Tribunal da ONU ordena Israel a interromper ataques em Rafah, mas não impõe cessar-fogo total
Mais de um milhão de palestinos fugiram de Rafah nas últimas semanas, enfrentando escassez de abrigo, comida e água, segundo relatos da organização
O Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), principal tribunal da Organização das Nações Unidas (ONU), ordenou que Israel interrompa ofensiva militar na cidade de Rafah, localizada no sul da Faixa de Gaza. A decisão, entretanto, não inclui um cessar-fogo total em todo o território palestino. As informações são da agência Associated Press (AP).
A ordem faz parte de um processo iniciado no ano passado pela África do Sul, que acusa Israel de cometer genocídio em Gaza. Israel nega fortemente as acusações.
Embora o caso no TIJ deva levar anos para ser resolvido, a África do Sul busca medidas provisórias para proteger os palestinos durante o andamento do processo.
A ofensiva israelense em Gaza tem sido amplamente criticada pela comunidade internacional devido ao elevado número de mortes e à crise humanitária crescente. Mais de um milhão de palestinos deixaram Rafah nas últimas semanas, com muitos enfrentando a falta de abrigo, comida, água e outros recursos essenciais, conforme relatado pela ONU.
Até o momento, o Ministério da Saúde de Gaza reportou a morte de pelo menos 35 mil palestinos, sem distinção entre combatentes e civis. Em meio ao conflito de sete meses, o Hamas se reorganizou em áreas no norte de Gaza, retomando ataques com foguetes contra comunidades israelenses. Israel afirma que operações militares continuam em Rafah, no centro de Gaza e em Jabaliya, no norte.
A guerra teve início após um ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023, que resultou na morte de cerca de 1.200 israelenses e no sequestro de aproximadamente 250 pessoas. Israel informa que ainda há cerca de 100 reféns em Gaza, além dos corpos de cerca de 30 outros sequestrados. Recentemente, o exército israelense recuperou corpos de mais três reféns mortos no ataque de outubro.
Implicações e reações internacionais
Embora a decisão do TIJ seja uma pressão adicional sobre Israel, é improvável que o país cumpra a ordem, dada a falta de mecanismos de aplicação do tribunal. Mesmo aliados próximos de Israel, como os Estados Unidos, têm expressado críticas sobre a conduta do país na guerra. Recentemente, três países europeus reconheceram o Estado palestino, e o principal procurador de outro tribunal da ONU solicitou mandados de prisão para líderes israelenses e oficiais do Hamas.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, enfrenta pressão interna para encerrar o conflito. A situação atual é um golpe para a posição internacional de Israel, mas o histórico de cumprimento de ordens do TIJ por outros países, como a Rússia, sugere um caminho incerto.
Diplomacia e negociações
Em esforço para mediar a situação, o presidente francês Emmanuel Macron se reunirá com ministros árabes no Palácio do Eliseu para discussões sobre o Oriente Médio. Estarão presentes primeiro-ministro do Qatar e ministros das Relações Exteriores de Egito, Jordânia, Arábia Saudita e França.
Paralelamente, o diretor da CIA, Bill Burns, está em Paris para conversas informais com representantes israelenses e cataris, visando retomar negociações sobre reféns e cessar-fogo. Essas reuniões têm a mediação de oficiais egípcios e cataris, com oficiais do Hamas não participando diretamente.
A ordem do TIJ e as iniciativas diplomáticas refletem a complexidade e a urgência da situação em Gaza, onde a busca por uma resolução pacífica continua a ser um desafio monumental.