Eleições municipais 2024: RS tem 43 cidades onde candidato só precisa votar em si próprio para ganhar
Dos 214 municípios do Brasil com candidaturas únicas, 20% estão no estado; entre eles, locais devastados por chuvas e enchentes entre abril e maio
Segundo levantamento da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), realizado com base em dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), das cerca de 214 cidades do Brasil com candidaturas únicas para prefeituras em 2024, 43 estão no Rio Grande do Sul (20,1%). Considerando apenas as cidades gaúchas, as candidaturas únicas representam 9% dos pleitos disputados nesta eleição.
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É o caso de Barão de Cotegipe, cidade na região de Alto Uruguai, próxima a Erechim. Foi uma das primeiras a sofrer com a tragédia das chuvas no estado, ainda em abril. No município, Franciel Izycki, do PL, precisa apenas votar em si mesmo para ser eleito e substituir o atual mandatário (já reeleito uma vez), Vladimir Farina (Progressistas).
Isso se deve a uma regra primordial da legislação eleitoral: para ganhar, o candidato precisa receber a maioria dos votos válidos, isto é, excluindo os votos brancos e nulos.
O mesmo vale para Vera Cruz, no Vale do Rio Pardo. O município foi atingido pela tragédia, em 28 de abril, e em maio foi notícia quando moradores reconstruíram, em cinco horas, a ponte que dava acesso à região – destruída pelas águas. O prefeito Gilson Becker (PSB) está praticamente reeleito, tendo apenas a liturgia das urnas como barreira.
Situação semelhante em outros cenários: Santa Tereza, Harmonia, Tupandi, Feliz, Alto Feliz e São Pedro da Serra, entre outras.
Para o atual gestor de Feliz, Junior Freiberger (PSD), a candidatura única deve-se ao seu índice elevado de aprovação, segundo ele próprio informa, somado a uma visão de reconstrução do município. Mas também porque a perspectiva é de que os "próximos anos sejam um pouco mais conservadores", de reconstrução, não de novos projetos. Na visão dele, o recorde de candidaturas únicas tem muita relação com as enchentes.
"Talvez esse receio de não conseguir executar tanto quanto se imaginava pode ter influenciado outros candidatos a não registrarem sua candidatura a prefeito", afirmou Freiberger ao SBT News.
Também de Feliz, a candidata a vereadora Márcia Bohn (PSD) aponta que a reconstrução e a resiliência são o foco da campanha, não outras áreas de desenvolvimento. No município, a destruição chegou a 70% do território. "Isso acaba levando o foco da campanha", completou.
"Isso com certeza mudou o cenário político nesta campanha. Apresenta desafios e oportunidades únicas", afirmou Márcia.
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Ao refletir sobre a campanha eleitoral em meio a esse contexto, mesmo com candidatura única, Freiberger disse à reportagem que o momento "é uma oportunidade valiosa para se conectar ainda mais com a comunidade e entender profundamente as necessidades dos cidadãos".
Quem são os candidatos únicos?
Quanto aos candidatos únicos, do total de 214 cidades do país, são, em maioria, homens (89%), graduados (57%), brancos (74%), casados (73%) e têm em média 49 anos. Entretanto, a estratificação mais interessante colhida pela CNM é a porcentagem de reeleitos (como no caso de Becker e Freiberger): são 72% (154), enquanto nacionalmente esse percentual é de 55%. São 17 pontos percentuais acima, sem contar aqueles que não poderão se reeleger, mas são apoiadores dos candidatos únicos do pleito local (caso de Farina).
Na visão do chefe do executivo de Feliz, por exemplo, essas uniões partidárias devem ser vistas como "hombridade dos partidos" que foram "sensíveis com a situação delicada [...] e optaram por unir forças em prol da reconstrução, ao invés de partir para um embate".
Os partidos com as maiores vantagens nesta situação são MDB (50 municípios com candidaturas únicas), PSD (34), PP (27), União Brasil (24) e PL (16).