Alemanha: vitória da centro-esquerda pode piorar relação com o Brasil
Coalizão apelidada de "sinal de trânsito" deve aumentar a pressão sobre o governo brasileiro;entenda
Sérgio Utsch
A três dias das eleições que vão colocar um ponto final nos 16 anos da era Angela Merkel, o SPD (Partido Social-Democrata) lidera todas as pesquisas de intenção de voto na Alemanha. Apesar da dianteira, o partido de centro-esquerda ainda estaria longe da maioria necessária pra formar um novo governo.
Olaf Scholz, atual ministro das Finanças e vice-chanceler, virou o jogo com a ajuda de tropeços dos principais adversários. Armin Laschet, da CDU (União Democrata Cristã) de Ângela Merkel, é considerado pouco carismático e ainda teve um ato falho que foi condenado por milhões de alemães. Em julho, durante o discurso do presidente Frank-Walter Steinmmeier em homenagem às quase 200 vítimas das inundações no país, o candidato conservador foi flagrado rindo nos bastidores.
O Partido Verde, que também chegou a liderar as intenções de voto, sofreu uma queda de popularidade depois de denúncias de que a líder do partido, Annalena Baerbock, exagerou nas informações publicadas no currículo dela e plagiou alguns trechos de outras publicações em um livro que publicou. Apesar disso, os Verdes devem fazer a terceira maior bancada no Bundestag, o Parlamento da República Federal da Alemanha.
Em quarto, empatados, estão o FDP (Partido Democrático Liberal) pró-mercado e a AfD (Alternativa para a Alemanha), partido de extrema direita, anti-imigração e acusado de ser simpático às causas nazistas. Acima dos 5% de votos necessários para ter representação no Parlamento, ainda está o Die Linke, partido de extrema esquerda e anticapitalismo, formado por políticos que deixaram o SPD.
Verdes e Brasil
O cenário mais provável hoje é a formação da coalizão apelidada pelos alemães de "sinal de trânsito" com o vermelho do SPD, o amarelo do FDP e os Verdes. A presença no governo alemão do partido cujas políticas são focadas na sustentabilidade ambiental pode piorar as relações entre Brasil e Alemanha.
Em entrevista ao SBT News, o professor Sérgio Costa, diretor do Centro de Estudos Latino-Americanos da Universidade Livre de Berlim, afirma que "vai piorar, sobretudo se a centro-esquerda fizer uma coalizão com o Partido Verde. Eu tenho certeza que o Partido Verde vai fazer exigências pesadas com relação à proteção climática e aos povos indígenas no Brasil. E isso pode levar a até criar sanções para o Brasil, sanções comerciais".
A coalizão marcaria a volta dos Verdes ao governo com o mesmo SPD. Em 1998, o partido se aliou aos Sociais Democratas, cujo líder e chanceler alemão na época era Gerhard Schroder. "A coalizão do Partido Verde com o Partido Social Democrata é garantida. É a preferência dos dois. Mas possivelmente eles vão precisar de um terceiro partido. Se esse terceiro partido será o Liberal Democrata ou o Partido de Esquerda isso vai depender das negociações depois das eleições", afirma o professor.
"Isso obviamente tem consequências importantíssimas para o tipo de governo que o Scholz vai poder fazer. Se ele governar com o partido de Esquerda e os Verdes, vai ser um governo muito progressista. Se ele governar com o Partido Verde e os Liberais, vai ser um governo mais contido. Os Liberais não aceitam, por exemplo, subordinar a economia à lógica da proteção climática. Já as esquerdas e o Partido Verde aceitam, inclusive preferem".
Como muitos alemães que vão votar no próximo domingo, o teuto-brasileiro Sérgio Costa não descarta um novo governo do CDU, mas lembra que Scholz, do SPD, soube incorporar melhor a mensagem de estabilidade e continuidade de um governo tão respeitado quanto o de Angela Merkel, marcado inclusive por vários avanços na agenda ambiental. Além dos Verdes, as políticas climáticas estão presentes nos manifestos e nos discursos de todos os principais partidos. O assunto tornou-se um dos mais importantes do debate político do país e deverá ter um peso inédito na escolha do novo chanceler.
Veja reportagem do SBT Brasil: