Polícia identifica postos onde família comprava etanol para fabricar bebidas
Parentes do ABC paulista são apontados como responsáveis por três mortes por intoxicação no estado
Emanuelle Menezes
A polícia identificou nesta sexta-feira (17) os postos de combustíveis onde uma família comprava etanol para fabricar e vender bebidas alcoólicas em São Paulo. A ação foram cumpridos sete mandados de busca e apreensão.
O grupo familiar é chefiado por Vanessa Maria da Silva, presa no último dia 10, quando a fábrica clandestina da família foi fechada.
De acordo com as investigações, Vanessa, o marido, o pai e o cunhado dela, além de outros colaboradores, foram diretamente responsáveis pela intoxicação de pelo menos três pessoas. O marido de Vanessa é apontado como figura conhecida no meio da falsificação de bebidas.
A polícia apurou que o grupo comprava etanol em dois postos de combustíveis, localizados em Santo André e São Bernardo do Campo, para misturar às bebidas que revendia ilegalmente. " Eles compravam etanol que, mais tarde, descobrimos estar contaminado com metanol", diz Artur José Dian, delegado da Polícia Civil de São Paulo.
Os postos de combustíveis usados na fraude não pertencem à mesma rede e não foram alvo da operação Carbono Oculto, da Polícia Federal, que investiga adulteração de combustíveis com metanol.
A Polícia Civil de São Paulo afirma não haver indícios de envolvimento do crime organizado nos casos de contaminação.
O marido e o pai de Vanessa já tinham antecedentes por falsificação de bebidas, mas, até o momento, ela é a única presa na operação. A investigação também identificou a participação de um garrafeiro, responsável por adquirir etanol em um dos postos e auxiliar na adulteração.
Mandados de busca e apreensão foram cumpridos em três endereços ligados a ele e em dois locais pertencentes ao irmão. A polícia apreendeu materiais e insumos usados na produção das bebidas clandestinas.
A principal linha de investigação aponta que a fábrica da família fornecia as bebidas contaminadas a outros pontos de venda. Os investigadores agora tentam descobrir se há ligação entre o grupo e os demais casos de intoxicação registrados no estado.
A família nega ter conhecimento de que o etanol usado estava misturado com metanol, mas, segundo o delegado-geral Artur Dian, ao comprar o produto para adulterar bebidas alcoólicas, o grupo assumiu o risco de causar mortes.
Casos em São Paulo
A ação desta sexta-feira é mais uma em meio às investigações sobre os casos de intoxicação por metanol em São Paulo e outros estados. O produto químico, usado indevidamente na adulteração de bebidas alcoólicas, é altamente tóxico para humanos e, mesmo em pequenas quantidades, pode causar cegueira, falência de órgãos e morte.
Ao todo, o estado contabiliza 33 casos confirmados, com 6 óbitos, e 57 em investigação. Uma força-tarefa formada pela Polícia Civil, Vigilância Sanitária e Procon-SP já interditou 15 estabelecimentos, apreendeu mais de 21,4 mil garrafas suspeitas e 480 mil rótulos para bebidas. 57 pessoas envolvidas em falsificações foram detidas, sendo 36 delas desde o dia 29 de setembro.
Intoxicação por metanol
A intoxicação por metanol é uma emergência médica de extrema gravidade. A substância, quando ingerida, é metabolizada no organismo em produtos tóxicos (como formaldeído e ácido fórmico), que podem levar ao óbito. Os principais sintomas são: visão turva ou perda de visão (podendo chegar à cegueira) e mal-estar generalizado (náuseas, vômitos, dores abdominais, sudorese).
Em caso de identificação dos sintomas, o Ministério da Saúde recomenda buscar imediatamente os serviços de emergência médica e contatar pelo menos uma das seguintes instituições:
- Disque-Intoxicação da Anvisa: 0800 722 6001;
- CIATox da sua cidade para orientação especializada (Contatos disponíveis em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/a/animais-peconhentos/ciatox );
- Centro de Controle de Intoxicações de São Paulo (CCI): (11) 5012-5311 ou 0800-771-3733 – de qualquer lugar do país.