Barroso se defende de críticas por proximidade com setor empresarial
Ministro disse não mudar de opinião sobre casos em julgamento por aproximação com iniciativa privada

Paola Cuenca
Prestes a deixar a presidência do Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro Luis Roberto Barroso conversou com jornalistas nesta sexta-feira (26) sobre os dois anos à frente da Corte e se defendeu das críticas por se reunir em jantares e eventos com empresários de grandes empresas.
Em maio deste ano, Barroso participou de um jantar na casa do presidente do Ifood, Diego Barreto, dedicado a arrecadar contribuições para a iniciativa, desenvolvida no Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que oferta bolsas de estudo para pessoas negras candidatas a vagas na magistratura.
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Como presidente do STF, o ministro também assumiu a presidência do CNJ e liderava o projeto.
Barroso negou que a relação com empresários, que doaram para o projeto, influencie julgamentos de forma a favorecer causas da iniciativa privada.
"De fato, os empresários têm interesse no Supremo porque todo mundo tem interesse no Supremo. As comunidades indígenas têm interesse no Supremo, o sindicato dos trabalhadores tem interesse no Supremo, o sindicato dos patrões, os parlamentares, comunidades indígenas. Se eu for ter receio de interagir com as pessoas que tem interesse no Supremo, eu teria que ficar totalmente trancado no meu gabinete", disse.
"É fato que os empresários têm mais poder econômico do que esses outros atores. Mas eu não acho que isso tenha feito diferença para as decisões do Supremo. A gente contraria empresários quando tem que contrariar e decide a favor, quando tem que decidir. Nós decidimos a favor dos empresários no tema da terceirização, que é uma forma de contratação que permaneceu em muitas partes do mundo e que facilita a vida. Mas, depois, decidimos contra os empresários relativamente ao dever de pagar a contribuição social sobre lucro. De modo que não tem isso. A gente recebe todo mundo", disse o ministro.
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Barroso ainda disse acreditar que há preconceito no Brasil sobre a iniciativa privada.
"É o preconceito que a gente não superou inteiramente. Em parte, porque na formação do Brasil, quando você teve o processo de início de industrialização no Brasil, você tinha, de fato, favorecimentos, você tinha golpes do mercado, você tinha financiamentos aos amigos, mas isso progressivamente foi mudando. Eu acho que hoje a iniciativa privada brasileira tem empreendedores relevantes, pessoas que investem, pessoas que correm risco, pessoas que geram riqueza, pessoas que criam empregos, só que eu não tenho nenhum preconceito contra a iniciativa privada. A história demonstrou que eles geram mais riqueza. O que é ruim no Brasil é o sistema tributário que distribui mal as riquezas", concluiu.