Sogro de mulher suspeita de envenenar bolo de Natal também ingeriu arsênio antes de morrer
Constatação foi feita pelo Instituto-Geral de Perícias do RS, após exumação do corpo de Paulo Luiz; ele morreu em setembro com sintomas de intoxicação alimentar
Emanuelle Menezes
com SBT RS
O Instituto-Geral de Perícias do Rio Grande do Sul (IGP-RS) confirmou, nesta sexta-feira (10), que o sogro da mulher presa por suspeita de envenenar o bolo de Natal que matou três pessoas em Torres, no litoral do estado, também ingeriu arsênio antes de morrer.
+ Polícia acredita que crime foi motivado por desavença familiar de 20 anos
Paulo Luiz dos Anjos, sogro de Deise Moura dos Anjos, morreu em setembro de 2024 após apresentar sintomas de uma intoxicação alimentar grave. Ele havia ingerido bananas e leite em pó dados pela nora. A exumação do corpo do idoso foi realizada na quarta-feira (8).
De acordo com a polícia, depois de comprar arsênio pela internet, Deise, de 42 anos, tentou se aproximar dos pais do marido, com os quais tinha desavenças há 20 anos. Moradora de Nova Santa Rita, na Região Metropolitana de Porto Alegre, Deise insistiu em visitá-los em Arroio do Sal, no litoral, e levou para Paulo e Zeli dos Anjos as bananas e o leite em pó, que teria sido contaminado.
Paulo e Zeli tomaram café com o leite em pó no dia seguinte. Ambos foram hospitalizados e ele acabou morrendo. Deise teria insistido na cremação do corpo do sogro, segundo a investigação.
No corpo dele, confirmou a perícia, foram encontradas altas concentrações de arsênio no fígado e no estômago. De acordo com Marguet Mittmann, diretora do IGP, foi a segunda maior concentração do veneno entre as vítimas fatais do caso.
"Impossível este caso se tratar de intoxicação alimentar, contaminação natural ou degradação de qualquer substância. Conclui-se que a causa da morte de Paulo foi envenenamento causado por arsênio ingerido de forma oral", afirmou Marguet.
Zeli, esposa de Paulo e sogra de Deise, também foi uma das seis pessoas que comeram o bolo de Natal envenenado com arsênio, no dia 23 de dezembro. Ela recebeu alta na manhã desta sexta. Três vítimas morreram e outras duas já tinham sido liberadas do hospital. (Saiba mais abaixo).
Deise era casada com o filho da idosa há cerca de 20 anos. De acordo com pessoas próximas, a relação dela com a sogra era conturbada. Ela teria entregado um pacote de farinha de trigo com arsênio para Zeli, que preparou o bolo de Natal envenenado.
Uma perícia realizada no celular da suspeita localizou buscas na internet, feitas em novembro, sobre arsênio, substância tóxica encontrada nas vítimas. Segundo Marguet Mittmann, a concentração de arsênio encontrada na farinha chegou a 65 g por quilograma.
As vítimas fatais foram duas irmãs de Zeli e uma sobrinha: Neusa Denise Silva dos Santos, de 65 anos, Tatiana Berenice Silva dos Anjos, de 43 anos, e Maida Berenice Flores da Silva, de 58 anos. O marido de Maida e um menino de 10 anos, neto de Neuza, também foram envenenados, mas se recuperaram.
Deise foi presa no domingo (5) sob acusação de triplo homicídio duplamente qualificado, por motivo fútil e com emprego de veneno, e tentativa de triplo homicídio. Ela passou por uma audiência de custódia, na tarde de segunda-feira (6), e segue detida no Presídio Estadual Feminino de Torres. Com a confirmação do envenenamento de Paulo, ela pode responder por mais um homicídio.
A defesa da mulher ainda não se manifestou após os novos fatos.
Outros envenenamentos
Durante a internação de Zeli, Deise teria levado alimentos para a sogra no hospital, mas a comida não foi consumida. O recipiente de um suco foi entregue à polícia para análise.
Deise teria uma desavença antiga com sogra. Ao dar depoimento à polícia, a suspeita chamou a idosa de naja. A polícia não descarta que tenha havido outras situações em que a mulher tenha tentado matar os familiares.
"Não podemos em um caso dessa magnitude imputar crime a alguém sem ter prova técnica. Hoje posso dizer que ela (Deise) pesquisou, comprou, recebeu e usou veneno para matar as vítimas", disse o delegado Cleber Lima.