"Eles mandaram atirar nos manifestantes, eu fugi para não matar o meu povo", diz ex-militar sírio que vive no Brasil
Cerca de 3.500 brasileiros que vivem na Síria foram orientados a deixar o país por meios próprios; embaixada em Damasco já foi esvaziada
Murilo Fagundes
Nos últimos anos, cidadãos sírios contrários ao regime ditatorial de Bashar al-Assad procuraram refúgio no Brasil. É o caso de Rawad Imad, ex-militar que deixou a Síria em 2015 e atualmente reside em Brasília. Ele relatou a difícil decisão de abandonar o país após ser forçado a escolher entre atirar contra manifestantes ou fugir. "Eu não queria matar o meu povo e não queria morrer", disse.
Rawad mantém contato com seu irmão, Rudi Imad, que conseguiu se refugiar no Líbano. Após mais de uma década sem se verem, os irmãos planejam um reencontro com esperanças renovadas. "Ele disse que acredita em dias melhores e que finalmente poderemos nos ver", revelou Rawad.
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Segundo o especialista em relações internacionais Uriã Fancelli, o futuro da Síria permanece incerto, mesmo após a queda do regime de Bashar al-Assad. Ele explicou que o grupo militante islâmico que assumiu parte do controle do país tem buscado ajustar seu discurso para obter aceitação local e internacional. "Não é como se o país tivesse sido resgatado de um ditador e agora tivesse passado a poder de um líder democrático. Não, Pelo contrário, está longe disso", afirmou.
O Ministério das Relações Exteriores emitiu uma recomendação para que os mais de 3.500 brasileiros que vivem na Síria deixem o país o mais rápido possível por meios próprios. A embaixada brasileira em Damasco já foi esvaziada como parte das medidas de segurança. Apesar da preocupação com a situação, o Itamaraty afirmou que não há, no momento, planos para uma operação de repatriação. A justificativa é a ausência de demanda suficiente para tal medida.