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Frei Betto analisa legado de papa Francisco e aposta em novo papa italiano

Em entrevista ao SBT News, religioso elenca avanços e rupturas nos 12 anos de papado e defende continuidade progressista no conclave da Igreja Católica

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Frei Betto analisa legado de Papa Francisco e aposta em novo papa italiano | Foto: Reprodução
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Em entrevista ao SBT News, Frei Betto refletiu, nesta segunda-feira (21), sobre os 12 anos de pontificado de Jorge Mario Bergoglio, o papa Francisco. Na conversa, ele elenca três principais pontos que marcaram a atuação do líder católico, como a quebra de paradigmas e o olhar mais atento às urgências dos tempos atuais. Para o frade, Francisco, o primeiro papa latino-americano, liderou com coragem e compromisso com os mais vulneráveis.

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1- A defesa dos refugiados

Uma das marcas mais fortes do pontificado de Francisco foi a defesa enfática dos refugiados. “Ele mostrou que essas pessoas não se deslocam por motivos torpes ou apenas em busca de melhorias de vida, mas porque são expulsas de suas nações pela miséria, guerras e fome, frutos diretos da colonização europeia”, afirmou o frade dominicano.

Para ele, o discurso frequente de Francisco aponta para a dívida histórica que a Europa tem com os povos explorados durante séculos. “O que a colonização deixou foi um legado de miséria, não de prosperidade.”

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2 - Responsabilidade política e econômica

A encíclica 'Laudato Si’, uma carta publicada por Francisco em 2015, é um documento inédito na história da Igreja. “Ele foi o primeiro papa a publicar uma encíclica em defesa dos direitos da natureza. Ele não apenas apontou a degradação ambiental, mas também suas causas, que não são climáticas, são econômicas.”

De acordo com ele, Francisco denunciou o papel dos grandes grupos econômicos na exaustão dos recursos naturais e na intensificação da pobreza. “A degradação ambiental tem relação direta com o aumento da pobreza no mundo.”

O frade lembrou ainda a proposta de Francisco para um modelo econômico com foco na justiça social e desenvolvimento ambiental e integral das pessoas. Chamada de "Economia de Clara e Francisco”, o modelo é inspirado nos ensinamentos de São Francisco de Assis e Santa Clara de Assis. “Ele queria algo novo que não chegou a definir, mas deixou clara sua rejeição ao capitalismo, que considerava nocivo.”

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3 - Inclusão e diálogo dentro da Igreja

Outro ponto de destaque no legado de Francisco, segundo Frei Betto, foi a abertura a temas considerados tabus na Igreja. “Foi um papa que superou preconceitos morais existentes na tradição católica. Teve uma postura acolhedora com os LGBTodos e todas, como prefiro dizer. E levantou o debate sobre o papel da mulher, ainda que não tenha conseguido avançar tanto quanto desejava", concluiu o frade.

Mesmo sendo, tecnicamente, “o único monarca absoluto do Ocidente”, Frei Betto ressalta que Francisco nunca exerceu o poder de forma autoritária. “Não há nenhuma instância que possa desaprová-lo, censurá-lo ou condená-lo — a cabeça dele é a lei. E, mesmo assim, ele sempre buscou o consenso. Convocou vários sínodos [reuniões de bispos], se empenhou muito, foi derrotado algumas vezes e respeitou a decisão coletiva.”

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O futuro da Igreja

Sobre o próximo conclave, o frade destaca a tendência recorrente de os cardeais norte-americanos tentarem emplacar um de seus pares, mas frisou que estes enfrentam resistência por serem os mais ricos — e, segundo Frei Betto, também os mais arrogantes. “Os africanos acham que chegou a vez deles. A África é onde o catolicismo mais cresce atualmente. Já houve papas africanos na antiguidade, mas há séculos isso não acontece.”

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No entanto, como muitos cardeais africanos são conservadores, a aposta de Frei Betto é outra: “Minha avaliação é que teremos de novo um papa italiano. Francisco nomeou 80% do colégio eleitoral, e entre os italianos há cinco considerados progressistas, que podem dar continuidade à linha dele.”

E finaliza: “Pode haver surpresas. O conclave é imprevisível.”

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