Bolo envenenado: Polícia Civil conclui inquérito e Deise é culpada por mortes
Pena foi extinta porque a mulher morreu; pena seria superior a 100 anos de reclusão

SBT News
A Polícia Civil do Rio Grande do Sul apresentou, nesta sexta-feira (21), as conclusões do inquérito sobre as mortes de quatro pessoas da mesma família que ingeriram um bolo envenenado, em Torres, no final de 2024. A investigação conclui que Deise Moura dos Anjos, de 42 anos, forçava visitas à casa da sogra, justamente para conseguir misturar ou camuflar arsênio em alimentos que poderiam ser usados por Zeli dos Anjos.
+ Bolo envenenado: perícia analisa alimentos levados por suspeita à sogra enquanto estava internada
Para a polícia, a sogra era o principal alvo, mas a mulher não se importava se atingisse outras pessoas da família do marido. As autoridades descartaram a possibilidade de motivação financeira para os crimes cometidos por Deise. A principal hipótese é "perturbação mental". A apuração de como ela teve acesso tão fácil ao arsênio ainda continua, já que a venda só é possível com apresentação de documentos específicos e descrição do uso.
Três das mortes aconteceram pela ingestão do bolo envenenado, em dezembro de 2024. A outra foi causada por consumo de arsênio, que ocorreu em setembro do mesmo ano. Todas as vítimas eram da família do marido de Deise, incluindo o sogro.
Se estivesse viva, Deise seria indiciada por triplo homicídio triplamente qualificado e três tentativas de homicídio triplamente qualificadas. Segundo a Polícia Civil, Deise poderia ter uma pena superior a 100 anos de reclusão. Com a morte, o Código Penal prevê a extinção da punição.
Relembre o caso
Em 23 de dezembro de 2024, seis membros de uma mesma família passaram mal depois de consumirem um bolo durante o café da tarde em Torres, no litoral do Rio Grande do Sul. Três das vítimas, duas irmãs de Zeli e uma sobrinha, morreram de paradas cardiorrespiratórias e outros três familiares foram internados em estado grave, dois deles na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
De acordo com o hospital, os pacientes apresentaram sintomas de vômito e diarreia logo depois de consumir o bolo. As vítimas foram Neuza Denise Silva dos Santos, de 65 anos, Tatiana Berenice Silva dos Anjos, de 43 anos, e Maida Berenice Flores da Silva, de 58 anos. Zeli, o marido de Maida e um menino de 10 anos, neto de Neuza, também foram envenenados, mas tiveram alta. A perícia encontrou altas dosagens de arsênio na farinha que a sogra usou para preparar o bolo.
O caso ganhou relevância com a descoberta de que o sogro de Deise também faleceu por ingerir arsênio, em setembro do mesmo ano. Supostamente, a causa da morte teria sido intoxicação alimentar, porém, após a polícia solicitar a exumação do corpo, a perícia concluiu que havia sinais de envenenamento. Uma perícia realizada no celular da suspeita localizou buscas na internet, feitas em novembro, sobre a substância tóxica encontrada em todas as vítimas.
Outro fator importante foi o fato de que a relação de Deise com a família do marido não era amigável desde o início, há 20 anos. As autoridades chegaram a cogitar que ela também poderia ter tentado envenenar o marido e o filho, além de poder ter matado o próprio pai. A Polícia Civil do Rio Grande do Sul confirmou que a suspeita assinou o comprovante de entrega de uma encomenda de arsênio que recebeu pelos Correios.
+ Bolo envenenado: polícia acredita que crime foi motivado por desavença familiar de 20 anos
Quem era Deise Moura dos Anjos?
A suspeita tinha 42 anos e casada com o filho de Zeli dos Anjos, uma das sobreviventes do caso. Ela era investigada por quatro mortes, todas envolvendo a substância arsênio. As vítimas eram da família do marido que, segundo pessoas próximas, não teriam uma boa relação com a mulher.
Deise foi presa no início de janeiro deste sob acusação de triplo homicídio duplamente qualificado, por motivo fútil e com emprego de veneno, e tentativa de triplo homicídio. Além de, posteriormente, ter sido colocada como suspeita da morte do sogro, que aconteceu poucos meses antes do caso do bolo envenenado.
Ela foi encontrada morta na Penitenciária Estadual Feminina de Guaíba, na Região Metropolitana de Porto Alegre, na última semana. Em nota, a Polícia Penal informou que a mulher foi encontrada "sem sinais vitais" durante conferência matinal na penitenciária e que estava sozinha na cela. Segundo o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), ela teria tirado a própria vida. A mulher deixou a seguinte carta na cela para a sogra:
"Muito obrigado por esses 20 anos que fez da minha vida de casada um inferno. Mais uma vez eu sou a vilã e você a mocinha. Fez um bolo, com uma farinha podre, que sabe-se lá de onde saiu e há quanto tempo estava aberta cheia de veneno, matou a família toda, que só comeram por "pena" de ti (conforme o Jeff disse no velório). Guardou mensagens de brigas e ódio por vinte anos, depois de tudo que o Diego e eu fizemos por ti, e olha só o resultado... Claro que sobrou pra mim, como sempre foi. Conseguiu ficar com tudo o que é meu, minha família, minha casa e tomara que com meu filho NÃO!".