Justiça decreta prisão de rapper Oruam por ligação com facção criminosa
Secretário de Polícia Civil do Rio havia dito que indiciaria o cantor por 7 crimes após confusão em frente à mansão do artista

Bruna Carvalho
Emanuelle Menezes
Eduardo Coelho
A Justiça do Rio de Janeiro decretou a prisão preventiva do rapper Mauro Davi dos Santos Nepomuceno, o Oruam, nesta terça-feira (22). O artista foi indiciado por desacato, resistência, ameaça, dano, lesão corporal, tráfico de drogas e associação para o tráfico. A decisão foi tomada com base no "risco ao convívio social e paz pública" promovidos pelo cantor. A informação foi confirmada pelo SBT com a Polícia Civil e, mais tarde, pelo Tribunal de Justiça (leia nota do TJRJ abaixo).
Na decisão, a juíza Ane Cristine Scheele Santos, do Plantão Judiciário do TJRJ, acolhe a representação do Ministério Público, que apontou que há provas materiais de que Oruam cometeu um crime ao impedir, junto de amigos, a apreensão de um menor procurado por roubo e associação com o tráfico que estava na sua casa (saiba mais abaixo). O risco à ordem pública, à instrução criminal e a segurança dos agentes públicos também foi destacado.

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A confusão em frente à mansão do rapper, no bairro do Joá, na zona oeste do Rio, começou na noite de segunda-feira (21). Ele e um grupo de amigos xingaram e atiraram pedras em agentes – incluindo o delegado Moysés Santana, da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) – que foram ao local para apreender o adolescente "Menor Piu", de 17 anos. Contra o jovem, havia um mandado de busca e apreensão por atos infracionais análogos ao tráfico de drogas e crimes patrimoniais, expedido pela Vara da Infância e Juventude.
"Menor Piu" é apontado pelo secretário de Polícia Civil, delegado Felipe Curi, como um dos maiores ladrões de carros do estado e segurança do traficante Edgar Alves de Andrade, o "Doca", chefe do tráfico de drogas no Complexo da Penha.
"Se alguém tinha alguma dúvida de que o Oruam é um artista periférico ou um marginal, hoje nós temos a certeza de que se trata de um bandido da pior espécie, associado à facção criminosa Comando Vermelho, da qual o pai dele [Marcinho VP] é o chefe e controla a distância, de fora do estado, mesmo estando acautelado em presídio federal", disse o secretário de Polícia Civil na manhã de hoje.
Depois do ocorrido, Oruam teria buscado refúgio no Complexo da Penha. "Quero ver você vir aqui, me pegar dentro do Complexo. Não vai me pegar, sabe por causa de quê? Vocês peida!", disse em um vídeo publicado no Instagram.
O SBT News tenta contato com a defesa de Oruam. O espaço segue aberto e, em caso de manifestação, a reportagem será atualizada.
Leia nota do TJRJ na íntegra:
O Plantão Judiciário do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro decretou, nesta terça-feira, 22 de julho, a prisão preventiva do cantor Mauro Davi dos Santos Nepomuceno, mais conhecido como Oruam, pela prática dos crimes de tráfico de drogas, associação ao tráfico de drogas, resistência, desacato, dano, ameaça e lesão corporal. Os crimes teriam ocorrido no momento em que uma equipe policial tentava cumprir, na casa do cantor, no bairro do Joá, uma diligência de busca e apreensão de um adolescente, em razão da prática de atos infracionais análogos ao tráfico de drogas e crimes patrimoniais, expedida pela Vara da Infância e Juventude da Capital. De acordo com a Polícia Civil, o adolescente seria integrante de uma facção criminosa, um dos maiores ladrões de veículos do estado e segurança pessoal do traficante Edgar Alves de Andrade, o Doca.
“Analisando os autos, verifico que, no presente momento, mais adequado se faz a decretação da prisão preventiva (e não da prisão temporária), conforme sugerido pelo Ministério Público, conforme passo a expor. A prisão preventiva encontra respaldo nos artigos 311 a 313 do Código de Processo Penal e se faz pertinente para a garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria e de perigo gerado pelo estado de liberdade do imputado. E os requisitos se fazem presentes, de acordo com os elementos probatórios”, destacou a decisão do Plantão Judiciário.
Confusão
Segundo Felipe Curi, o serviço de inteligência da DRE recebeu a informação de que "Menor Piu" estava na casa de Oruam. Quando saía da residência, o adolescente foi abordado junto com outras quatro pessoas.
Toda a ação foi gravada e publicada no perfil oficial do rapper em uma rede social. Oruam postou um apelo no Instagram: "Quem tiver de moto brota no Joá", escreveu. "Me ajuda, eles estão aqui na minha porta". Nas imagens publicadas por ele, é possível ver o delegado Moysés Santana e outros policiais revistando o grupo.

