Tecnologia

Como a Amazon usou ''milissegundos' para desmascarar um infiltrado da Coreia do Norte

Uma falha quase imperceptível na latência de digitação levou a empresa a barrar um esquema internacional ligado a sanções e financiamento de armamentos

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Ataques de hackers podem beneficiar programa nuclear da Coreia do Norte | Unsplash

Uma variação de poucos milissegundos no tempo de resposta de um teclado foi suficiente para a Amazon identificar um falso funcionário e interromper uma operação ligada a agentes da Coreia do Norte. O episódio, revelado em reportagem da agência Bloomberg, mostra como detalhes técnicos passaram a ser decisivos na estratégia de segurança de grandes empresas de tecnologia.

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Segundo Stephen Schmidt, diretor de segurança da Amazon, ferramentas internas de monitoramento apontaram um padrão fora do esperado no uso de um computador corporativo atribuído a um profissional remoto que dizia atuar a partir dos Estados Unidos. Em situações normais, a digitação feita em solo americano leva apenas dezenas de milissegundos para alcançar os servidores da companhia.

No caso analisado, porém, a latência — conhecida como lag, atraso na transmissão de dados — ultrapassava 110 milissegundos. O desvio indicava que o operador não estava fisicamente onde afirmava, mas acessava a máquina a partir de outro continente. Para a equipe de segurança, o padrão era compatível com operações já associadas a grupos norte-coreanos.

A apuração interna mostrou que o notebook corporativo estava localizado no Arizona, o que descartaria problemas de infraestrutura local. O tráfego de dados, no entanto, era redirecionado por servidores na China, rota frequentemente usada como intermediária por agentes da República Popular Democrática da Coreia (RPDC), nome oficial do país.

A fraude dependia de apoio logístico dentro dos Estados Unidos. Para manter a aparência de um funcionário legítimo, uma cúmplice local recebia os computadores enviados pelas empresas contratantes, mantinha os equipamentos ligados e conectados à internet, enquanto o acesso real era feito do exterior por softwares de controle remoto.

Essa estrutura criava a ilusão de que o trabalho estava sendo executado a partir de território americano, requisito comum em contratos de tecnologia. A facilitadora, residente no Arizona, foi identificada e condenada a vários anos de prisão em julho deste ano, segundo a Amazon. O falso funcionário foi desligado poucos dias após a detecção, sem conseguir acessar dados sensíveis da companhia.

Os números indicam que o caso está longe de ser isolado. Desde abril de 2024, a Amazon afirma ter bloqueado mais de 1.800 tentativas de contratação ou infiltração associadas a trabalhadores norte-coreanos. O objetivo central dessas operações é obter salários em moeda forte para financiar programas de armamentos, driblando sanções impostas pelos EUA e pela ONU.

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