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Cessar-fogo na Faixa de Gaza está próximo? O que dizem especialistas sobre plano Trump

Apesar de encorajadora, proposta ainda será debatida por delegações do Hamas e Israel

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Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump | White House
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Delegações de Israel e do grupo extremista Hamas se reúnem nesta semana, no Egito, para debater um acordo de paz na Faixa de Gaza. A proposta em análise foi apresentada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que vem pressionando ambas as partes por um cessar-fogo.

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Segundo a Casa Branca, o acordo engloba 20 pontos, entre eles, a libertação dos 48 reféns ainda mantidos pelo Hamas, vivos e mortos, em troca de 250 palestinos condenados e 1.700 detidos em Israel. O texto também inclui a desmilitarização de Gaza e a entrada de ajuda humanitária na região, incluindo a reconstrução de infraestrutura.

É proposto ainda que, enquanto um novo governo não é firmado, o enclave palestino será administrado por uma gestão internacional temporário, chamado de “Conselho da Paz”, chefiada por Trump e outros líderes e ex-chefes de Estado, e composto por palestinos qualificados. O Hamas, por sua vez, não terá participação no governo.

Outros pontos do acordo incluem:

  • a criação de um plano de desenvolvimento para reconstruir e revitalizar Gaza;
  • o estabelecimento de uma zona econômica especial com tarifas preferenciais e taxas de acesso negociadas;
  • a garantia de segurança por parceiros regionais, que deverão impedir o Hamas e outras facções de descumprirem os termos do acordo.

Fernando Brancolli, professor de Geopolítica do Instituto de Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), classifica o plano de Trump como o mais “potente” dentre as propostas já apresentadas para acabar com a guerra. Isso porque o acordo traz pontos de propostas anteriores, apresentadas por Catar, Egito, Arábia Saudita e França, e tem recebido apoio internacional.

“Países que são críticos inclusive da política norte-americana, como é o caso do Brasil, mas até países mais relevantes [para a guerra], como é o caso da França, da Arábia Saudita, argumentaram que seriam a favor [da proposta]. Então, acho que talvez uma das diferenças dessa narrativa de acordo é que claramente há uma pré-disposição internacional para movimentar de alguma maneira esse processo”, explica.

Brancolli ressalta, contudo, que não acredita 100% em uma “solução inevitável”, já que o Hamas pediu para revisar alguns termos do acordo. “É difícil de falar em momento decisivo, porque já tivemos tentativas de acordo anteriores. O que temos agora, talvez, seja o acordo mais potente, com mais dispositivos para tentar lidar com esse processo. O que não está muito claro é como essas dinâmicas vão interagir na realidade”, completa.

Uma das principais questões do Hamas é a libertação dos 48 reféns ainda mantidos em Gaza, dos quais 20 estão vivos. Conforme o texto, o grupo terá até 72 horas para entregar todos os sequestrados, contando a partir do momento em que Israel aceitar publicamente o acordo.

James Onnig, professor de geopolítica do Laboratório de Pesquisa em Relações Internacionais da Faculdade de Campinas (FACAMP), diz que a ideia do Hamas é devolver os reféns gradualmente, uma vez que são a única moeda de troca do grupo com Israel.

“Isso, para um grupo como o Hamas, que está usando os reféns como moeda de troca, é inviável, porque a visão do Hamas é que depois de entregar todos os reféns eles não terão mais nenhum trunfo nas mãos. Então, eles querem entregar os reféns gradativamente, à medida que os alimentos chegam e que há uma retirada das tropas israelenses [da Faixa de Gaza]”, explica.

Outro ponto que chama a atenção do Hamas é em relação à exigência do desarmamento do grupo palestino. Najad Khouri, pesquisador em Oriente Médio, aponta que a exigência é problemática e pode gerar um impasse nas negociações. "Entregar as armas, sair da Palestina, fazer a paz, é o fim do Hamas. E como é que eles vão aceitar o próprio fim? Essa que é a complexidade desse acordo“, diz.

Interesses de Trump

Para os especialistas, Trump vem usando os conflitos internacionais como uma forma de restabelecer o poderio norte-americano, visando reposicionar os Estados Unidos como liderança geopolítica global. Mas há também interesses econômicos e, até mesmo, pessoais, como uma possível indicação ao Nobel da Paz.

É o que explica Khouri. Segundo ele, o propósito do presidente norte-americano é retomar os Acordos de Abraão, paralisados desde o início da ofensiva de Israel em Gaza e apontados como uma das principais motivações para o ataque inicial do Hamas em 7 de outubro de 2023.

“Cinco anos atrás, Trump teve um grande sucesso na carreira política quando anunciou os acordos de Abraão. E, naquela época, os Emirados Árabes, o Bahrein, Marrocos e Sudão aceitaram participar. E agora, isso seria o maior sucesso do Trump, que é capaz de ganhar um Nobel da Paz, se conseguir acabar com esse conflito”, explica.

Esse tratado, mediado pelos Estados Unidos durante o primeiro mandato de Trump, em 2020, previa o reconhecimento diplomático mútuo entre Israel e os países árabes signatários, além de, entre outros, a cooperação econômica, tecnológica, científica e de segurança.

O acordo foi visto como um marco nas relações árabe-israelenses, pois quebrou a tradição da Liga Árabe, que até então condicionava a normalização das relações com Israel à criação de um Estado palestino independente.

"Há um interesse muito grande e econômico do Trump no Oriente Médio. A gente sabe que o interesse dele de fazer a paz e acabar com esse conflito, tem a ver com a Arábia Saudita, que condicionou estabelecer relação econômica e diplomática com Israel se a guerra acabar”, diz Khouri.

Além disso, Trump visa recuperar a chamada “Pax Americana”, período caracterizado pela hegemonia do governo norte-americano após a Segunda Guerra Mundial. Para Onnig, as ações do republicano, no entanto, são “atabalhoadas”, com tarifas e frases de efeito “quase sem nenhuma aplicabilidade na vida real”.

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“As relações exteriores estão inseridas no plano de Trump para reposicionar os Estados Unidos como liderança geopolítica global. Ou seja, todos os conflitos mundiais, quando minimizados ou quando encerrados, devem ter o dedo dos Estados Unidos para que o mundo lembre do poderio militar e geopolítico estadunidense. O objetivo é não ser ultrapassado por outros países como negociadores, especialmente a China”, avalia o professor.

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