STF abre 100 ações penais e torna réus os primeiros golpistas do 8/1
Bolsonaristas respondem a processos e podem ter penas de mais de 20 anos de prisão
Ricardo Brandt
O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu tornar réus os 100 primeiros golpistas do 8 de janeiro. Com o fim da sessão virtual para análise do pacote de denúncias do Ministério Público Federal (MPF) à meia-noite desta 2ª feira (24.abr), bolsonaristas presos nos atos criminosos de invasão e depredação dos prédios sedes dos Três Poderes, em Brasília, passam a responder agora criminalmente na Justiça e podem ser condenados a penas que passam dos 20 anos de prisão, em regime fechado.
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A maioria dos ministros do STF decidiu abrir os processos penais, com base nas apurações preliminares da Polícia Federal (PF) e nas denúncias apresentadas pela Procuradoria Geral da República (PGR).
Os ministros André Mendonça e Kassio Nunes Marques, ambos indicados ao cargo pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), apresentaram suas decisões nas últimas horas. A sessão virtual de análise do primeiro pacote de 100 acusações se encerrou às 24h, desta 2ª feira (24.abr).
Mendonça seguiu o voto de Moraes, com ressalva. Para ele, no pacote de acusações contra os executores dos ataques, há mais elementos que as feitas contra incitadores e autores intelectuais, e os casos devem ser julgados pela Justiça do Distrito Federal, na primeira instância, e não do STF.
Kassio Nunes votou contra a abertura das ações contra os 50 acusados de serem incitadores e autores intelectuais e ainda pela incompetência dos STF para o caso. No outro inquérito, contra os executores, ele aponta a incompetência da Corte e acolheu parte dos pedidos.
O placar, no entanto, foi definido ainda na 4ª feira (19.abr), quando foi formada maioria dos ministros para o aceite das 100 acusações formais do MPF.
O ministro relator dos processo, Alexandre de Moraes, foi o primeiro a apresentar o voto, no dia 18 de abril, pela abertura dos processos penais. Outros sete ministros, Dias Toffoli, Edson Fachin, Gilmar Mendes, Luís Roberto Barroso, Cármen Lúcia, Luiz Fux e Rosa Weber (presidente da Corte), votaram ao longo da semana, seguindo o entendimento do relator.
Mega processo
As ações penais inaugurais contra os golpistas do 8/1 abre uma nova fase das investigações e responsabilização dos envolvidos. Sob relatoria do ministro Alexandre de Moraes, será o maior maxi-processo da história do STF.
Sob coordenação do subprocurador-geral da República Carlos Frederico Santos, os membros do MPF têm atravessado noites e finais de semana para reunir e analisar provas, individualizar a conduta de cada golpista e buscar os crimes correspondentes na legislação brasileira par pedir suas condenações.
O Grupo Estratégico de Combate aos Atos Antidemocráticos do MPF atua desde 10 de janeiro nos materiais de provas e acusações contra os golpistas. Ao todo serão apresentadas 1.390 denúncias criminais ao STF, nos inquéritos sob relatoria do ministro Alexandre de Moraes.
Dos 2.151 presos em flagrante em Brasília, a maior parte estava no acampamento na frente do quartel-general do Exército, em Brasília, e 222 foram detidos na Praça dos Três Poderes, no dia das invasões.
Desse total, 745 deles (idosos, pessoas com comorbidades e mulheres com filhos menores de 12 anos) foram soltos na sequência, após a identificação e o fichamento de todos.
Golpistas do 8/1 em números:
- 1,4 mil presos em flagrante nos dias 8 e 9 de janeiro
- 263 tiveram as prisões em flagrante convertidas em prisão preventiva
- 31 foram presos nas fases da Operação Lesa Pátria
Dos 1.406 pessoas que ficaram presos, a maioria teve as prisões convertidas em outras medidas cautelares. Ficaram presos preventivamente 263 golpistas, por ordem de Moraes (181 homens e 82 mulheres).
Com as investigações na Polícia Federal (PF), na Operação Lesa Pátria, contra os golpistas, 31 outros alvos foram presos entre fevereiro e abril, elevando para 294 o total de detidos atualmente. São eles os alvos das primeiras denúncias criminais do MPF levadas à análise no STF, nesses primeiros dois pacotes.
Executores e autores intelectuais
As denúncias que o MPF apresentou ao STF são a formalização das acusações contra os investigados. Nelas, são pedidas à Justiça as condenações, mediante apresentação das provas dos crimes cometidos e os correspondentes artigos em que eles se enquadram, dentro do Código Penal brasileiro - definindo-se assim, penas pretendidas pela acusação e que serão julgadas pelo juízo.
