Caso Gritzbach: Corregedoria prende PM acusado de matar delator do PCC
Corregedoria da Polícia Militar de SP faz operação nesta quinta-feira (16) para prender 15 policiais envolvidos com o PCC
Emanuelle Menezes
A Corregedoria da Polícia Militar de São Paulo prendeu nesta quinta-feira (16) o PM identificado como autor dos disparos que mataram o delator do PCC Antônio Vinícius Gritzbach, executado no Aeroporto de Guarulhos em novembro do ano passado.
A prisão faz parte da Operação Prodotes, que cumpre outros 14 mandados de prisão e sete de busca e apreensão contra policiais militares suspeitos de envolvimento com o Primeiro Comando da Capital. A ação conta com a participação da força-tarefa instituída pela Secretaria da Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP), que busca identificar outros envolvidos e eventuais mandantes do crime.
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Segundo informações obtidas pelo SBT News, os policiais – inclusive agentes da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar) – eram ligados a integrantes da facção criminosa, incluindo Anselmo Santa Fausta, o "Cara Preta", morto a mando de Gritzbach. Eles faziam a segurança e a escolta desses criminosos e, portanto, tinham interesse na morte do delator.
Segundo a SSP, os PMs passaram a ser investigados em março do ano passado, quando a Corregedoria recebeu uma denúncia sobre vazamentos de informações sigilosas que favoreciam criminosos ligados à facção.
Cerca de sete meses depois, a investigação evoluiu para um Inquérito Policial Militar (IPM), onde foi apurado que os envolvidos, entre militares da ativa, da reserva e até ex-integrantes da instituição, favoreciam integrantes do PCC, evitando prisões ou prejuízos financeiros.
Policiais civis presos
Em dezembro, um delegado do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) e quatro investigadores da Polícia Civil foram presos em uma operação que investigava o envolvimento de agentes públicos com o Primeiro Comando da Capital. A investigação foi baseada na delação de Gritzbach.
De acordo com o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), do Ministério Público de São Paulo, o delegado Fábio Baena e os investigadores Eduardo Monteiro, Marcelo Ruggieri, Marcelo Marques e Rogério Felício participavam de um esquema que beneficiava o PCC com informações privilegiadas de apurações policiais, milhões em propina e lavagem de dinheiro.
Morte de "Cara Preta"
Em dezembro de 2021, Gritzbach ordenou a morte de Anselmo Santa Fausta e do motorista Antônio Corona Neto, o "Sem Sangue", em uma emboscada no Tatuapé, na zona leste de São Paulo.
O crime teria acontecido depois do traficante do PCC ter entregue R$ 40 milhões ao empresário para que fossem investidos em criptomoedas. Após o investimento não dar certo e Anselmo perder o dinheiro, o líder do PCC fez diversas ameaças a Gritzbach. Em resposta, ele teria encomendado a morte do traficante com um pistoleiro, identificado como Noé Alves.
Cerca de 20 dias depois dos assassinatos, o responsável pelas mortes de "Cara Preta" e "Sem Sangue" foi executado pelo PCC. A facção deixou um bilhete ao lado do corpo de Noé – que foi esquartejado e teve a cabeça jogada no local da morte dos traficantes.
Delação premiada
Após o crime, Antônio Vinicius Gritzbach foi preso diversas vezes, até ser solto definitivamente em 7 de junho de 2023, quando ganhou liberdade condicional. Em junho de 2024, Gritzbach – que atuava como lavador de dinheiro da facção – fez um acordo de delação premiada com a Justiça em troca de redução de pena e revelou esquemas de lavagem de dinheiro do PCC.
Após revelar informações sigilosas sobre o PCC, o empresário passou a ser alvo de ameaças de morte pela facção criminosa. Por se sentir em risco, ele pediu mais segurança ao Ministério Público de São Paulo (MP-SP) e decidiu contratar policiais militares de forma particular para sua proteção.
O assassinato
Gritzbach foi assassinado em 8 de novembro de 2024, na saída do Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos. O delator foi executado com 29 tiros de fuzil. Ele desembarcava com a namorada após voltar de Maceió (AL).
No momento, o empresário estava acompanhado por apenas um segurança, já que outros dois não compareceram devido a um problema mecânico no veículo que utilizavam. Os policiais militares que faziam parte da equipe de segurança foram afastados das atividades operacionais. Eles tiveram os celulares apreendidos, assim como os dois carros usados na escolta da vítima.