Ministro de Israel diz que situação em Gaza é "difícil", mas aponta mentira sobre fome
Dados da ONU alertam para desnutrição aguda e mortes crescentes entre crianças na Faixa de Gaza

SBT News
com informações da Reuters
O ministro das Relações Exteriores de Israel, Gideon Saar, declarou nesta terça-feira (29) que a situação na Faixa de Gaza é "difícil", mas que há mentiras sobre a fome na região.
"Em primeiro lugar, está claro que, depois de quase dois anos de guerra, a situação é difícil. Mas há uma mentira, e a mentira são as políticas de fome com as quais a mídia internacional [...] está cooperando", afirmou, durante uma entrevista coletiva em Jerusalém.
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O ministro disse ainda que é o Hamas o responsável pela realidade em Gaza: "Existe uma política de fome? Não, o contrário é que está certo. Estamos fazendo esforços incríveis, inclusive esta semana, abrindo esses corredores humanitários, com lançamentos aéreos por todos os meios possíveis. Aliás, ao contrário da mentira que se espalha na mídia ocidental, ou em parte, não estamos limitando. Estamos facilitando a ajuda de todos."
Israel anunciou no domingo (27) uma paralisação das operações militares por 10 horas por dia em partes de Gaza e em novos corredores de ajuda, enquanto a Jordânia e os Emirados Árabes Unidos lançavam suprimentos de avião no território, onde imagens de palestinos famintos alarmaram o mundo.
Saar afirmou ainda que tem uma campanha de pressão internacional contra Israel para acabar com a guerra com o Hamas ainda no poder e impor o estabelecimento de um estado palestino.
"A pressão militar é eficaz, mas não é a única opção. Há outras pressões e somos muito determinados a alcançar nossos objetivos nesta guerra. Sempre estivemos prontos e estamos prontos hoje para alcançá-los também pela via diplomática. Mas, se não for possível, teremos que usar outros caminhos", completou.
Egito e Catar, que estão mediando as negociações de cessar-fogo em Gaza, disseram que houve progresso nas negociações, mas a última rodada de negociações em Doha foi interrompida na semana passada sem um acordo à vista.
Fome em Gaza
"O pior cenário de fome está atualmente acontecendo em Gaza", afirmou nesta terça (29) a Classificação Integrada da Fase de Segurança Alimentar (IPC), agência de segurança alimentar apoiada pela Organização das Nações Unidas (ONU).
De acordo com o relatório da IPC, "conflitos e deslocamentos se intensificaram, e o acesso a alimentos e outros itens e serviços essenciais caiu a níveis sem precedentes". A agência destaca que "evidências crescentes mostram que a fome generalizada, a desnutrição e as doenças estão causando um aumento nas mortes relacionadas à fome".
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Os dados revelam que 39% da população passa dias seguidos sem se alimentar. Cerca de 500 mil pessoas, quase um quarto dos habitantes da região, vivem em condições semelhantes à fome. O restante enfrenta níveis emergenciais de insegurança alimentar.
Entre abril e meados de julho, mais de 20 mil crianças foram internadas por desnutrição aguda, sendo mais de 3 mil em estado grave. Hospitais relataram pelo menos 16 mortes de crianças com menos de cinco anos desde 17 de julho.
"Gaza está agora à beira de uma fome generalizada. As pessoas estão morrendo de fome não porque não há alimentos disponíveis, mas porque o acesso está bloqueado, os sistemas agroalimentares locais entraram em colapso e as famílias não conseguem mais sustentar nem mesmo os meios de subsistência mais básicos", disse Qu Dongyu, diretor-geral da ONU para Alimentação e Agricultura (FAO).
Segundo dados recentes, 320 mil crianças com menos de cinco anos estão em risco de desnutrição aguda, sendo milhares delas afetadas pela forma mais grave e mortal. Sem acesso a água potável, leite materno ou alimentação terapêutica, os serviços de nutrição entraram em colapso.
Em junho, 6,5 mil crianças foram internadas para tratamento nutricional – o maior número desde o início da guerra. Apenas nas duas primeiras semanas de julho, esse número já ultrapassou 5.000. Com menos de 15% dos serviços de tratamento funcionando, o risco de morte entre bebês e crianças pequenas nunca foi tão alto, segundo o IPC.