“É possível gostar de Moraes e de Bolsonaro”, diz advogado de Garnier em julgamento no STF
Demóstenes Torres pediu a anulação da delação de Mauro Cid e acusou a PGR de ampliar acusações contra o ex-comandante da Marinha
Jessica Cardoso
O advogado Demóstenes Torres, que representa o almirante Almir Garnier, ex-comandante da Marinha, arrancou risos durante o julgamento da tentativa de golpe de 2022 no Supremo Tribunal Federal (STF) ao dizer que nutre simpatia tanto pelo ministro Alexandre de Moraes quanto pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
“É possível gostar do ministro Alexandre de Moraes e, ao mesmo tempo, gostar do ex-presidente Jair Bolsonaro? Sim, sou eu. Se o Bolsonaro precisar que eu leve cigarro para ele em qualquer lugar, conte comigo. Ele é uma pessoa que eu gosto”, afirmou nesta terça-feira (2).
Durante suas declarações de defesa, Torres também pediu a anulação da delação premiada de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. Ele classificou os depoimentos como contraditórios e desleais: “Os vícios comprometem a credibilidade integral dos seus relatos”, afirmou.
O advogado também contestou a posição do procurador-geral da República, Paulo Gonet, que defendeu manter a delação de Mauro Cid, mas com menos benefícios. Para Demóstenes Torres, não faz sentido validar os depoimentos se o acordo for anulado.
“Hoje eu vi uma ginástica feita pelo procurador-geral para tentar dizer que, se ela for rescindida, os fatos permanecem hígidos. Para quem? Só se for para a acusação”, declarou.
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Além disso, a defesa acusou a PGR de extrapolar a denúncia ao incluir fatos não previstos, como o desfile de blindados da Marinha e a ausência de Garnier na posse dos novos comandantes das Forças Armadas. Para Torres, isso viola o princípio da congruência.
Ele também afirmou que a acusação contra o ex-comandante carece de individualização das condutas.
"É preciso que haja o nexo causal individualizado. Não pode acontecer de se ter uma narrativa globalizante. Todo processo tem que ter uma individualização. Embora o crime seja multitudinário, no caso daqueles que supostamente fazem parte desse núcleo, tem que se deixar claro exatamente o que foi que eles fizeram”, afirmou.