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Polícia

Caso Gritzbach: quem são e quais crimes cometeram policiais alvos de operação

SBT News teve acesso à representação do Ministério Público de SP que embasou prisão de delegado e investigadores

Imagem da noticia Caso Gritzbach: quem são e quais crimes cometeram policiais alvos de operação
Delegado e quatro investigadores são investigados por envolvimento com o PCC | Reprodução
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Um delegado do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) e três investigadores da Polícia Civil foram presos, nesta terça-feira (17), em uma operação que investiga o envolvimento de agentes públicos com a facção Primeiro Comando da Capital (PCC). Um quarto investigador não foi encontrado.

O SBT News teve acesso à representação do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), do Ministério Público de São Paulo, que pediu a prisão temporária do delegado Fábio Baena e dos investigadores Eduardo Monteiro, Marcelo Ruggieri, Marcelo Marques e Rogério Felício – este considerado foragido da Justiça.

De acordo com a investigação, baseada na delação de Antônio Vinicius Gritzbach, empresário e delator morto a tiros no Aeroporto Internacional de Guarulhos (SP), os cinco policiais participavam de um esquema que beneficiava o PCC com informações privilegiadas de apurações policiais, milhões em propina e lavagem de dinheiro.

+ Delator assassinado: como começou relação entre empresário e PCC?

Veja quem é quem na denúncia do MP:

Eduardo Lopes Monteiro

Eduardo Monteiro | Reprodução
Eduardo Monteiro | Reprodução

Eduardo Lopes Monteiro é investigador da Polícia Civil e sobrinho da Corregedora Geral da Polícia Civil de São Paulo, Rosemeire Monteiro de Francisco Ibanez.

Em delação premiada, Gritzbach afirmou que, quando foi preso pela morte de Anselmo Santa Fausta, o "Cara Preta", em 2022, Monteiro e o delegado Fábio Baena fizeram uma ligação, ainda na viatura, comemorando e afirmando que essa seria uma "cana de bilhões" – em referência à possibilidade de extorsão.

Monteiro ainda teria recebido, junto com Baena, R$ 1 milhão para livrar César Trujillo, empresário que tem uma loja de carros na Zona Leste, da investigação de homicídio de Santa Fausta. No mesmo inquérito, o investigador e o delegado teriam recebido, cada um, R$ 5 milhões para não prenderem Rafael Maeda, o Japa, e Danilo, o Tripa, ambos ligados ao PCC.

O Ministério Público também conseguiu provas de que Monteiro, junto a outros policiais, furtou bens de alto valor (14 relógios de luxo, joias, telefones celulares, computadores, cheques e R$ 20 mil em espécie) durante buscas na casa de Gritzbach. Em uma conversa, encontrada no celular de outro investigador, Monteiro diz para ele: "pega meu relógio". O policial manda uma foto para Monteiro comprovando que estava em frente ao prédio do delator.

Conversa de Eduardo Monteiro com outro policial, que estava em frente ao condomínio de Gritzbach. "Pega meu relógio", disse ele | Reprodução
Conversa de Eduardo Monteiro com outro policial, que estava em frente ao condomínio de Gritzbach. "Pega meu relógio", disse ele | Reprodução

Outra prática ilegal realizada por Eduardo Monteiro e descrita pelo Ministério Público foi a "tomada" de um sítio na cidade de Biritiba Mirim (SP), que pertencia a Gritzbach e valia mais de R$ 1,5 milhão. O documento de compra e venda do imóvel havia sido apreendido pelos policiais durante buscas na casa do delator, mas a apreensão não teria sido formalizada. Os policiais teriam extorquido o dono para transferir a posse do imóvel para um terceiro.

Monteiro é sócio de uma empresa de construções e de uma loja de carros que, segundo o Ministério Público, possivelmente são usadas para lavagem de dinheiro. Na delação, Gritzbach disse que, em uma conversa, o próprio investigador afirmou que, se o COAF (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) analisasse suas movimentações financeiras, "ele iria preso".

Fábio Baena Martin

Fábio Baena | Reprodução
Fábio Baena | Reprodução

Delegado do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), Fábio Baena presidiu por boa parte do tempo o inquérito que apurou o homicídio de Santa Fausta, ocorrido em 2021.

