendo a concessão de vistos. O chanceler defendeu a soberania nacional.
“Cada Estado detém autonomia total para decidir sobre concessão ou negativa de vistos. São incontáveis os casos de brasileiros que têm pedidos rejeitados. Para vistos oficiais, é necessária concordância mútua para encontros bilaterais. Cada situação tem suas particularidades”, afirmou Vieira.
Críticas a Israel e apoio à Palestina
Vieira também comentou sobre as ações de Israel na Faixa de Gaza, em meio ao conflito com o Hamas. Segundo o ministro, as forças israelenses estão cometendo “atrocidades” e a resposta militar do governo de Benjamin Netanyahu é totalmente “desproporcional.” Ele lembrou que o governo brasileiro sempre condenou os atos terroristas do Hamas, mas que não é possível fechar os olhos para o sofrimento da população civil palestina.
“As ações contra os civis em Gaza já ultrapassaram há muito tempo qualquer limite de proporcionalidade,” afirmou.
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Apesar das críticas, Vieira deixou claro que o Brasil não é inimigo de Israel.
“O problema são as atitudes do atual governo de Israel, que ultrapassaram todos os limites. [...] Com relação ao corte de relações diplomáticas, eu pessoalmente sou contrário, não acho que deve haver porque não devemos cortar relações diplomáticas com nenhum país. É importante que o Brasil esteja para dialogar e sobretudo defender os cidadãos brasileiros,” explicou.