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Polícia

Exclusivo: PM suspeito de matar marceneiro negro reprovou em teste psicológico

Policial alegou que ter confundido inocente com assaltante; no passado, PM prestou concurso para Polícia Científica mas foi considerado inapto psicologicamente

Imagem da noticia Exclusivo: PM suspeito de matar marceneiro negro reprovou em teste psicológico
Guilherme Souza Dias, que foi morto por PM após sair do trabalho na zona sul de SP | Reprodução
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O policial militar Fábio Anderson Pereira de Almeida, suspeito de ter matado um trabalhador que corria para pegar um ônibus em Parelheiros, na zona sul de São Paulo, reprovou em um teste psicológico durante um concurso da Polícia Científica do Paraná. Na ocasião - final de 2023 - ele prestou concurso público para o cargo de auxiliar de perícia oficial, mas foi considerado inapto psicologicamente por três motivos: falta de concentração, resistência à frustração e trabalho em equipe.

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Fábio recorreu administrativamente e entrou na Justiça contra o estado, solicitando análise do exame e uma nova perícia. Em maio deste ano, o juiz Diego Santos Teixeira indeferiu um novo exame e aceitou que os documentos do teste original fossem apresentados. A defesa do policial tem até este mês para entrar com recurso.

Resultado do teste psicológico de PM Sérgio na Polícia Científica do Paraná - Reprodução
Resultado do teste psicológico de PM Sérgio na Polícia Científica do Paraná - Reprodução

Segundo o psiquiatra forense Guido Palomba, um dos principais especialistas nesta área no Brasil, testes psicológicos que são realizados para o ingresso das forças de segurança pública são simples, frágeis e fáceis de serem burlados. "O que mais espanta é justamente um agente ter sido reprovado”, avalia Polomba.

O especialista afirma que o laudo realizado em 2023 sobre Fábio Anderson Pereira de Almeida traz indícios de um comportamento de saúde mental atípico, com os quesitos de concentração e frustração reprovados.

Já Fernando Capano, doutor em Direito do Estado e Justiça Social e presidente da Associação Paulista da Advocacia Militarista, destaca a necessidade de um rigor maior para procedimentos de avaliação psicológica em relação a cargos de segurança e, principalmente, para integrantes da Polícia Militar.

“Se esse mecanismo fosse robustecido, haveria sim a possibilidade da gente detectar de maneira prévia uma questão envolvendo um ou outro policial militar não só para restabelecer a saúde mental desse sujeito que eventualmente tem uma ou outra questão psicológica. Imagine o que é estar inserido dentro de uma corporação militar, cujo pressuposto é trabalhar na lógica da hierarquia, da disciplina e sofrendo um desgaste emocional bastante grande, bastante agudo”, afirma.

Policial militar que atirou e matou o marceneiro Guilherme Dias Ferreira | Reprodução
Policial militar que atirou e matou o marceneiro Guilherme Dias Ferreira | Reprodução

Relembre o caso

O policial Fábio Anderson Pereira de Almeida havia sido vítima de tentativa de assalto e alega ter confundido o trabalhador Guilherme Dias Ferreira, de 26 anos, com o criminoso. Ele atirou contra a cabeça da vítima, que morreu. O caso aconteceu na noite da última sexta-feira (4).

A prisão do PM Fábio, por sua vez, foi realizada no sábado (5), mas ele foi liberado após pagar R$ 6,5 mil de fiança. Ele deve responder pelo caso em liberdade.

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Segundo o boletim de ocorrência, Fábio alegou que tinha matado uma pessoa em reação à tentativa de assalto. No decorrer da investigação, ainda no dia do crime, a história ganhou novos contornos. Ao chegar ao local para periciar a vítima, a Polícia Científica encontrou na mochila de Guilherme itens como celular, talheres e uma marmita. Logo depois, colegas de trabalho da vítima chegaram ao local e mostraram um circuito da câmera de segurança em que o jovem saiu do trabalho sete minutos antes de ser morto a cerca de 50 metros do ponto de ônibus.

Além do vídeo, o jovem, que acabara de casar, também postou uma foto em aplicativo de mensagem com a legenda “mais um dia concluído”, que serviu como base para a conclusão da Polícia Civil.

Desta foram, Guilherme saiu da condição de suspeito para a de vítima. O boletim final do caso informa que o PM Fábio Anderson "provavelmente acreditou que se tratava de um dos criminosos que o haviam abordado".

De acordo com os investigadores, o policial agiu por erro de "percepção", afastando a hipótese de legítima defesa. O PM foi autuado por homicídio culposo, quando não há intenção de matar. A pistola Glock calibre 40 utilizada, pertencente à Polícia Militar, foi apreendida.

A Polícia Militar informou, na segunda-feira (7), que afastou o agente Fábio Anderson Pereira de Almeida dos serviços operacionais. O SBT não localizou a defesa do PM. O espaço para manifestação está aberto.

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