Navios dos EUA próximos à Venezuela recuam após ameaça de furacão
Expectativa é que frota retome missão contra narcotráfico no domingo (24); ação vem gerando tensão entre os países

Camila Stucaluc
Os navios militares norte-americanos enviados para operar no Caribe precisaram recuar e retornar aos Estados Unidos devido à aproximação do furacão Erin na região. Segundo o US Naval Institute, o Grupo Anfíbio de Prontidão de Iwo Jima chegou na base naval em Norfolk, na Virgínia, na quarta-feira (20).
Os fuzileiros haviam deixado Norfolk cerca de cinco dias atrás, na primeira missão de um grupo anfíbio em oito meses. A frota, composta por três contratorpedeiros e 4,5 mil militares, se preparavam para uma operação contra o narcotráfico no sul da região caribenha, ordenada pelo governo de Donald Trump.
A expectativa é que os navios retomem a missão no domingo (24), quando o furacão começará a se afastar dos Estados Unidos. Dados do Serviço de Meteorologia apontam que, por enquanto, a tempestade provocará grandes ondas e correntes de retorno na costa leste do país, principalmente na Carolina do Norte.
A operação naval provocou tensões entre os Estados Unidos e a Venezuela. Ao saber do envio dos navios ao sul da região caribenha, próxima à costa venezuelana, o presidente Nicolás Maduro ordenou a mobilização de 4,5 milhões de soldados da milícia para proteger o território e conter o que chamou de “ameaça de Washington”.
Em resposta, o governo Trump afirmou que está preparado para usar todos os meios para “impedir que as drogas inundem” o território norte-americano. Disse, ainda, que pretende levar os responsáveis pelo narcotráfico à Justiça, referindo-se à Maduro.
"O regime de Maduro não é o governo legítimo da Venezuela. É um cartel de narcoterroristas. Maduro é a visão de que este governo não é um presidente legítimo. Ele é um chefe fugitivo desse cartel que foi indiciado nos Estados Unidos por tráfico de drogas para o país”, disse a porta-voz da Casa Branca, Karoline Levitt.
Demonstração de força
Para o professor João Alfredo Lopes Nyegray, especialista em Negócios Internacionais e Geopolítica, o discurso dos Estados Unidos trata-se de uma ação contra o narcotráfico, mas, na prática, também é uma demonstração de força, especialmente diante do alinhamento da Venezuela com Rússia, China e Irã. A pressão sobre Maduro, portanto, insere-se na política externa americana para dissuadir adversários.
Isso porque, além da missão naval, Washington anunciou uma recompensa de US$ 50 milhões por informações que levem à captura ou condenação de Maduro, metade do valor oferecido na época pela localização de Osama Bin Laden, então líder da Al-Qaeda. Nyegray aponta que a cifra não é apenas simbólica, mas revela a prioridade atribuída por Washington ao enfraquecimento do regime venezuelano.
+ Maduro desafia Trump e diz que "nenhum império tocará o solo sagrado da Venezuela"
A escalada da tensão entre os países coloca a América Latina novamente no radar das disputas geopolíticas globais. O cenário, segundo Nyegray, pode trazer instabilidade às cadeias de comércio, fluxos energéticos e até mesmo comprometer a integração regional. “É um ponto de atenção não só para Caracas e Washington, mas para todos os países vizinhos”, frisa o professor.