Comando do Exército foi alterado 3 dias antes de tuíte de general
Dos oito integrantes da cúpula da Força em 2018, seis estão no governo Bolsonaro
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Três dias antes do disparo do tuíte do general Eduardo Villas Bôas "alertando o Supremo Tribunal Federal (STF)" sobre o julgamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva - ocorrido em 4.abr.2018 -, a composição do Alto Comando do Exército foi alterada em três nomes.
A mudança na cúpula militar é usada como argumento por oficiais para apontar imprecisões no relato do ex-chefe do Exército, incluindo aí a consulta formal ao Alto Comando para a análise do texto do tuíte de Villas Bôas. O trabalho de edição, assim, teria sido submetido a um grupo menor, mas não menos importante.
A partir de relatos e documentos oficiais, o SBT News reconstruiu o cenário dos dias anteriores ao tuíte do general. Villas Bôas, no livro Conversa com o general (FGV Editora), diz que enviou o texto do tuíte para todos os integrantes do Alto Comando em dois dias seguidos.
Em um dos trechos publicados à época nas redes sociais, Villas Bôas escreve: "Asseguro à Nação que o Exército Brasileiro julga compartilhar o anseio de todos os cidadãos de bem de repúdio à impunidade e de respeito à Constituição". Caso o STF concedesse o habeas corpus, Lula estaria no jogo eleitoral.
Na entrevista ao pesquisador Celso Castro, da FGV, Villas Bôas afirma: "Teve um rascunho elaborado pelo meu staff e pelos integrantes do Alto Comando residentes em Brasília. No dia seguinte (3.abr.2018), remetemos para os comandantes de área. Recebidas as sugestões, elaboramos o texto final, o que nos tomou todo o expediente, até por volta das 20h". Ou seja, toda a cúpula do Exército teria sido informada.
Antes do tuíte, em 31.mar.2018, o Alto Comando confirmou as trocas previstas na própria composição. As mudanças haviam sido decididas na reunião do mês anterior, na semana de 19 a 23 de fevereiro, 40 dias antes do julgamento do habeas corpus preventivo de Lula no Supremo.
No último dia de março de 2018, deixaram o Alto Comando Juarez Cunha, Hamilton Mourão - atual vice-presidente da República - e Theophilo de Oliveira. Passaram a integrar o grupo: Amaro dos Santos, Paulo Oliveira e Laerte Santos, que ainda hoje integram a cúpula do Exército. Naquele momento, os então novatos não haviam assumido efetivamente o posto.
"Não existiu essa história de uma reunião formal do Alto Comando. Um grupo foi informado, é claro, mas nem todos souberam do tuíte, seria quase impossível essa consulta integral, que não ocorreu", disse um general, que preferiu não se identificar. "Além disso, naquele momento, havia uma mudança no grupo. Uma troca dessas leva pelo menos um mês para se efetivar."
Em entrevista publicada pela Folha de S.Paulo nesta 6ª feira (18.fev), o presidente do STF, Luiz Fux, disse ter sido procurado pelo ministro da Defesa, Fernando Azevedo. O general -um dos integrantes do Alto Comando em abril de 2018- disse que não houve reunião do grupo militar para "tratar de eventual resultado do julgamento do Supremo, para reagir a isso".
A reunião oficial do Alto Comando posterior à semana de fevereiro de 2018 ocorreu dois meses depois, em maio. E tratou de assuntos administrativos, não mais sobre promoções de oficiais, que voltaram a ocorrer em julho e novembro daquele ano.
Um outro ponto levantado por oficiais na entrevista é a citação de Villas Boâs ao ex-ministro Raul Jungmann. O general se confunde ao dizer que não consultou Jungmann como ministro da Defesa para não torná-lo corresponsável pelo tuíte.
O chefe da pasta, como se sabe, já era o general Joaquim Silva e Luna, hoje récem-indicado por presidente Jair Bolsonaro para o comando da Petrobras. Jungmann deixou a Defesa em 27 de fevereiro de 2018 para assumir a pasta da Segurança do governo Michel Temer.
A partir do levantamento do SBT News, dos 20 generais que passaram pelo Alto Comando e poderiam ter sido consultados por Villas Bôas, oito integram ou fizeram parte do governo Bolsonaro de primeiro ou segundo escalão; um está na gestão de João Doria (PSDB), em São Paulo; sete ainda estão no Exército, três, na reserva; e um, morreu.
No governo Bolsonaro, além de Mourão, estão Fernando Azevedo e o auxiliar Manoel Pafiadachi, ambos na Defesa; Paulo Humberto (Postalis), Braga Neto (Casa Civil), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), além de Theophilo de Oliveira (Justiça) e Juarez Cunha (Correios), que deixaram os cargos no ano passado. Na gestão Doria, João Camilo de Campos é secretário de Segurança.
Ao tomar posse como comandante do Exército no lugar de Villas Bôas, o general Edson Leal Pujol editu a portaria 196 que restringe o uso das redes sociais por militares. Hoje, apenas dois integrantes do Alto Comando, que já tinham perfil no Twitter, continuam com as contas particulares: José Luiz Freitas (Comandante de Operações Terrestres) e Nogueira de Oliveira (Chefe do Departamento Geral do Pessoal).
