Joesley Batista se encontrou com Maduro na Venezuela para tentar amenizar crise com EUA, diz agência
Encontro ocorreu dias após conversa telefônica entre Trump e o presidente venezuelano; países vivem tensão com ação militar à vista

Murillo Otavio
O empresário Joesley Batista, coproprietário da JBS, viajou a Caracas para se encontrar com Nicolás Maduro e tentar diminuir a tensão entre o presidente venezuelano e o governo de Donald Trump. A informação foi divulgada pela agência Bloomberg nesta quinta-feira (4).
O encontro ocorreu em 23 de novembro, dois dias depois de Maduro ter conversado por telefone com Trump. Tanto a reunião presencial quanto a ligação serviram para, entre outros objetivos, pressionar o presidente venezuelano a renunciar e deixar o país, que enfrenta uma grave crise econômica e é alvo de acusações de autoritarismo, rejeitadas por Maduro.
O líder chavista, por sua vez, afirma que os Estados Unidos atuam de forma colonialista ao impor sanções que sufocam a economia da Venezuela.
Maduro confirmou publicamente a conversa telefônica com Trump, classificando o diálogo como "respeitoso e cordial". Segundo a agência Reuters, autoridades norte-americanas chegaram a dar um ultimato para que Maduro deixasse o cargo até 28 de novembro. Até o momento, nada aconteceu.
Autoridades do governo Trump sabiam da visita de Joesley e não se opuseram, ainda de acordo com a Bloomberg. Devido à influência da JBS nos dois países, o empresário mantém boa interlocução em Washington e Caracas.
Em resposta à agência, a JBS disse que "Joesley não é representante de nenhum governo". A empresa não fez outras declarações, e a Casa Branca não respondeu aos pedidos de comentário.
O SBT News também procurou o governo norte-americano e a companhia e aguarda retorno.
Tentativas de negociação
A visita de Joesley Batista representa mais uma tentativa de reduzir o conflito entre EUA e Venezuela. Antes disso, o chanceler Mauro Vieira afirmou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se colocou à disposição para atuar como mediador, embora não haja confirmação oficial de participação brasileira nas conversas.
Desde agosto, os Estados Unidos mantêm forte presença militar no Caribe, próximo à costa venezuelana. Segundo o governo norte-americano, mais de 20 embarcações suspeitas de transportar drogas foram bombardeadas, deixando pelo menos 80 mortos.
Autoridades dos EUA afirmam que a operação tem foco no combate ao narcotráfico. No entanto, não há informações públicas sobre a origem criminosa dos mortos.
Elevando a crise, Trump alertou no sábado (29) às companhias aéreas a tratarem o espaço aéreo venezuelano como "totalmente fechado", citando riscos ligados ao tráfico de drogas e de pessoas. A intenção exata ainda não está clara.
Em outra ofensiva, o Departamento do Tesouro dos EUA classificou o "Cartel de los Soles" — supostamente liderado por Maduro — como organização terrorista estrangeira, alegando que o grupo presta apoio logístico a facções criminosas como o Trem de Aragua e o Cartel de Sinaloa. Maduro nega todas as acusações.
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Joesley Batista
Joesley Batista é considerado um interlocutor com trânsito tanto no governo Trump quanto no regime de Maduro, de acordo com a Bloomberg.
A JBS controla a Pilgrim's Pride, produtora de frango sediada no Colorado que doou US$ 5 milhões ao comitê de posse de Trump, a maior doação individual recebida pelo republicano.
Em 2024, a empresa conseguiu autorização para listar ações em Nova York, apesar da resistência de grupos ambientais e investidores que citam escândalos de corrupção envolvendo os irmãos Batista e críticas sobre o impacto da pecuária no desmatamento da Amazônia.
No início do ano, Joesley se reuniu com Trump para defender a retirada de tarifas sobre carne bovina e sugerir uma reaproximação com Lula, após tensões envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro. A JBS é a maior produtora de carne do mundo, com mais de 70 mil funcionários nos EUA e Canadá.
Por outro lado, os vínculos da família Batista com a Venezuela remontam a mais de uma década. JBS e Maduro já negociaram um contrato de US$ 2,1 bilhões para fornecer carne e frango ao país durante um período de escassez severa e hiperinflação.
Joesley Batista foi alvo de diversos processos no Brasil, principalmente no âmbito da operação Lava Jato e suas ramificações, por crimes como corrupção ativa, obstrução de justiça e uso de informação privilegiada.







