Influencer que associou tragédia gaúcha a religiões de matriz africana é denunciada
Segundo nota do Ministério Público de Minas Genais, as falas foram “afirmações discriminatórias e preconceituosas”
Carlos Catelan
O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) denunciou a influencer Michele Dias Abreu, de 43 anos, por intolerância religiosa. Ela, que é de Governador Valadares (MG), havia associado a tragédia das inundações no Rio Grande do Sul, que já deixou 155 mortos, a religiões de matriz africana.
+Brasil registrou mais de 176 mil processos judiciais envolvendo racismo ou intolerância religiosa em 2023
Em sua rede social, Michele havia publicado um vídeo em que dizia que fortes chuvas eram motivadas pela “ira de Deus”, uma vez que o estado tem o “maior número de terreiros de macumba” do país. “Alguns profetas já estavam anunciando algo que iria acontecer”, disse em 5 de maio.
Segundo nota do MPMG, as falas foram “afirmações discriminatórias e preconceituosas”. A pena por crime de intolerância religiosa pode chegar a 5 anos de reclusão.
Na denúncia, a promotoria de Justiça afirma que, na condição de perfil público e com 32 mil seguidores, além de praticar o crime, a mulher também “induziu outras milhares de pessoas à discriminação, ao preconceito e à intolerância contra as religiões de matriz africana”.
Ana Bárbara Canedo Oliveira, que assina a denúncia, pede ainda que a mulher fique proibida de sair do país sem autorização judicial e de fazer novas publicações sobre religiões de matriz africana ou com conteúdos falsos relacionados à tragédia no Rio Grande do Sul.
+Acusada de intolerância religiosa, Ludmilla se manifesta: ‘Vocês sabem quem eu sou e de onde eu vim’
Após repercussão, Michele Dias Abreu apagou o conteúdo e gravou um vídeo pedindo desculpas. "Na verdade, eu me expressei mal. Não quis de forma alguma ofender as pessoas em relação à religião. A religião é uma opção individual de cada um. Baseado naquilo que falei, queria pedir perdão se eu magoei as pessoas", disse num novo vídeo. Ela também fechou o acesso à sua conta na rede social.
Intolerância e Racismo
Em 2023, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) equiparou o crime de injúria racial ao de racismo, o que também inclui a liberdade religiosa.
Dessa forma, a lei prevê de 2 a 5 anos de prisão para quem empregar qualquer violência contra manifestações ou práticas religiosas, além de pagamento de multa. Antes, a lei previa pena de 1 a 3 anos de reclusão.