Exclusivo: Malafaia diz que procurou ministro do STF em busca de pacificação
Em entrevista ao SBT, pastor revelou conversa com integrante do Supremo no mesmo dia em que EUA suspenderam vistos de 8 ministros
Gabriel Passeri
Dois dias após ser abordado por policiais federais no Aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, o pastor Silas Malafaia falou com exclusividade ao SBT sobre a operação de busca pessoal e apreensão de que foi alvo.
Em entrevista ao repórter Léo Sant’Anna, o pastor negou ter ajudado o deputado Eduardo Bolsonaro a pressionar os Estados Unidos por sanções contra o Brasil e ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
Malafaia é investigado no inquérito da Polícia Federal que apura tentativas de Jair Bolsonaro e do filho dele, Eduardo, de obstruir o julgamento do ex-presidente. Durante a entrevista, o pastor negou todas as acusações.
“Isso é uma falácia, de uma vergonha; todo esse inquérito que é uma farsa de pseudo golpe é sustentado em falácia. Se eu for preso, é simplesmente perseguição política, vergonhosa, ao arrepio da lei”, disse.
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Ao retornar de uma viagem a Portugal, Malafaia foi alvo de operação da PF e teve que entregar o passaporte, celulares e cadernos de anotações. As medidas cautelares foram autorizadas pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF. O pastor também está proibido de manter contato com Jair e Eduardo Bolsonaro e de deixar o país.
“Eu não sou bolsominion. Eu critico Bolsonaro, eu elogio, eu dou pancada em Eduardo e elogio. Mostra que eu sou independente. Isso é vergonha. Quer dizer que agora eu sou o mentor de Bolsonaro? Manda a Polícia Federal arrumar outra, porque isso é um cerceamento da minha liberdade”, afirmou. “Pergunte a qualquer jurista: para ter apreensão de passaporte, tem que ter prova de iminência de fuga. Como, se eu estava chegando do exterior, eu iria fugir? Isso é arbitrário, isso é covarde.”
A Polícia Federal recuperou conversas entre Jair Bolsonaro e Malafaia no celular do ex-presidente. As mensagens foram trocadas em 9 de julho, mesmo dia em que o então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou o aumento de tarifas sobre produtos brasileiros. O inquérito aponta que Malafaia e outros investigados discutiam a possibilidade de sanções contra ministros do STF e seus familiares.
“O que o Eduardo fez foi tentar recorrer para uma resposta. Qual é o problema? Agora, eu ser a favor de sanções para o meu país? Isso é uma brincadeira. O que eu falei, eu repito aqui: ‘é presidente, agora eles vão ver o que é bom pra tosse’. Qual é o problema de eu comentar isso? Nenhum”, declarou.
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O pastor disse ainda que entrou em contato com um ministro do STF para tentar uma aproximação e que disse a esse ministro que não concordava com sanções contra integrantes da Corte. No mesmo dia, o governo Trump anunciou a revogação dos vistos de oito magistrados do Supremo.
“Eu falei com um ministro, um grande ministro do STF. Eu disse: ‘vamos sentar para conversar, buscar um caminho, isso não vai dar certo antes de sanções’. Não foi o André, só digo que não foi ele porque é evangélico. Foi outro ministro, poderoso do STF, com quem eu tenho contato. Eu disse: ‘isso não vai dar certo. Eu não sou a favor de sanções contra ministros do meu país. Vamos buscar um caminho de paz’.”
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Malafaia voltou a criticar Alexandre de Moraes e disse ser vítima de perseguição.
“Vai chegar a hora de ele sofrer um impeachment, pelas vias legais. Eu tenho risco total de ser preso porque o ditador da toga, como chamo Alexandre de Moraes, prende quem ele quer, rasga a Constituição a seu bel-prazer. E ele foi feito para zelar por ela. Eu combato isso. Só que a pior coisa da vida para alguém é lutar com outro que não tem medo da guerra.”
O pastor também comentou, com ironia, as críticas recebidas nos últimos dias pelo uso de palavrões em conversas com Bolsonaro.
“Aí alguém disse: ‘olha, o pastor falou babaca, falou m****’. Gente, eu também falo. De vez em quando eu exagero. É o meu jeito, eu sou aberto, sou franco”, afirmou.
Procurado pela reportagem do SBT, o STF não se manifestou sobre a informação de que Malafaia procurou um ministro da Corte em busca de pacificação.
O Supremo também informou que não vai se manifestar sobre as falas do pastor em relação o ministro Alexandre de Moraes.