Pacientes de Gaza enfrentam espera dolorosa com hospitais sobrecarregados
Médicos são obrigados a tomar as 'piores e mais difíceis decisões' de quem salvar primeiro, diz diretor de hospital

Reuters
Mohammed Wael Helles, de 14 anos, aguarda há quase dois meses uma cirurgia para tratar de uma grave lesão na coluna vertebral causada por um ataque aéreo israelense. Ele é um dos milhares de habitantes que esperam por tratamento urgente no sistema de saúde de Gaza.
Helles era um excelente estudante com aspirações de se tornar médico quando foi ferido semanas antes de um cessar-fogo que interrompeu dois anos de guerra. O ataque, que matou o motorista de seu veículo, rompeu sua medula espinhal e fraturou três vértebras. "Ainda sou jovem, estou no início da minha vida", disse em uma cama de hospital em Khan Younis, depois de acordar do ferimento há 50 dias e descobrir que estava parcialmente paralisado.
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A devastadora campanha militar de Israel em Gaza, desencadeada pelos ataques mortais do Hamas em 7 de outubro de 2023, feriu pelo menos 170 mil moradores da região, segundo autoridades de saúde locais, e empurrou a maioria dos habitantes para acampamentos insalubres devastados por doenças, aumentando a pressão sobre um sistema de saúde abalado.
Mais de um mês depois que Israel e o grupo militante palestino Hamas concordaram com um cessar-fogo, apenas cerca de metade dos 36 hospitais do território está funcionando parcialmente, de acordo com a Organização Mundial da Saúde, e eles estão afetados pela escassez de pessoal, equipamentos, medicamentos e combustível.
Equipe hospitalar trabalha dia e noite
Apesar da gravidade do ferimento, Helles terá que esperar mais tempo no hospital Nasser, o maior do sul de Gaza. A unidade atende a uma população muito maior do que antes, devido à destruição de outras instalações.
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Mohammed Saqer, chefe de enfermagem e porta-voz do hospital, disse que a equipe está trabalhando dia e noite, mas só pode operar até 100 pacientes por dia – uma fração dos que precisam de ajuda. "Mesmo que eles precisem de cirurgias urgentes, temos que adiá-las para dar prioridade aos casos mais urgentes. Isso fez com que muitos pacientes perdessem suas vidas."
As 'piores e mais difíceis decisões'
No norte de Gaza, onde vive mais da metade da população e onde os danos da guerra são muito piores, a situação é ainda mais crítica, relata Mohamed Abu Selmia, diretor do hospital al-Shifa da Cidade de Gaza. Por lá, 40 mil cirurgias foram adiadas e médicos eram obrigados a tomar decisões sobre quem salvar primeiro: "pior e mais difícil teste são obrigados a fazer."
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Os pacientes cuja cirurgia é adiada geralmente pioram, explica Abu Selmia, com lesões nas pernas que às vezes acabam exigindo amputação e pacientes com câncer que descobrem que a doença se espalhou.
Eyad al-Baqari, 50 anos, foi ferido quando um ataque aéreo israelense atingiu um prédio próximo na Cidade de Gaza e a queda de alvenaria quebrou sua perna. Ele precisa de cirurgia para implantar pinos para fixar a perna, mas está esperando há três meses e precisa caminhar para coletar alimentos e água a sua família. Sua lesão está piorando. "Os médicos me disseram que alguns dos ossos do meu pé foram danificados ainda mais", declarou.
(Reportagem de Nidal al-Mughrabi, no Cairo, e Haseeb Alwazeer, em Khan Younis)









