Facções brasileiras usam fazendas em países vizinhos de bunkers antipolícia
Interpol e PF monitoram fronteiras com Bolívia e Peru por risco de evasão de fugitivos do CV de penitenciária de Mossoró
No mesmo dia em que a fuga de dois presos da Penitenciária Federal de Mossoró (RN) foi descoberta e anunciada pela direção da unidade, a Interpol e a Polícia Federal entraram em alerta máximo para o risco de fuga do país dos dois fugitivos do Comando Vermelho.
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As buscas entraram no nono dia, nesta sexta-feira (23). Cem homens da Força Nacional de Segurança chegaram a Mossoró na noite desta quinta-feira (22) para reforçar as equipes.
Deibson Cabral Nascimento, o Tatu, e Rogério da Silva Mendonça, o Querubim, fugiram da penitenciária de segurança máxima de Mossoró - uma das cinco unidades do país - na quinta-feira (15). Foi a primeira fuga da história das unidades federais, onde estão os criminosos de maior periculosidade e lideranças de facções.
No mesmo dia da fuga houve reforço do monitoramento da fronteira do Brasil com Bolívia, Peru e Colômbia e a inclusão na Difusão Vermelha da Interpol (lista de criminosos procurados internacionalmente) dos nomes dos dois membros do CV.
Deibson, como é conhecido um dos foragidos, é um dos mais violentos criminosos da filial do CV no Acre, que atuava na área da tríplice fronteira Brasil, Bolívia e Peru. , onde está a segunda mais importante porta de entrada da cocaína produzida nos países andinos, a Rota dos Solimões.
Por anos, Deibson esteve foragido e operante, segundo apurou o SBT News com a PF, usando a Bolívia como esconderijo. Em 2015, por exemplo, foi preso em Brasiléia, na fronteira com a Bolívia. Além de usar como esconderijo, ele teria envolvimento com crimes no país.
Bunkers
Nos últimos anos, os três principais produtores da cocaína - Bolívia, Peru e Colômbia - e o Paraguai passaram a ser usados como esconderijo de criminosos, ligados não só ao CV, mas ao PCC e outras facções, como a FDN (Família Do Norte).
As investigações da PF nas áreas de fronteira seca do Brasil com esses países identificaram propriedades compradas pelos criminosos, em especial na Bolívia e no Paraguai, para a produção das drogas. Locais que passaram a ser usadas como bunkers de lideranças e de células de elite das facções.
Como no caso dos membros do PCC envolvidos no plano para atacar e sequestrar o senador Sérgio Moro (União-PR). Um dos líderes, Janeferson Aparecido Mariano, o Nefo, estava escondido em propriedade do PCC na Bolívia, onde a facção tem a maior parte de sua produção de cocaína.
As investigações da PF do Paraná mostraram também que dois dos cinco líderes da célula Restrita 05 - grupo que executa ações sensíveis - usavam telefones da Bolívia.
PCC em guerra
Em 2018, uma das principais lideranças do PCC, Jeremias de Simone, o GG do Mangue, que cuidava do tráfico internacional, foi executado no Ceará, de onde viajaria em fuga para a Bolívia, com outro líder, Fabiano Alves de Sousa, o Paca, em um helicóptero. Morte ordenada pela facção.
A execução é importante capítulo da guerra vivida dentro do PCC, que tem como protagonista Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola - preso em uma das penitenciárias federais.
Mais recentemente, na Operação Dakovo contra um dos maiores fornecedores de armas para o PCC e CV, Diego Hernán Dirísio, mostrou conversas por aplicativo de uma liderança da facção paulista, que pode estar escondido em uma fazenda na Bolívia, e combina uma visita ao Paraguai para conferir uma plantação de maconha.
Marcos Paulo Nunes da Silva, mais conhecido no mundo do crime como Baianinho Vietnã ou Djaga, negocia a compra de fuzis, metralhadores e pistolas no esquema do Senhor das Armas - preso pela polícia na Argentina, depois de quase dois meses foragido. Nas tratativas ele envia fotos da droga e da propriedade.
"Houve uma evolução, quando criaram a conexão Bolívia, Brasil, PCC, o narcosul", explicou o procurador de Justiça Márcio Christino, do Ministério Público de São Paulo. O Paraguai é um país que há décadas produz e vende maconha e vem daí a conexão do PCC, inicial, em seu processo de internacionalização. É também por onde passa a maior parte da cocaína que a facção produz na Bolívia, traz para o Brasil para venda local e para envio para a Europa, o atual grande negócio atual da facção",
"Solidificou hoje a Bolívia como o principal destino dos foragidos", afirmou Christino, especialista no tema PCC, autor de livro sobre a facção e um dos pioneiros do grupo do MP paulista que combate o crime organizado.
O caminho para o enfrentamento ao problema, segundo ele, é a cooperação internacional entre os países. "A cooperação internacional está se desenvolvendo. Mas por quê? Porque a aliança criminosa internacional se solidificou, então é uma reação necessária."
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