Após saques, agência da ONU suspende entregas de ajuda pela principal rota de Gaza
Grupo atribuiu ataques à crise alimentar na região e cobrou proteção de Israel
Camila Stucaluc
A Agência das Nações Unidas para Refugiados da Palestina (UNRWA) suspendeu as entregas de ajuda por meio da estrada de Kerem Shalom – principal rota para chegar aos palestinos. A decisão, segundo a entidade, ocorreu devido aos constantes ataques a comboios humanitários na região, que já prejudicaram ao menos 100 entregas.
“A estrada para sair desta travessia não é segura há meses. Em 16 de novembro, um comboio de caminhões foi roubado por gangues armadas. Ontem, tentamos trazer alguns food trucks e todos foram levados”, disse Philippe Lazzarini, chefe da UNRWA.
Lazzarini explicou que o cenário é resultado da grave crise alimentar em Gaza, intensificada pela guerra de Israel contra o grupo extremista Hamas. Ele enfatizou que os obstáculos impostos por Israel, as decisões políticas para restringir a quantidade de ajuda e a falta de segurança nas rotas tornam as operações humanitárias impossíveis.
“A entrega de ajuda humanitária nunca deve ser perigosa ou transformar-se numa provação. A responsabilidade de proteger os trabalhadores humanitários e os suprimentos é do Estado de Israel como potência ocupante. Eles devem garantir que a ajuda flua para Gaza com segurança e devem abster-se de ataques a trabalhadores humanitários”, disse Lazzarini, pedindo, novamente, por um cessar-fogo na região.
A guerra entre Israel e Hamas ocorre desde outubro de 2023. Desde então, 44 mil palestinos foram mortos e 90% da população de 2,3 milhões de habitantes foi deslocada. Devido à alta procura por alimentos, a UNRWA estima que cerca de um terço da ajuda é roubada por gangues armadas que revendem os itens a preços exorbitantes.
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“Mesmo que a guerra termine amanhã, o futuro de Gaza parece sombrio. O PNUD [Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento] estima que o desenvolvimento humano foi atrasado em sete décadas. Sem a UNRWA, as perspectivas de recuperação serão ainda mais sombrias”, disse Lazzarini.