Lula diz que fome no mundo existe por "escolha política" de líderes mundiais
Presidente se emocionou em discurso no pré-lançamento da Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza, do G20, no Rio de Janeiro
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, nesta quarta-feira (24), que 733 milhões de pessoas passam fome no mundo por "escolha política" das grandes lideranças mundiais. Ele discursou no encerramento do anúncio da Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza, lançada pelo G20, no Rio de Janeiro. O grupo das 20 maiores economias do mundo está sob presidência brasileira.
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Próximo do fim de seu discurso, Lula voltou a defender que muito dinheiro na mão de poucas pessoas significa pobreza e problemas sociais, enquanto algum dinheiro na mão de muitos é sinal de prosperidade.
"Eu quando falo isso fico emocionado, porque a fome não é uma coisa natural. A fome é uma coisa que exige escolha política. Nós, governantes, não podemos olhar o tempo inteiro só para quem está próximo de nós. É preciso que a gente possa fazer uam radiografia e olhar para aqueles que estão distantes, aqueles que não conseguem chegar perto dos palácios, que não conseguem chegar perto de ministros. Aqueles que não conseguem chegar perto de uma escola e que são vítimas de preconceito todo santo dia", disse Lula, emocionado.
O presidente lamentou que, em pleno século 21, seja preciso fazer apelo para que as pessoas mais pobres sejam lembradas em eventos com chefes de estado e lideranças mundiais, como o G20. Ele definiu o aumento da extrema pobreza e da fome no mundo como algo "estarrecedor".
“A pobreza extrema aumentou, pela primeira vez, em décadas. O número de pessoas passando fome ao redor do planeta aumentou em mais de 152 milhões desde 2019. Isso significa que 9% da população mundial, 733 milhões de pessoas, estão subnutridas”, disse.
“A fome tem o rosto de uma mulher e a voz de uma criança. Mesmo que elas preparem a maioria das refeições e cultivem boa parte dos alimentos, mulheres e meninas são a maioria das pessoas em situação de fome no mundo”, acrescentou o presidente.
Lula ainda ressaltou que o Brasil está na contramão dos dados de crescimento da insegurança alimentar, ao citar a pesquisa divulgada pelo relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) para a Alimentação e a Agricultura (FAO).
No Brasil, segundo a ONU, a fome atingiu 8,4 milhões (3,9%) de pessoas em 2023, menos que os 10,1 milhões de pessoas registrados no triênio 2020-2022, quando 4.7% dos habitantes brasileiros estavam nessa condição.
A quantidade de pessoas em insegurança alimentar severa caiu 85% em 2023 na comparação com 2022. O índice de 8% reduziu para 1,2% da população. Em números absolutos, a insegurança alimentar severa, que afligia 17,2 milhões de brasileiros em 2022, foi reduzida a 2,5 milhões.
Segundo a metodologia da FAO, a insegurança alimentar severa é quando a pessoa está sem acesso a alimentos e passa um dia inteiro ou mais sem comer. Representa a fome concreta que, se mantida regularmente, leva a prejuízos graves à saúde física e mental, sobretudo na primeira infância, no desenvolvimento cognitivo.
A melhoria do dado no Brasil em comparação aos anos anteriores também foi mencionada pelo presidente Lula ao longo do discurso.
"No Brasil combatemos a fome por meio de novo contrato social, que coloca o ser humano no centro da ação do governo. Retomamos as políticas de valorização do salário mínimo [...] temos uma sólida politica de geração de postos e trabalho formais. O desemprego é o mais baixo em uma década. aprovamos lei de igualdade em remuneração entre homens e mulheres", disse o presidente, que citou programas sociais, como o Bolsa Família e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA).
O presidente da República ainda criticou o financiamento de guerras e os gastos com armamentos no mundo, que chegaram a US$ 2,4 trilhões, muito maiores do que os investimentos para combater a fome.
"Gastos com armamentos subiram 7% no último ano, chegando a US$ 2,4 trilhões. Inverter essa lógica é imperativo moral de justiça social e também é essencial para o desenvolvimento sustentável que buscamos", afirmou.