ONGs humanitárias pedem que Israel acabe com "militarização da ajuda" em Gaza
Grupos denunciam critérios vagos e politizados para dificultar entrada de suprimentos na região

Camila Stucaluc
Uma carta conjunta assinada por mais de 100 organizações humanitárias pede que Israel acabe com a "militarização da ajuda" na Faixa de Gaza. No documento, divulgado na quarta-feira (13), as entidades alegam que, apesar das declarações de Tel Aviv de que não há limite para a entrada de ajuda humanitária na região, a maioria dos grupos não conseguem entrar com suprimentos.
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“Israel rejeita pedidos de dezenas de ONGs para trazer produtos que salvam vidas, citando que essas organizações ‘não estão autorizadas a entregar ajuda’. Somente em julho, mais de 60 pedidos foram negados sob essa justificativa. Essa obstrução deixou milhões de dólares em alimentos, remédios, água e itens de abrigo presos em armazéns na Jordânia e no Egito, enquanto os palestinos estão morrendo de fome”, diz o texto.
Segundo as organizações, muitos dos grupos agora não autorizados a entregar ajuda humanitária em Gaza trabalham na região há décadas. A obstrução está ligada às novas regras de registro introduzidas pelas autoridades israelenses em março deste ano, que podem negar o cadastro das entidades “com base em critérios vagos e politizados”, como a suposta "deslegitimação" do Estado de Israel.
Para ter o trabalho autorizado em Gaza, os grupos alegam que precisam apresentar detalhes de doadores privados, listas completas de funcionários palestinos e outras informações confidenciais para a chamada verificação de "segurança". A exigência é considerada ilegal pelas ONGs, que citam as leis de proteção de dados relevantes, além de inseguro e incompatível com os princípios humanitários.
“Não temos garantias de que a entrega de tais informações não colocaria a equipe em maior risco ou seria usada para promover os objetivos militares e políticos declarados do governo de Israel. Hoje, os temores das ONGs se mostraram verdadeiros: o sistema de registro agora está sendo usado para bloquear ainda mais a ajuda e negar alimentos e remédios em meio ao pior cenário de fome”, disseram.
As denúncias contra Israel vêm aumentando desde março deste ano, quando o país retirou o bloqueio da entrada de ajuda humanitária em Gaza, após três meses em vigor. Desde então, o exército vem tentando substituir as organizações que atuam na região pela Fundação Humanitária de Gaza (GHF, na sigla em inglês), alegando que o Hamas interrompe as redes de abastecimento dos grupos para lucrar com a ajuda.
A atitude é duramente criticada pela Organização das Nações Unidas (ONU), que diz que a GHF não se prepara para distribuir os itens e que o exército direciona a população “usando tiros”. Dados do Ministério da Saúde palestino apontam que pelo menos 1.000 pessoas foram mortas e 6,5 mil ficaram feridas tentando receber ajuda humanitária desde o final de maio, sendo a maioria nos centros da GHF.
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"É inaceitável que os palestinianos estejam a arriscar as suas vidas por comida. Apelo a uma investigação imediata e independente sobre estes acontecimentos e a que os autores sejam responsabilizados. Israel tem obrigações claras sob o direito internacional humanitário de concordar e facilitar a ajuda humanitária”, disse o secretário-geral da ONU, António Guterres.