Um dia após falar de responsabilidade fiscal, Lula volta a defender gastos sociais
"Tem gente que come 10 vezes ao dia e tem gente que passa 10 dias sem comer. Esse é um país que queremos consertar", disse em evento em Osasco
Um dia após reforçar o compromisso com a responsabilidade fiscal, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a defender os gastos do governo com programas sociais em evento nesta sexta-feira (5). "Neste país, toda vez que se tenta fazer política social, aparece alguém dizendo: gasta demais”, disse. Segundo o petista, a aplicação de recursos da União para os menos favorecidos são investimento para a igualdade. O presidente, contudo, afastou a possibilidade de uma crise econômica por desequilíbrio fiscal. "No meu governo (a economia) não vai quebrar porque nós temos responsabilidade de cuidar deste país", afirmou.
+ Promessa de cumprir arcabouço fiscal causa nova queda no dólar e moeda fecha abaixo de R$ 5,50
“Tem gente que come 10 vezes ao dia e tem gente que passa 10 dias sem comer. Esse é um país que queremos consertar", afirmou Lula. "Não adianta falar de responsabilidade fiscal porque, se tem uma coisa que eu aprendi com a dona Lindu, foi responsabilidade fiscal, cuidar do meu pagamento, cuidar do meu salário, cuidar da minha família. E hoje a minha família é o Brasil."
Nomes do governo estão em turnê pelo país anunciando obras de infraestrutura. Nesta sexta, o presidente e ministros inauguraram a Escola Paulista de Política, Economia e Negócios, da Unifesp, em Osasco. Pelo contexto, o discurso foi atrelado à pauta educacional. “Que vença o melhor, mas todo mundo é para sair do mesmo lugar”, disse, em defesa da educação pública de qualidade.
"Fico me perguntando: quanto custou a este país não ter feito reforma agrária na década de 50? Quanto custou não ter feito universidade 300 anos atrás?”, questionou, rebatendo críticas, especialmente de investidores, de que sua gestão gasta demais. “Quando São Paulo perdeu o que ele chamou de revolução de 32, perdeu para o governo federal, resolveu tomar uma decisão. A elite paulista decidiu o seguinte: nós perdemos a política, mas nós vamos continuar mandando no Brasil porque nós vamos investir em inteligência. E criaram a USP”, disse Lula, ao citar a importância dos centros acadêmicos.
+ Após altas seguidas, dólar cai quase 2% com falas de Lula e Haddad
Críticas
Em discurso na cidade da região metropolitana de São Paulo, chefe do Executivo federal também criticou Abraham Weintraub, um dos ministros da Educação sob Bolsonaro. Weintraub era professor da Unifesp e foi demitido por faltas injustificadas.
“Vocês aqui de Osasco, vocês estudantes dessa universidade [Unifesp], sabem fazer a diferença do que é um ministro da Educação do meu governo? Do que foi um Fernando Haddad? Do ministro da Educação do outro governo, que era desta universidade e professor aqui? Vocês sabem a diferença!”, disse Lula.
O presidente também aproveitou o evento para reclamar da relação com movimentos sociais. Em junho, durante a longa greve de funcionários de universidades e institutos federais, Lula disse que a paralisação não deveria "durar o que está durando".
"Às vezes, os caras reivindicam 100 coisas, nós atendemos 99. E aí, quando a gente vai no ato público para anunciar, ao invés de o companheiro, dirigente sindical, começar o discurso agradecendo os 99, ele vai reclamar de uma que não foi atendida. É inacreditável", afirmou. "É lógico que vocês têm o direito de fazer reivindicação, porque, se não, fizerem, a coisa não melhora. Mas é importante lembrar, que isso daqui [o campus de Osasco] ficou parado muitos anos por falta de responsabilidade e de governança”.
Energia de 30, tesão de 20
Lula também comentou os artigos na imprensa mundial que questionam sua idade para governar e o comparam com o presidente dos Estados Unidos e candidato à reeleição Joe Biden. “Quem achar que o Lulinha está cansado, pergunte para a Janja”, brincou o petista.
+Poder Expresso: Biden é pressionado por todos os lados para desistir da campanha
O democrata vem sofrendo forte pressão para que desista da corrida sob alegações de que seu vigor físico e mental pode dificultar a disputa contra o republicano Donald Trump. Em uma capa considerada etarista, com a imagem de um andador com o brasão da Casa Branca, a revista The Economist afirmou que Biden “não é apto”.
“Você não pode governar uma superpotência apenas com um teleprompter. E você não pode adiar uma crise internacional porque o presidente teve uma noite ruim", escreveu uma das principais publicações de política do mundo.
As comparações por parte da oposição e críticos a Lula vem do fato de ele hoje ter 78 anos de idade. Em 2026, nas próximas eleições presidenciais, Lula estaria com 81 anos, mesma idade de Biden. Lula respondeu às críticas da mídia com humor: “Todos que acham que eu estou cansado, eu convido a fazer uma agenda comigo”.
“Quando falo que tenho 70 anos de idade, energia de 30 e tesão de 20, eu estou falando com conhecimento de causa. Então não adianta tentar atrapalhar minha vida”, disse o presidente.