Casa de Oruam virou "refúgio de foragidos", diz MPRJ; Justiça manda prender rapper
Artista foi indiciado por sete crimes, incluindo associação para o tráfico de drogas, após confusão em frente à mansão na zona oeste do Rio

Emanuelle Menezes
O Ministério Público do Rio de Janeiro afirmou nesta terça-feira (22), em representação pela prisão do rapper Oruam, que a casa dele se tornou um refúgio "de criminosos foragidos". O parecer do órgão foi acolhido pela juíza Ane Cristine Scheele Santos, do Plantão Judiciário do Tribunal de Justiça, que decretou a prisão preventiva do artista.
"A vinculação orgânica do representado [Oruam] com a organização criminosa Comando Vermelho, evidenciada pela reiterada utilização de sua residência como local de acoitamento de criminosos foragidos e pela ostentação pública de sua filiação à facção, demonstra que sua liberdade representa risco concreto e atual à segurança da coletividade", diz o MPRJ.
+ Justiça decreta prisão de rapper Oruam por ligação com facção criminosa
Ainda segundo a representação, o cantor incita a insurgência contra policiais por meio de suas redes sociais, "causando grave dano à ordem pública". "O comprometimento da ordem pública pela conduta do representado é evidente, à vista do ataque coordenado contra agentes públicos no exercício regular de suas funções", afirma o Ministério Público.
Na decisão, a magistrada Ane Cristine Scheele Santos aponta que há provas materiais de que Oruam cometeu um crime ao impedir, junto de amigos, a apreensão de um menor procurado por roubo e associação com o tráfico que estava na sua casa (saiba mais abaixo). O risco à ordem pública, à instrução criminal e a segurança dos agentes públicos também foi destacado no documento.

O rapper foi indiciado por desacato, resistência, ameaça, dano, lesão corporal, tráfico de drogas e associação para o tráfico. Na manhã desta terça, o secretário de Polícia Civil, delegado Felipe Curi, afirmou que Oruam é "um marginal, bandido, delinquente, criminoso e associado para o tráfico. Um bandido da pior espécie".
O SBT News tenta contato com a defesa de Oruam. O espaço segue aberto e, em caso de manifestação, a reportagem será atualizada.
Confusão no Joá
A confusão em frente à mansão do rapper, no bairro do Joá, na zona oeste do Rio, começou na noite de segunda-feira (21). Ele e um grupo de amigos xingaram e atiraram pedras em agentes – incluindo o delegado Moysés Santana, da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) – que foram ao local para apreender o adolescente "Menor Piu", de 17 anos. Contra o jovem, havia um mandado de busca e apreensão por atos infracionais análogos ao tráfico de drogas e crimes patrimoniais, expedido pela Vara da Infância e Juventude.
"Menor Piu" é apontado pelo secretário de Polícia Civil, delegado Felipe Curi, como um dos maiores ladrões de carros do estado e segurança do traficante Edgar Alves de Andrade, o "Doca", chefe do tráfico de drogas no Complexo da Penha.
"Se alguém tinha alguma dúvida de que o Oruam é um artista periférico ou um marginal, hoje nós temos a certeza de que se trata de um bandido da pior espécie, associado à facção criminosa Comando Vermelho, da qual o pai dele [Marcinho VP] é o chefe e controla a distância, de fora do estado, mesmo estando acautelado em presídio federal", disse o secretário de Polícia Civil na manhã de hoje.
Depois do ocorrido, Oruam teria buscado refúgio no Complexo da Penha. "Quero ver você vir aqui, me pegar dentro do Complexo. Não vai me pegar, sabe por causa de quê? Vocês peida!", disse em um vídeo publicado no Instagram.
Essa é a segunda vez que um foragido da Justiça é encontrado no interior da residência do cantor. Em fevereiro, agentes cumpriam dois mandados de busca e apreensão em endereços ligados a ele quando encontraram o traficante Yuri Pereira Gonçalves, procurado pelo crime de organização criminosa, na mansão do Joá. Com o suspeito, conhecido como "Batata", foram encontradas uma pistola 9mm com kit rajada, de uso restrito e com numeração raspada, além de munições.
Quem é Oruam

O rapper Mauro Davi dos Santos Nepomuceno, o Oruam, é filho de Marcinho VP, um dos chefes do Comando Vermelho, condenado a 44 anos de prisão por crimes, como homicídio, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Aos 24 anos, o músico se destaca pelo estilo de vida ostentador e tem mais de 10 milhões de ouvintes mensais no Spotify.
Apesar do laço familiar, o cantor nega ligações com o crime organizado e o tráfico de drogas no Rio de Janeiro. "Tudo o que eu conquistei foi com minha música", disse Oruam em vídeo publicado nesta madrugada.
Ativo nas redes sociais, ele tem mais de 2,1 milhões de seguidores em sua conta reserva no Instagram. O perfil principal foi derrubado. Seus fãs, a "Tropa do Oruam", são fiéis e o acompanham para todo canto – incluindo na delegacia. Em fevereiro, quando foi levado para a Cidade da Polícia, saiu do local sob gritos e aplausos dos admiradores.
O artista vem se envolvendo em polêmicas desde 2024, quando pediu a liberdade do pai durante uma apresentação no festival de música Lollapalooza. À época, ele foi duramente criticado, mas se explicou dizendo que havia feito apenas um "desabafo".
"Meu pai errou, mas está pagando pelos seus erros e com sobra. Não tentem tirar de uma pessoa o direito de reivindicar condições melhores para o seu pai, e nem de querer vê-lo em liberdade", disse o músico na época.
Neste ano, uma vereadora de São Paulo protocolou um Projeto de Lei para impedir que a prefeitura da cidade contrate shows de artistas que fazem supostamente apologia às drogas e ao crime organizado. O projeto, conhecido como "Lei anti-Oruam", também acabou protocolado na Câmara Municipal do Rio de Janeiro.