Diante de país dividido, Gabriel Boric assume presidência do Chile
Ex-líder estudantil foi eleito em dezembro, defendendo pautas como feminismo e meio ambiente
Victoria Nogueira Rosa
Em Valparaíso, Gabriel Boric foi empossado, nesta 6ª feira (11.mar), como o novo presidente do Chile. Ao ex-deputado e líder estudantil, caberá ocupar o cargo pelos próximos quatro anos, após ser eleito com 55% dos votos.
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A disputa contra o candidato de extrema direita, José Antonio Kast foi acirrada. Decidida no segundo turno, em dezembro de 2021, escancarou a polarização entre a esquerda e direita. Simpatizante do ditador Augusto Pinochet, Kast, por sua vez, encerrou a corrida pela presidência com 44,4% dos votos.
A ascensão do membro do partido Convergencia Social inaugura um novo capítulo na política sul-americana, que vê o retorno da esquerda às lideranças dos países. Ao SBT News, Maurício Santoro, professor do departamento das Relações Internacionais na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), comentou o cenário.
"O que estamos vendo na América do Sul é o enfraquecimento de governos conservadores e liberais, e o retorno de políticos e movimentos de esquerda que estão ganhando as eleições ou são os favoritos. A vitória do Boric é um elemento importante nessa mudança. A guinada à esquerda na América Latina vem acompanhada pela precariedade social que foi agravada na pandemia, como a pobreza e desigualdade. Tudo isso está sendo colocado em questão pelos candidatos de esquerda, mas são promessas e expectativas difíceis de ser cumpridas por conta do cenário econômico turbulento. Vai ser um desafio para o Boric, em como ele vai lidar com essas expectativas que a eleição dele provocou e a sua falta de experiência política. Ele foi eleito deputado, mas não foi nem prefeito, e agora tem o desafio de administrar um país", afirmou.
Com 36 anos, Boric é o presidente mais jovem na história do Chile. Na campanha presidencial, manifestou apoio a pautas como feminismo e a preservação do meio ambiente. Ele assume a Presidência no lugar do empresário Sebastián Piñera, de 72 anos. Presidente do Chile entre 2010 e 2014, retornou ao cargo em 2018. Lembrado pelo neoliberalismo, teve o mandato marcado por manifestações, pela pandemia do coronavírus e por escândalos, como o Pandora Papers, em que documentos vazados apontaram irregularidades na venda de uma empresa de mineração que pertencia ao chileno.
O vice-presidente do Brasil, Hamilton Mourão (PRTB), compareceu à posse de Boric, após Jair Bolsonaro (PL) declarar, em janeiro, que não estaria presente na cerimônia. A ex-presidente Dilma Rousseff (PT) também acompanhou o evento.
Para Santoro, "Boric, provavelmente, vai dedicar mais investimento público às políticas sociais. Isso, que é uma demanda das manifestações de 2019 e da própria Assembleia Constituinte, marca um modelo de transição para um modelo chileno que, desde o Pinochet, tem sido liberal. O [modelo liberal] foi bem sucedido em promover o crescimento econômico no Chile, mas gerou uma série de problemas, como a desigualdade social".
Asumimos ante Chile la presidencia de nuestro país con toda responsabilidad. Trabajaremos por estar a la altura. #CambioCiudadano
? Gabriel Boric Font (@gabrielboric) March 11, 2022
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"Assumimos perante o Chile a presidência de nosso país com toda responsabilidade. Vamos trabalhar para estar à altura da tarefa", disse Boric nas redes sociais.