Corinthians: Augusto Melo entrou em contradição durante depoimento no caso VaideBet; ele está indiciado
Presidente do Clube foi indiciado por furto, lavagem de dinheiro e associação criminosa, por envolvimento em suposto esquema de desvio de quase R$1,5 milhão
Fabio Diamante
Robinson Cerantula
O presidente do Corinthians, Augusto Melo, indiciado na quinta-feira (22) por furto, lavagem de dinheiro e associação criminosa, entrou em contradição em depoimento à Polícia Civil, na investigação sobre a participação dele em um suposto esquema com a empresa de apostas esportivas VaideBet e o clube.
Para a polícia, não resta dúvida: o Corinthians foi vítima de um grupo criminoso que tem, no topo, o presidente Augusto Melo. Um relatório de análise de evidências e de investigação de 116 páginas detalha o indiciamento do presidente, Alex Fernando André, o Alex Cassundé, que trabalhou na campanha do presidente do Corinthians, e os ex-dirigentes do clube, Marcelo Mariano dos Santos e Sérgio Lara Muzel de Moura.
No relatório, o delegado Tiago Fernando Correia afirmou que o quarteto aliou-se de maneira estável, mirando a perpetração de uma série de crimes.
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O desvio de dinheiro aconteceu no contrato de patrocínio de 360 milhões de reais do clube com a Vai de Bet, assinado no ano passado. Segundo a Polícia, R$ 1,4 milhão foi desviado do pagamento de uma das parcelas, como forma de "comissão", que não estava prevista no contrato.
As quebras de sigilo bancário revelaram o caminho do dinheiro, que passou por empresas fantasmas e chegou a uma conta delatada por Antonio Vinicius Gritzbach a promotores de Justiça, meses antes de ser assassinado a mando de traficantes de drogas. A conta é da empresa UJ Football, apontada por ter uma suposta ligação com traficantes da facção criminosa Primeiro Comando da Capital, o PCC, que lavam dinheiro negociando jogadores.
Contradições
Além do caminho do dinheiro, a Polícia encontrou contradições nos depoimentos dos investigados. Uma delas, foi do próprio presidente. Ele disse que Marcelo e Alex Cassundé estiveram no clube, em dezembro de 2023, para falar do interesse da Vai de Bet em patrocinar o Corinthians.
Mas, segundo a investigação, a geolocalização do celular de Alex Cassundé, mostra que ele não esteve no Parque São Jorge naqueles dias. Isso aconteceu apenas no ano seguinte, em três ocasiões. Em uma delas, Alex Cassundé fez - dentro do Parque São Jorge - a transferência do dinheiro desviado para a conta de uma empresa fantasma.
O relatório final do inquérito será entregue ao Ministério Público na semana que vem. Augusto Melo e os dirigentes do Corinthians devem ser denunciados à Justiça na sequência. Mas, a investigação não termina aí. Pelo menos mais dez novos inquéritos serão instaurados para investigar empresas de fachada usadas para lavar dinheiro do crime no futebol brasileiro.
Sem renúncia
Em uma rede social, a Gaviões da Fiel pediu o afastamento de Augusto Melo. Em nota, a torcida argumenta que, "tal medida se faz necessária para preservar a imagem do Corinthians, que deve estar sempre acima de qualquer interesse pessoal, e evitar que os problemas que hoje recaem sobre o presidente impactem ainda mais o clube, que já enfrenta uma grave crise administrativa, financeira e institucional".
Mesmo sob risco de sofrer um impeachment, Augusto Melo alega inocência e afirma que não vai renunciar. Seu defensor, o advogado Ricardo Cury, disse que o presidente do Corinthians abriu mão do sigilo bancário e que vai comprovar a inocência dele.
Posicionamento dos investigados
A defesa de Marcelo Mariano informou que ele nunca teve qualquer benefício econômico envolvendo o contrato com a VaideBet.
O advogado de Sérgio Lara de Moura disse que não houve qualquer ação criminosa e que a inocência do cliente será comprovada.
A defesa de Alex Cassundé informou que só vai se manifestar depois de conhecer o teor da acusação.
A U-J negou qualquer envolvimento com atividades ilícitas.