Megaoperação em 8 estados mira esquema bilionário de facção no setor de combustíveis
Mais de 350 alvos são suspeitos de crimes como adulteração de combustíveis, lavagem de dinheiro e estelionato; grupo movimentou R$ 52 bilhões em 4 anos
Emanuelle Menezes
Uma megaoperação nacional cumpre, na manhã desta quinta-feira (28), mandados de busca, apreensão e prisão em oito estados para desarticular um esquema bilionário de fraude no setor de combustíveis comandado por integrantes da facção Primeiro Comando da Capital (PCC). Segundo a Receita Federal, o grupo movimentou R$ 52 bilhões em quatro anos.
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A ação, batizada de Operação Carbono Oculto, é tratada pelo órgão como a "maior operação contra o crime organizado da história do país em termos de cooperação institucional e amplitude". Ela mobiliza cerca de 1.400 agentes de instituições como o Ministério Público, a Polícia Federal e polícias estaduais, e acontece simultaneamente em São Paulo, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Paraná, Rio de Janeiro e Santa Catarina.
Mais de 350 alvos – entre pessoas físicas e jurídicas – estão na mira das autoridades, suspeitos de crimes como adulteração de combustíveis, fraudes fiscais, estelionato, lavagem de dinheiro e crimes ambientais. A apuração revelou a participação de integrantes do PCC, que usavam o setor para infiltração econômica.
Um dos principais eixos do esquema envolvia a importação irregular de metanol pelo Porto de Paranaguá (PR). O produto, altamente tóxico e inflamável, era desviado clandestinamente e usado para adulterar combustíveis em postos e distribuidoras. Além de risco ao consumidor e ao meio ambiente, a fraude gerava lucros bilionários para o crime organizado.
Mais de 300 postos de combustíveis foram identificados com irregularidades, incluindo fraudes quantitativas (venda de menos combustível que o informado) e qualitativas (adulteração fora dos padrões da ANP).
A investigação ainda aponta que donos de postos foram ameaçados de morte após venderem seus estabelecimentos e não receberem o pagamento.
Lavagem de dinheiro
O dinheiro ilícito circulava por uma complexa rede de empresas de fachada, fundos de investimento e fintechs controladas por criminosos, dificultando o rastreamento. A Receita Federal identificou que uma fintech de pagamento atuava como "banco paralelo" da organização criminosa, tendo movimentado mais de R$ 46 bilhões de 2020 a 2024.
O dinheiro de origem ilícita foi usado para investir em negócios, propriedades e outros investimentos através de fundos de investimentos que recebiam recursos da fintech, dificultando a rastreabilidade e dando uma aparência de legalidade. Ao menos 40 fundos de investimentos (multimercado e imobiliários) controlados pela organização criminosa, com patrimônio de R$ 30 bilhões, já foram identificados.
Entre os bens adquiridos por esses fundos estão um terminal portuário, quatro usinas produtoras de álcool, 1.600 caminhões para transporte de combustíveis e mais de 100 imóveis, incluindo seis fazendas no interior de São Paulo, avaliadas em R$ 31 milhões, e uma residência de R$ 13 milhões em Trancoso (BA).