A mudança na cúpula militar é usada como argumento por oficiais para apontar imprecisões no relato do ex-chefe do Exército, incluindo aí a consulta formal ao Alto Comando para a análise do texto do tuíte de Villas Bôas. O trabalho de edição, assim, teria sido submetido a um grupo menor, mas não menos importante.
A partir de relatos e documentos oficiais, o SBT News reconstruiu o cenário dos dias anteriores ao tuíte do general. Villas Bôas, no livro Conversa com o general (FGV Editora), diz que enviou o texto do tuíte para todos os integrantes do Alto Comando em dois dias seguidos.
Em um dos trechos publicados à época nas redes sociais, Villas Bôas escreve: "Asseguro à Nação que o Exército Brasileiro julga compartilhar o anseio de todos os cidadãos de bem de repúdio à impunidade e de respeito à Constituição". Caso o STF concedesse o habeas corpus, Lula estaria no jogo eleitoral.
Na entrevista ao pesquisador Celso Castro, da FGV, Villas Bôas afirma: "Teve um rascunho elaborado pelo meu staff e pelos integrantes do Alto Comando residentes em Brasília. No dia seguinte (3.abr.2018), remetemos para os comandantes de área. Recebidas as sugestões, elaboramos o texto final, o que nos tomou todo o expediente, até por volta das 20h". Ou seja, toda a cúpula do Exército teria sido informada.
Antes do tuíte, em 31.mar.2018, o Alto Comando confirmou as trocas previstas na própria composição. As mudanças haviam sido decididas na reunião do mês anterior, na semana de 19 a 23 de fevereiro, 40 dias antes do julgamento do habeas corpus preventivo de Lula no Supremo.
No último dia de março de 2018, deixaram o Alto Comando Juarez Cunha, Hamilton Mourão - atual vice-presidente da República - e Theophilo de Oliveira. Passaram a integrar o grupo: Amaro dos Santos, Paulo Oliveira e Laerte Santos, que ainda hoje integram a cúpula do Exército. Naquele momento, os então novatos não haviam assumido efetivamente o posto.
"Não existiu essa história de uma reunião formal do Alto Comando. Um grupo foi informado, é claro, mas nem todos souberam do tuíte, seria quase impossível essa consulta integral, que não ocorreu", disse um general, que preferiu não se identificar. "Além disso, naquele momento, havia uma mudança no grupo. Uma troca dessas leva pelo menos um mês para se efetivar."
Em entrevista publicada pela Folha de S.Paulo nesta 6ª feira (18.fev), o presidente do STF, Luiz Fux, disse ter sido procurado pelo ministro da Defesa, Fernando Azevedo. O general -um dos integrantes do Alto Comando em abril de 2018- disse que não houve reunião do grupo militar para "tratar de eventual resultado do julgamento do Supremo, para reagir a isso".
A reunião oficial do Alto Comando posterior à semana de fevereiro de 2018 ocorreu dois meses depois, em maio. E tratou de assuntos administrativos, não mais sobre promoções de oficiais, que voltaram a ocorrer em julho e novembro daquele ano.
Ministro da Defesa
Um outro ponto levantado por oficiais na entrevista é a citação de Villas Boâs ao ex-ministro Raul Jungmann. O general se confunde ao dizer que não consultou Jungmann como ministro da Defesa para não torná-lo corresponsável pelo tuíte.
O chefe da pasta, como se sabe, já era o general Joaquim Silva e Luna, hoje récem-indicado por presidente Jair Bolsonaro para o comando da Petrobras. Jungmann deixou a Defesa em 27 de fevereiro de 2018 para assumir a pasta da Segurança do governo Michel Temer.
Distribuição de cargos
A partir do levantamento do SBT News, dos 20 generais que passaram pelo Alto Comando e poderiam ter sido consultados por Villas Bôas, oito integram ou fizeram parte do governo Bolsonaro de primeiro ou segundo escalão; um está na gestão de João Doria (PSDB), em São Paulo; sete ainda estão no Exército, três, na reserva; e um, morreu.
No governo Bolsonaro, além de Mourão, estão Fernando Azevedo e o auxiliar Manoel Pafiadachi, ambos na Defesa; Paulo Humberto (Postalis), Braga Neto (Casa Civil), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), além de Theophilo de Oliveira (Justiça) e Juarez Cunha (Correios), que deixaram os cargos no ano passado. Na gestão Doria, João Camilo de Campos é secretário de Segurança.
Portaria 196
Ao tomar posse como comandante do Exército no lugar de Villas Bôas, o general Edson Leal Pujol editu a portaria 196 que restringe o uso das redes sociais por militares. Hoje, apenas dois integrantes do Alto Comando, que já tinham perfil no Twitter, continuam com as contas particulares: José Luiz Freitas (Comandante de Operações Terrestres) e Nogueira de Oliveira (Chefe do Departamento Geral do Pessoal).
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