Para especialista, “Venezuela é uma grande pedra no sapato” do governo Lula
Enquanto diplomacia tem cautela ao se posicionar sobre eleição presidencial, PT incomoda ao reconhecer “vitória de Maduro”
No Poder Expresso desta terça-feira (30), a professora de Relações Internacionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Carolina Pedroso avaliou que a Venezuela representa hoje uma “grande pedra no sapato” do governo do Brasil.
A especialista analisa o cenário no qual a diplomacia brasileira se posiciona com cautela sobre o resultado da eleição no país vizinho, ao mesmo tempo que o partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o PT, emite nota na qual “parabeniza Nicolás Maduro pela reeleição”.
“Sem dúvidas, além de ser um grande desafio diplomático para o Brasil, por tudo o que representa externamente, a Venezuela é também uma grande pedra no sapato para o governo. E aqui a gente está falando de duas dimensões muito presentes no governo Lula. A dimensão externa enquanto política de Estado e a dimensão interna enquanto um governo que é composto por uma base aliada bastante heterogênea. Esse tema gera muito ruído na base aliada dentro do próprio PT, mas também nos outros partidos que compõem o governo. E como era de se esperar, até por conta de todo o clima que a oposição tinha conseguido construir ao longo dos últimos meses, da possibilidade de vitória eleitoral do Edmundo González, já tem havido protestos no país”, comentou.
A contestação da oposição acontece em meio aos rumores de que o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) tenha fraudado o resultado do pleito. Na contagem da entidade, também questionada por chefes de Estado e líderes políticos mundiais internacionais, Maduro obteve 52,21% dos votos, enquanto González registrou 44,2%.
Nesta terça (30), Lula disse em entrevista que só reconhecerá o resultado oficial do pleito venezuelano após a apresentação das atas, que podem confirmar a veracidade da contagem dos votos.
Para Carolina Pedroso, o desafio não se restringe apenas ao resultado da eleição, pois o Brasil também enfrentará desgastes na relação com a Venezuela de agora em diante.
“Vai ser um incômodo, vai ser um desgaste, vai ser desconfortável. Mas assim como o Brasil mantém em termos de Estado relações com outros países do mundo que não são exatamente democracias, a gente vai ter que lidar pela via diplomática com esse nosso vizinho, ainda que esse apoio que foi dado até agora provavelmente vai esmaecer, para não dizer sumir completamente da cena”, observou.
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, afirmou nesta terça-feira (30) que seus adversários políticos González Urrutia e María Corina Machado são culpados pela violência que atinge o país após o resultado eleitoral. Diversos manifestantes foram às ruas contra a reeleição de Maduro acusando fraude nas eleições.