Gritzbach, preso como mandante do crime, "passou a ter problemas com o DHPP" neste período, destaca o MP. Baena esteve envolvido, junto com Eduardo Monteiro, no furto de bens do empresário e no recebimento de milhões em propina no curso da investigação, segundo a delação.

O Ministério Público ainda aponta uma conversa em que o delegado pediu desculpas ao empresário pela conclusão do inquérito em que Gritzbach figurava como mandante do assassinato de "Cara Preta". Baena prometeu ajudá-lo, com a colaboração do investigador Eduardo Monteiro. Vídeos e áudios da conversa foram apresentados na delação premiada.

Marcelo Roberto Ruggieri, o "Xará"

Marcelo Ruggieri, o "Xará" | Reprodução
Marcelo Ruggieri, o "Xará" | Reprodução

Também policial civil, Marcelo Ruggieri foi quem apresentou Anselmo Santa Fausta ("Cara Preta"), Rafael Maeda e Emilio Carlos para Gritzbach. Segundo o MP, "Xará" usa "sua função de agente de segurança pública para transitar livremente no alto escalão do PCC".

Ruggieri foi condenado pelo Tribunal de Justiça de São Paulo, em outubro de 2024, por advocacia administrativa ao ajudar Santa Fausta a conseguir um documento de identidade falso emitido pelo Instituto de Identificação Ricardo Gumbleton Daunt (IIRGD), órgão da Secretaria da Segurança Pública.

No celular de Santa Fausta foram encontradas conversas com Ruggieri, o que, para os promotores, mostra que o policial mantinha vínculo com a alta cúpula do PCC. Segundo o MP, fica claro que o policial se vale "de sua função policial para servir o crime organizado" e "enriquecer ilicitamente".

Ainda de acordo com as investigações, Rafael Maeda pagou por um apartamento adquirido por Ruggieri e registrado em nome do filho dele.

Marcelo Marques de Souza, o "Bombom"

Marcelo Marques, o "Bombom" | Reprodução
Marcelo Marques, o "Bombom" | Reprodução

Outro investigador da Polícia Civil apontado pelo Ministério Público como integrante da organização criminosa, Marcelo Marques apresentava criminosos, com preferência para os com grande poder econômico, para as estruturas corruptas da Polícia Civil.

Marques usaria de diversas empresas, que estão em seu nome ou de seus familiares, para lavar o dinheiro ilícito da organização criminosa, "tanto que seu padrão de vida é de todo incompatível com a renda que formalmente aufere", diz o MP.

Foi para "Bombom" que Eduardo Monteiro e Fábio Baena ligaram para comemorar a prisão de Gritzbach como "cana de bilhões".

Rogério de Almeida Felício, o "Rogerinho"

Rogério Felício, o "Rogerinho" | Reprodução
Rogério Felício, o "Rogerinho" | Reprodução

Rogério de Almeida Felício, também investigador da Polícia Civil, cometeu uma "série de crimes funcionais", segundo o Ministério Público.

Quatro dos relógios de Gritzbach ficaram com "Rogerinho". Em delação, o empresário apresentou fotos do investigador com os objetos de luxo subtraídos dele. Somados, os quatro relógios estão avaliados em mais de R$ 460 mil.

Rogerinho em fotos com relógios subtraídos de Gritzbach | Reprodução
Rogerinho em fotos com relógios subtraídos de Gritzbach | Reprodução
"Nas imagens, percebe-se como Rogério ostenta sua vida luxuosa, propiciada por ganhos incompatíveis com sua função, retratando suas passagens em Miami (EUA), Zurique (Suíça), Mykonos (Grécia) e Portugal, justamente em ocasiões em que utilizava os relógios de luxo", diz o MP.

Ele participou, também, da "tomada" do sítio de Gritzbach em Biritiba Mirim (SP). Os promotores do Gaeco também destacam que Rogério é casado com Danielle Bezerra dos Santos, ex-mulher de Felipe Geremias dos Santos, o "Alemão", apontado como Sintonia do PCC.

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