Lula diz que “andar de cabeça erguida é mais importante que um Prêmio Nobel” em discurso na Malásia
Presidente critica o Conselho de Segurança da ONU, afirma que COP30 será “da verdade” e defende ampliação das relações com a Malásia


Jessica Cardoso
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse neste sábado (25), em Kuala Lumpur, que “andar de cabeça erguida é mais importante que um Prêmio Nobel”. A declaração foi feita após encontro com o primeiro-ministro da Malásia, Anwar Ibrahim, durante discurso em que defendeu que governar exige fazer escolhas e cuidar dos mais pobres.
“Governar é decidir para quem você quer governar, de que lado você está, com quem você vai fazer relações. [...] Cuidar das pessoas mais humildes é quase que uma obrigação bíblica. É um mandamento de Deus. Porque é para isso que a gente vem para governar”, declarou.
A fala sobre o Nobel ocorre na véspera de um possível encontro com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que já declarou merecer o Prêmio Nobel da Paz por ter, segundo ele, encerrado oito conflitos no mundo, como a guerra na Faixa de Gaza.
A vencedora do prêmio em 2025, María Corina Machado, líder da oposição ao presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, dedicou a condecoração a Trump.
Durante o discurso, Lula também voltou a criticar a guerra em Gaza e afirmou que a comunidade internacional “não pode continuar assistindo à morte de inocentes todos os dias”. Segundo ele, o conflito expõe a ineficácia dos organismos multilaterais.
“[...] as instituições multilaterais que foram criadas para tentar evitar que essas coisas acontecessem, pararam de existir. Hoje, o Conselho de Segurança da ONU e a ONU não funcionam mais. Todas as guerras acontecidas nos últimos tempos foram guerras determinadas por gente que faz parte do Conselho de Segurança da ONU”, afirmou.
Ao tratar da crise climática, Lula voltou a declarar que a COP30, sediada em Belém (PA), “será a COP da verdade”.
“A gente vai ter que dizer se acredita ou não nas informações que a ciência está nos dando”, disse, ao afirmar que as populações pobres são as mais afetadas pelos desastres climáticos.
Durante a visita, Brasil e Malásia assinaram sete atos de cooperação nas áreas de ciência, tecnologia e inovação, semicondutores e tecnologia da informação. Lula afirmou que a aproximação entre os países é importante.
Ele também disse que Brasil e Malásia precisam fortalecer as relações comerciais, observando que o fluxo bilateral gira em torno de US$ 6 bilhões por ano. “Não é possível. Alguma coisa está errada, sabe, no nosso comportamento”, declarou o presidente.
Segundo Lula, o valor é baixo diante do potencial dos dois países. Ele defendeu maior empenho de governos e empresários para ampliar as trocas econômicas.
“Vamos sair daqui com a missão. E a nossa missão é muito responsável. Nós precisamos da Malásia e a Malásia precisa do Brasil. E quem tem que cuidar disso somos nós. Ninguém está preocupado com a Malásia como vocês. Ninguém está preocupado com o Brasil como nós. Então, nós temos que juntar nossas preocupações. Saber o que nós temos de similaridade”, disse.








