Irã descarta negociações diretas com EUA sobre programa nuclear
País disse que está pronto para criar canal de confiança, mas que prefere diálogos indiretos

Camila Stucaluc
O ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araghchi, afirmou que o país ainda não está pronto para negociar diretamente com os Estados Unidos sobre o programa nuclear nacional. Segundo ele, por enquanto, Teerã está aberto apenas para negociações indiretas, isto é, mediadas por países terceiros.
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"Este é um jogo ganha-ganha e estamos prontos para nos envolver nisso, [mas] ainda preferimos negociações indiretas”, disse Araghchi, à Fox News. “Estamos prontos para tomar qualquer medida de construção de confiança para provar que o programa nuclear é pacífico e que o Irã nunca buscará armas nucleares”, acrescentou.
Questionado sobre os ataques dos Estados Unidos às usinas nucleares iranianas, em junho deste ano, Araghchi afirmou que as instalações foram “seriamente danificadas”. O diplomata reforçou, no entanto, que Teerã não pretende desistir do enriquecimento de urânio, já que é uma questão de orgulho nacional.
As declarações do ministro iraniano chegaram ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Pelas redes sociais, o republicano confirmou que as instalações nucleares do país foram “completamente destruídas”, não descartando a possibilidade de novos ataques. “Voltaremos a fazê-lo, se necessário”, escreveu.
Programa nuclear iraniano
Em 21 de junho, os Estados Unidos lançaram ataques contra as bases nucleares iranianas de Fordow, Isfahan e Natanz. A ação fez com que o país entrasse diretamente na ofensiva de Israel para desmantelar o programa nuclear iraniano. Assim como Tel Aviv, Washington acusou o governo iraniano de manter um programa secreto para desenvolver armas nucleares.
O conflito terminou pouco tempo depois, com um acordo de cessar-fogo entre os três países. Agora, os Estados Unidos buscam negociar um acordo envolvendo o programa nuclear iraniano. Por enquanto, no entanto, Teerã aceitou dialogar apenas com potências europeias. Um encontro entre autoridades iranianas e representantes da Alemanha, França e Reino Unido foi marcado para sexta-feira (25).
Estoque suficiente para produzir 9 bombas
Oficialmente, o Irã havia declarado possuir cerca de 400 quilos de urânio enriquecido a 60% – nível considerado superior à demanda para fins civis, como gerar energia. Segundo a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), caso esse percentual chegue a 90%, o país estaria apto a produzir mais de nove bombas nucleares.
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O governo iraniano nega estar desenvolvendo armas nucleares, e sustenta que seu programa tem fins pacíficos. Os ataques norte-americanos e israelenses de junho, no entanto, fizeram Teerã suspender a cooperação com a AIEA, acabando com a transparência sobre o programa nuclear. "Não sabemos onde esse material poderia estar", disse a entidade, referindo-se aos estoques iranianos de urânio.