Cid diz que Braga Netto operava plano de golpe e que Bolsonaro sabia de tudo
Ministro Alexandre de Moraes derrubou sigilo dos depoimentos do ex-ajudante de ordens
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Vinícius Nunes
O tenente-coronel Mauro Cid afirmou, em depoimento à Polícia Federal (PF), que o ex-ministro e general Walter Braga Netto era o operador dos planos de golpe de Estado e dos atentados contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o vice Geraldo Alckmin (PSB) e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.
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De acordo com a oitiva realizada em 5 de dezembro de 2024, Cid declarou que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tinha conhecimento de todo o esquema para se manter no poder.
A Procuradoria-Geral da República (PGR), ao apresentar a denúncia contra Bolsonaro, na terça-feira (18), já havia apontado que o ex-presidente sabia dos planos golpistas. Segundo o texto, a tentativa de golpe foi "arquitetada e levada ao conhecimento do Presidente da República, que a ele anuiu, ao tempo em que era divulgado relatório em que o Ministério da Defesa se via na contingência de reconhecer a inexistência de detecção de fraude nas eleições".
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O depoimento de Cid reforça essa denúncia, ao confirmar que Bolsonaro estava ciente dos documentos apresentados aos comandantes militares. No entanto, ele disse não saber se o ex-presidente teve acesso direto à minuta encontrada com o general Mário Fernandes, conhecida como "Punhal Verde e Amarelo".
"Conforme já detalhado em depoimento anterior do colaborador, foi nessa reunião do dia 7 de dezembro [de 2022] que o então Presidente Jair Bolsonaro mostrou aos Comandantes a denominada 'Minuta do Golpe', não tendo recebido apoio dos Comandantes do Exército e da Força Aérea, pois somente o Comandante da Marinha aderiu à proposta. Essa informação foi recebida pelo colaborador diretamente pelo General Freire Gomes, Comandante do Exército, logo após a reunião", diz o depoimento de Cid.
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Ainda segundo Cid, Braga Netto, vice na chapa de Bolsonaro em 2022, foi o principal articulador da operação. O ex-ministro da Casa Civil e da Defesa teria atuado ativamente para obstruir as investigações e financiar ações relacionadas ao plano "Punhal Verde e Amarelo".
Cid revelou que, em 12 de novembro de 2022, houve um encontro na residência de Braga Netto para discutir detalhes da tentativa de interferência no resultado das eleições. Ele também afirmou que o general obteve e entregou os recursos necessários para executar a operação.
Moraes libera depoimentos
O ministro Alexandre de Moraes determinou, nesta quarta-feira (19), a retirada do sigilo da delação premiada de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro.
A decisão foi tomada poucas horas depois de a PGR apresentar denúncia contra Bolsonaro e outras 33 pessoas por tentativa de golpe de Estado. Com isso, o conteúdo da colaboração de Cid se tornou público.
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No documento, Moraes também notificou os denunciados, determinando que recebam cópias da denúncia, da íntegra da colaboração premiada e da decisão judicial. As defesas têm 15 dias para se manifestar por escrito.