Facção criminosa usava padarias de luxo em São Paulo para lavar dinheiro
Ao menos seis estabelecimentos aparecem em investigações; operação da PF revela ligação com o tráfico de drogas e o uso de laranjas no esquema
Fabio Diamante
Robinson Cerantula
Pelo menos seis padarias de alto padrão e grande movimento em São Paulo estariam sob o controle de integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC). Uma delas, localizada no Brooklin, na zona sul da capital, só não estava lotada nesta terça-feira (2) devido a um pequeno incêndio na cozinha.
As demais ficam em Osasco, na Grande São Paulo, além das regiões central, norte e leste da cidade, todas seguindo o mesmo padrão de funcionamento.
As descobertas foram feitas durante as operações Carbono Oculto e Tank, da Polícia Federal e do Ministério Público de São Paulo. O foco principal das investigações era a participação bilionária do PCC no comércio de combustíveis adulterados no país.
Ao rastrear empresas e empresários ligados ao esquema, os agentes identificaram também padarias e lojas de conveniência sob suspeita. A origem do dinheiro, segundo os investigadores, vem do tráfico de drogas.
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PCC usa empresas lícitas para lavar dinheiro
A Polícia Federal pediu à Justiça o bloqueio de bens e valores das empresas ligadas à facção, incluindo as padarias. Para evitar que os bloqueios judiciais provoquem desemprego, os investigadores solicitaram ainda a nomeação de administradores judiciais para a gestão dos estabelecimentos.
Esse cenário mostra algo ainda mais grave: o crime organizado no Brasil utiliza também negócios lícitos para lavar dinheiro e que geram empregos.
Outro indício da entrada do PCC no setor é o uso de laranjas. No papel, uma das donas dos estabelecimentos é Ellen Bianca de Franca Santana Resende, de 31 anos, funcionária pública em Santo Amaro das Brotas, cidade de 11 mil habitantes no interior de Sergipe.
Ellen trabalha como cuidadora em uma clínica municipal que atende crianças e adolescentes, com salário de R$ 1.428. Além de aparecer como proprietária de padarias, ela já foi titular de dez empresas de postos de combustíveis. A investigação também cita outra laranja: Maria Edenize Gomes, vizinha de Ellen.
As padarias estão ligadas ao núcleo de Mohamed Hussein Mourad, conhecido como “Primo”. Ele é apontado como um dos chefes do esquema do PCC com postos de combustíveis e está foragido.
Outro lado
Procuradas, nenhuma das seis padarias respondeu aos nossos contatos. A prefeitura de Santo Amaro das Brotas também não nos retornou. Também não conseguimos localizar as defesas de Mohamed Hussein Mourad, Ellen Bianca Resende e Maria Edenize Gomes.