O menor resistiu e, neste momento, Oruam e amigos – que estavam na varanda da mansão – passaram a xingar e a atirar pedras nos agentes.
O carro descaracterizado em que os policiais estavam foi atingido. Um agente se feriu. No meio da confusão, "Menor Piu" – que havia sido colocado no banco de trás da viatura – conseguiu abrir a porta e fugir.
Em outro registro, os agentes estão dentro da casa do artista, tentando imobilizar e dar uma rasteira em um homem. Pablo Ricardo de Paula Silva de Morais foi preso em flagrante por desacato, resistência qualificada, lesão corporal, ameaça e dano ao patrimônio público qualificado.
Algumas horas depois, Oruam postou mais vídeos dizendo estar no Complexo da Penha, na zona norte, e provocando os policiais a irem até o local atrás dele.
Essa é a segunda vez que um foragido da Justiça é encontrado no interior da residência do cantor. Em fevereiro, agentes cumpriam dois mandados de busca e apreensão em endereços ligados a ele quando encontraram o traficante Yuri Pereira Gonçalves, procurado pelo crime de organização criminosa, na mansão do Joá. Com o suspeito, conhecido como "Batata", foram encontradas uma pistola 9mm com kit rajada, de uso restrito e com numeração raspada, além de munições.
Chamada de vídeo com "Doca"
A confusão acontece alguns dias depois do vazamento de um print de uma suposta chamada de vídeo em que Oruam aparece ao lado de "Doca" conversando com o criminoso conhecido como "Cocão", um dos chefes do tráfico da comunidade da Serrinha, em Madureira, também na zona norte. A favela é comandada pelo Terceiro Comando Puro (TCP), facção rival do Comando Vermelho. Por isso, a polícia investiga a conexão.
Para Curi, as imagens de Oruam ao lado de "Doca" são "mais um elemento que mostra que ele não é artista coisa nenhuma, ele é um marginal, bandido, associado ao Comando Vermelho".
Quem é Oruam

O rapper Mauro Davi dos Santos Nepomuceno, o Oruam, é filho de Marcinho VP, um dos chefes do Comando Vermelho, condenado a 44 anos de prisão por crimes, como homicídio, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Aos 24 anos, o músico se destaca pelo estilo de vida ostentador e tem mais de 10 milhões de ouvintes mensais no Spotify.
Apesar do laço familiar, o cantor nega ligações com o crime organizado e o tráfico de drogas no Rio de Janeiro. "Tudo o que eu conquistei foi com minha música", disse Oruam em vídeo publicado nesta madrugada.
Ativo nas redes sociais, ele tem mais de 2,1 milhões de seguidores em sua conta reserva no Instagram. O perfil principal foi derrubado. Seus fãs, a "Tropa do Oruam", são fiéis e o acompanham para todo canto – incluindo na delegacia. Em fevereiro, quando foi levado para a Cidade da Polícia, saiu do local sob gritos e aplausos dos admiradores.
O artista vem se envolvendo em polêmicas desde 2024, quando pediu a liberdade do pai durante uma apresentação no festival de música Lollapalooza. À época, ele foi duramente criticado, mas se explicou dizendo que havia feito apenas um "desabafo".
"Meu pai errou, mas está pagando pelos seus erros e com sobra. Não tentem tirar de uma pessoa o direito de reivindicar condições melhores para o seu pai, e nem de querer vê-lo em liberdade", disse o músico na época.
Neste ano, uma vereadora de São Paulo protocolou um Projeto de Lei para impedir que a prefeitura da cidade contrate shows de artistas que fazem supostamente apologia às drogas e ao crime organizado. O projeto, conhecido como "Lei anti-Oruam", também acabou protocolado na Câmara Municipal do Rio de Janeiro.