Tarcísio recua e diz que era "uma pessoa completamente errada" por criticar câmeras em fardas de PMs
Governador de São Paulo disse ainda que programa deve ser ampliado; estado teve registros de abusos policiais nos últimos dias
Emanuelle Menezes
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), declarou nesta quinta-feira (5), que "era uma pessoa completamente errada" ao criticar o uso de câmeras corporais por agentes da Polícia Militar no estado. A declaração acontece após casos de abusos de agentes virem à tona.
"Eu era uma pessoa que estava completamente errada nessa questão [das câmeras corporais]. Eu tinha uma visão equivocada, fruto da experiência pretérita que eu tive, que não tem nada a ver com a segurança pública. Hoje, eu estou absolutamente convencido que é um instrumento de proteção da sociedade e do policial", disse.
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A declaração foi dada durante uma visita a obras da futura estação Santa Clara do Metrô, na Zona Leste da capital paulista. Ainda segundo Tarcísio, o programa de câmeras corporais deve ser ampliado, trazendo "o que tem de melhor em termos de tecnologia".
Os policiais de São Paulo já usam os equipamentos nas fardas, mas se preparam para uma mudança que deve começar no dia 17 de dezembro. As novas câmeras acopladas nos coletes à prova de tiros podem ser ligadas pelo Copom, por sistemas configurados por geolocalização e pelos próprios militares. Ou seja, os policiais poderão escolher quando ligar e desligar o botão de filmagem. Atualmente, os dispositivos usados gravam o turno do policial militar sem interrupções.
Tarcísio defendeu a mudança, dizendo que o modelo é utilizado em outros países. "Nós não estamos inventando nada. Não é nossa ideia, de maneira nenhuma, fazer com que a gente afrouxe a política", disse.
A mudança no tom adotado por Tarcísio, que foi um crítico ferrenho do dispositivo durante a campanha eleitoral de 2022, acontece um dia antes do fim do prazo para que o governo de São Paulo se explique ao Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o uso de câmeras corporais por PMs. O pedido de esclarecimento foi feito no contexto de uma ação da Defensoria Pública do estado, que busca reverter a decisão do Tribunal de Justiça que suspendeu o uso obrigatório dos equipamentos.
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Truculência policial "mancha" instituição
Para o governador, os recentes casos de truculência policial – flagrados em vídeos que repercutiram nas redes sociais, entre autoridades e entidades de direitos humanos – mancham a instituição. Segundo ele, a Polícia Militar "presta um bom serviço", é formada por "excelentes profissionais" e deve ser preservada.
"Quando há esses casos, isso mancha demais a instituição. Isso agride a gente e é hora de ter humildade e dizer que alguma coisa não está funcionando. O discurso de segurança jurídica, que a gente precisa dar para os profissionais de segurança pública para combater de forma firme o crime, não pode ser confundido com salvo-conduto para fazer qualquer coisa, para descumprir regra. Isso a gente não vai tolerar", afirmou.
Tarcísio disse ainda que seu discurso pode ter sido mal interpretado e que serão necessárias readequações e novas diretrizes, além de muita conversa com os comandos. Entretanto, negou que fará mexidas na alta cúpula da Segurança Pública do estado. "Tenho um excelente comandante da PM, tenho bons quadros", disse.
Na quarta-feira (4), o governador defendeu o secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite, e afirmou que ele permanece no cargo.