Aplicativos "de bicos" crescem no Brasil e dividem opiniões sobre liberdade e falta de direitos
Plataformas conectam trabalhadores a vagas temporárias, mas modelo não garante benefícios trabalhistas
SBT Brasil
Quem busca uma renda extra já pode contar com os chamados "apps do bico" — plataformas que conectam trabalhadores a vagas temporárias, especialmente no comércio. A promessa é de liberdade e horários flexíveis. Mas será que vale a pena trabalhar sem carteira assinada, sem benefícios e sem proteção legal?
Há oito meses, Lyah Naindra Campos começou a procurar alternativas para sustentar a família. Foi então que conheceu um aplicativo que oferece oportunidades de serviço em supermercados, com escalas flexíveis que permitem conciliar trabalho e tempo com as filhas.
“Posso passar mais tempo com a família, posso me organizar melhor. Posso resolver meus problemas. Não preciso ter um atestado para dizer hoje eu não vou trabalhar”, conta Lyah.
Esses aplicativos funcionam de maneira parecida com os de transporte: fazem a intermediação entre quem precisa contratar e quem quer trabalhar. Algumas plataformas são especializadas em bares e restaurantes; outras, em lojas e supermercados. As jornadas variam entre 4 e 12 horas.
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Sem direitos
Segundo dados levantados, a média de pagamento é de R$ 70 por seis horas de trabalho. Considerando 22 dias trabalhados no mês, o valor chega a R$ 1.540 — pouco acima do salário mínimo, mas sem nenhum direito garantido por lei, como INSS, FGTS ou vale-transporte.
Para a advogada trabalhista Gislaine Silva, o modelo representa um retrocesso nas relações de trabalho. “É uma precarização total das pessoas que precisam e não têm poder de negociar. Ainda vão ter que pagar o transporte, levar comida, e se sofrerem um acidente, não têm respaldo”, afirma.
Ela ainda aponta que, enquanto o trabalhador não tem nenhuma garantia, o empregador continua lucrando. “Não faz sentido que a empresa ganhe em cima do funcionário. Você não tem direito nenhum, mas eu — como contratante — continuo tendo lucro”, critica.
Apesar disso, Lyah afirma que já recusou propostas com carteira assinada. Segundo ela, a liberdade que o modelo atual proporciona é uma das principais vantagens. “Quando você é CLT, tem que ver as mesmas pessoas todos os dias. Já na prestação de serviço, você está cada dia num lugar diferente.”
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