Os primeiros réus são dos núcleos de executores dos ataques ao Palácio do Planalto, ao Congresso e STF e de incitadores e autores intelectuais. São 50 acusados de cada núcleo.
As penas desses primeiros processos chegam a ultrapassar os 20 anos de prisão, em regime fechado, segundo a PGR. Para conseguir a punição, a equipe do MPF tem agora que reunir provas acima de qualquer suspeita que mostrem ao juízo que eles cometeram os crimes, nas circunstâncias apresentadas nas acusações.
A PGR decidiu fatiar as apurações em quatro frentes por núcleos de investigados. Uma estratégia jurídica adotada pela equipe para agilizar os andamentos e possibilitar o enquadramento jurídico dos acusados.
Núcleos de acusados no 8/1, alvos do MPF:
- Golpistas executores
- Golpistas financiadores
- Golpistas incitadores e autores intelectuais
- Golpistas autoridades omissas
"Resolvemos separar a investigação dos crimes dos seguintes pontos: contra os executores, contra os financiadores, contra os instigadores e contra autoridades que tenham praticado eventualmente omissão imprópria", explicou o subprocurador-geral da República Carlos Frederico.
Nas acusações, o MPF explica que como os crimes foram cometidos por uma multidão, um crime multitudinário, no termo técnico, por isso, a divisão das quatro frentes, para facilitar o processamento.
O MPF sustenta nas acusações que "o ataque às sedes dos Três Poderes tinha por objetivo final a instalação de um regime de governo alternativo, produto da abolição do Estado Democrático de Direito".
"Os autores pretendiam impedir de forma contínua o exercício dos Poderes Constitucionais, o que implicaria a prática reiterada de delitos até que se pudesse consolidar o regime de exceção pretendido pela massa antidemocrática", denúncia do MPF contra golpistas.
Contra os executores, o MPF imputou cinco crimes: associação criminosa armada; abolição violenta do Estado Democrático de Direito; golpe de estado; dano qualificado pela violência e grave ameaça com emprego de substância inflamável contra o patrimônio da União e com considerável prejuízo para a vítima; e deterioração de patrimônio tombado.
Contra os incitadores e autores intelectuais, o MPF imputou 2 crimes: incitação ao crime e associação criminosa armada.
Inquéritos
Antes da denúncia, existe o inquérito, em que são levantadas as provas, analisados os indícios de crimes. Os primeiros inquéritos abertos a pedido do MPF são do dia 10 de janeiro, a partir dos outros inquéritos já abertos contra os atos antidemocráticos ligados aos apoiadores de Bolsonaro.
O pacote de 100 acusações está vinculado a dois inquéritos abertos pela PF, no âmbito do STF: o Inquérito 4921 (contra os incitadores e autores intelectuais) e o Inquérito 4922 (contra os executores).
Além de medidas cautelares para preservar provas decretadas pelo relator naquela noite de 8 de janeiro, diligências, como buscas das imagens dos vídeos de segurança dos prédios, dados de geolocalização dos envolvidos, bloqueios de veículos, entre outros, foram e estão sendo reunidos e analisados.
Além do MPF, a PF e a AGU têm buscado o congelamento e o levantamento de provas para as diversas ações em curso.
Alguns tipos de provas levantadas:
- Vídeos produzidos por golpistas: em redes sociais ou armazenados
- Postagens em redes sociais da internet
- Imagens dos sistemas de segurança, das sedes dos Três Poderes e do DF
- Imagens das câmeras dos policiais
- Imagens dos drones
- Quebra de sigilos telemático e telefônico
- Reconhecimento facial
- DNA
- Digitais
Com a abertura das ações penais, novas provas serão requisitadas, tanto pelo MPF, como pela defesa dos réus, como pelo juízo. Cada parte também poderá apresentar suas testemunhas a serem ouvidas, eles serão interrogados, antes da apresentação final dos memoriais da acusação e da defesa, antes do relator julgar.
"O Ministério Público Federal fundamentou devidamente todas as denúncias e as condutas dos investigados. Individualizamos as condutadas e já requeremos, nas cotas apresentadas, as diligências que necessitamos para a devida instrução criminal das ações para que possam ser proferidas as sentenças e que ocorram as condenações esperadas", afirmou Carlos Frederico.
