Número de brasileiros com fome cai para 8,4 milhões, diz ONU
Apesar da melhora, Brasil continua no Mapa da Fome, com 39,7 milhões em situação de insegurança alimentar moderada ou grave entre 2021 e 23
Cerca de 733 milhões de pessoas passaram fome em 2023, o equivalente a uma em cada onze pessoas no mundo, de acordo com o último relatório Estado da Segurança Alimentar e Nutricional no Mundo, mais conhecido como "Mapa da Fome", publicado nesta quarta-feira (24) por cinco agências especializadas das Nações Unidas (ONU).
A divulgação aconteceu no Rio de Janeiro, durante o lançamento da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, no G20, uma iniciativa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que foi inicialmente proposta quando o Brasil participou da cúpula do grupo em Nova Delhi, na Índia, no ano passado.
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Segundo os dados, o mundo retrocedeu 15 anos no combate à fome, com níveis de subnutrição comparáveis aos de 2008-2009, com o nível de subnutrição crônica (fome) aumentando na Ásia Ocidental, no Caribe e na maioria das sub-regiões africanas.
Indo além da fome, a prevalência de insegurança alimentar moderada ou grave permanece acima dos níveis pré-pandemia, com pouca mudança em quatro anos. Em 2023, estima-se que 28,9% da população mundial — 2,33 bilhões de pessoas — estava moderada ou gravemente inseguras em termos alimentares, o que significa que as pessoas não tinham acesso regular a alimentos adequados.
Essas estimativas incluem 10,7% da população — 864 milhões de pessoas — que estavam gravemente inseguras em termos alimentares.
O relatório também mostra que a prevalência de insegurança alimentar moderada ou grave permaneceu praticamente inalterada na África, Ásia e América do Norte e Europa de 2022 a 2023, e piorou na Oceania. Em contraste, houve progresso na América Latina.
América Latina e Brasil
De acordo com o dados, a América Latina, particularmente a América do Sul, melhorou no número de pessoas afetadas pela fome desde o pico do período da pandemia de covid-19, com a proporção de pessoas subnutridas (PoU na sigla em inglês) caindo para 5,2%, em 2023, após atingir 6,5% em 2021, um diminuição equivalente a 5,4 milhões de pessoas.
Aqui no Brasil, segundo a ONU, a fome atingiu 8,4 milhões (3,9%) de pessoas em 2023, menos que os 10,1 milhões de pessoas registrados no triênio 2020-2022, quando 4,7% dos habitantes brasileiros estavam nessa condição.
Ainda segundo o relatório, em 2023, 14,3 milhões estavam em insegurança alimentar grave — quando uma pessoa fica sem comida e, no pior dos casos, fica sem comida por mais de um dia — e 39,7 milhões (18,4% da população) em insegurança alimentar moderada ou severa, um nível de gravidade da insegurança alimentar em que as pessoas enfrentam incertezas sobre sua capacidade de obter alimentos e foram forçadas a reduzir, às vezes durante o ano, a qualidade e/ou quantidade de alimentos que consomem devido à falta de dinheiro ou outros recursos.
Esses números são melhores do que os registrados no último Mapa da Fome, divulgado ano passado, com dados do período entre 2020 e 2022. Na ocasião, 32,8% da população (cerca de 70,3 milhões) estava em insegurança alimentar moderada ou grave. Ainda assim, o Brasil continua no Mapa da Fome, de onde tinha saído em 2014, e voltou em 2019.
Outros dados
O relatório desse ano também abordou outros dados relacionados a segurança alimentar. Acesso a dietas saudáveis está entre eles.
Segundo a pesquisa, mais de 2,8 bilhões de pessoas não puderam pagar por uma dieta saudável em 2022. Essa disparidade é mais pronunciada em países de baixa renda, onde 71,5% da população não pode pagar por uma dieta saudável, frente a 6,3% em países de alta renda.
No Brasil, em 2022, o custo de uma dieta saudável foi de 4,25 dólares por pessoa por dia, algo em torno de R$ 23,95, R$ 2,31 a mais do que custava em 2021 e cerca de cinco reais a mais em comparação com o custo registrado em 2017, de US$ 3,22. Isso significa que 54,4 milhões (25,3%) de brasileiros não conseguiam pagar uma alimentação saudável em 2022.
Mesmo alto, o número é menor do que o registrado em 2021, quando 64,7 milhões de brasileiros não tiveram acesso a uma alimentação saudável.
Para a ONU, uma alimentação saudavel é composta por quatro aspectos principais: diversidade (dentro de um mesmo grupo de alimentos ou entre grupos de alimentos), adequação (suficiência de todos os nutrientes essenciais em comparação com as necessidades), moderação (alimentos e nutrientes relacionados a resultados ruins para a saúde) e equilíbrio (energia e ingestão de macronutrientes).