Novo pacote
Com o fim da sessão virtual que transformou as 100 primeiras denúncias em ações penais, foi aberta o segundo plenário virtual para analisar mais 200 novas denúncias criminais, do MPF contra os golpistas, à 0h desta 3ª feira (25.abr). O novo julgamento vai até o dia 2 de maio.
Segundo a PGR, a "expectativa é que a análise em bloco seja mantida até que a Suprema Corte aprecie as mais de 1,3 mil petições apresentadas".
Veja os nomes dos réus do núcleo incitadores e autores intelectuais (Inq. 4921):
- Ademir da Silva
- Edson Medeiros de Aguiar
- Carlo Adriano Caponi
- Daywydy da Silva Firmino
- Fátima de Jesus Prearo Correa
- Gleisson Cloves Volff
- Horacir Gonsalves Muller
- Marco Tulio Rios Carvalho
- Marcos Soares Moreira
- Maria Jucelia Borges
- Mateus Viana Maia
- Mauricio Maruiti
- Sheila Mantovanni
- Tatiane da Silva Marques
- Thiago Queiroz
- Vera Lucia de Oliveira
- Viviane Martimiani Nogueira
- Yuri Luan dos Reis
- Ademilson Gontijo Ferreira
- Agustavo Gontijo Ferreira
- Airton Dorlei Scherer
- Alex Sandro dos Anjos Augusto
- Alexander Diego Kohler Ribeiro
- Alfredo Antonio Dieter
- Alisson Adan Augusto Morbeck
- Ana Maria Ramos Lubase
- Anderson Zambiasi
- Andrea Baptista
- Andrea Maria Maciel Rocha e Machado
- Anilton da Silva Santos
- Antonio Cesar Pereira Junior
- Antonio Fidelis da Silva Filho
- Belchior Alves dos Reis
- Bruno Ribeiro dos Santos Maia
- Calone Natalia Guimarães Malinski
- Carlos Alberto Hortsmann
- Carlos Alexandre Oliveira
- Carlos Emilio Younes
- Cezar Carlos Fernandes da Silva
- Cristiano Roberto Batista
- Daiane Machado de Vargas Rodrigues
- Davi Alves Torres
- Deise Luiza de Souza
- Denise Dias da Silva
- Deusamar Costa
- Diego Haas
- Diogo Deniz Feix
- Dyego dos Santos Silva
- Edlene Roza Meira
- Edson Gonçalves de Oliveira
Veja os nomes dos réus do núcleo executores (Inquérito 4922):
- Aécio Lúcio Costa Pereira
- Alessandra Faria Rondon
- Aletrea Verusca Soares
- Alexandre Machado Nunes
- Ana Carolina Isique Guardieri Brendolan
- Ana Cláudia Rodrigues de Assunção
- Ana Flavia de Souza Monteiro Rosa
- Ana Paula Neubaner Rodrigues
- André Luiz Barreto Rocha
- Angelo Sotero Lima
- Antonio Carlos de Oliveira
- Antonio Marcos Ferreira Costa
- Barquet Miguel Junior
- Bruno Guerra Pedron
- Carlos Eduardo Bom Caetano da Silva
- Carlos Rubens da Costa
- Charles Rodrigues dos Santos
- Cibele da Piedade Ribeiro da Costa Mateos
- Cirne Rene Vetter
- Claudia de Mendonça Barros
- Claudio Augusto Felippe
- Clayton Costa Candido Nunes
- Cleodon Oliveira Costa
- Cleriston Oliveira da Cunha
- David Michel Mendes Mauricio
- Davis Baek
- Diego Eduardo de Assis Medina
- Dirce Rogério
- Djalma Salvino dos Reis
- Douglas Ramos de Souza
- Eder Parecido Jacinto
- Edilson Pereira da Silva
- Eduardo Zeferino Englert
- Edvagner Bega
- Elisangela Cristina Alves de Oliveira
- Eric Prates Kabayashi
- Ezequiel Ferreira Luis
- Fabiano André da Silva
- Fabio Jatchuk Bullmann.
- Fabricio de Moura Gomes
- Fatima Aparecida Pleti
- Felicio Manoel Araujo
- Felipe Feres Nassau
- Fernando Kevin da Silva de Oliveira
- Fernando Placido Feitosa
- Francisca Hildete Ferreira
- Frederico Rosario Fusco Pessoa de Oliveira
- Geissimara Alves de Deus
- Gelson Antunes da Silva
- Gesnando Moura da Rocha
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