Tarcísio defende reflexão e maturidade política em negociação com EUA; Gleisi Hoffmann responde
Governador de São Paulo apontou que Brasil precisa deixar rivalidade de lado e se aproximar de Washington

Camila Stucaluc
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), publicou uma nota sobre a decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor uma taxa de 50% sobre os produtos brasileiros. Na sua avaliação, a medida “demanda uma profunda reflexão” e “um esforço diplomático” brasileiro.
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“Esse movimento dos Estados Unidos demanda uma profunda reflexão sobre de que forma estamos construindo nossas negociações. Das economias do G20, temos sido a mais distante da Casa Branca e aquela que não tem mantido ativamente negociações bilaterais com os EUA”, pontuou Tarcísio.
Na mesma linha, o governador, que é aliado de Jair Bolsonaro (PL), afirmou que tem visto pouca ação junto ao US Trade Representative, Departamento de Comércio e Departamento de Estado norte-americanos. “Parece que o governo Lula não entendeu ainda que ideologia e aritmética não se misturam”, disse.
Em outro trecho, Tarcísio citou o México – país com quem os Estados Unidos tem uma rivalidade histórica, atualmente baseada nas leis anti-imigração de Trump. No texto, o político apontou que o governo mexicano “deixou de lado as diferenças” e conseguiu avançar nas negociações com Washington sobre o tarifaço imposto ao país.
“Não podemos imaginar que as duas maiores economias do nosso continente e as duas maiores democracias do Ocidente estejam tão distantes. Cabe agora ao governo federal o esforço diplomático para resolver a questão com maturidade política e visão de Estado, sem se esconder atrás de narrativas, sem responsabilizar quem não está no poder. A responsabilidade é de quem governa”, finalizou.
Gleisi Hoffmann
Em resposta, a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, disse que "quem está colocando ideologia acima dos interesses do país é o governador Tarcísio e todos os cúmplices de Bolsonaro que aplaudem o tarifaço de Trump contra o Brasil. Pensam apenas no proveito político que esperam tirar da chantagem do presidente do EUA, porque nunca se importaram de verdade com o país e o povo."
A ministra também afirmou que "estamos diante do maior ataque já feito ao Brasil em tempos de paz, visando a atingir não apenas nossa economia, mas a soberania nacional e a própria democracia. É a continuação do golpe pelo qual Bolsonaro responde no STF, agora usando tarifas de um país estrangeiro para impor seu projeto ditatorial. É nessa hora que uma nação distingue os patriotas dos traidores."
Entenda
A taxa de 50% sobre os produtos brasileiros, que deve entrar em vigor em 1º de agosto, foi anunciada por Trump na quarta-feira (9). Em carta enviada à Brasília, o republicano disse que a decisão buscava “corrigir as graves injustiças do sistema” comercial atual. Ele também associou a medida ao que considera perseguição política contra Bolsonaro e ataques à liberdade de expressão.
Trump classificou como “vergonha internacional” o julgamento de Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022, chamando o processo de “caça às bruxas que deve acabar imediatamente”. Além disso, criticou decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) que, segundo ele, emitiram “centenas de ordens de censura secretas e ilegais” contra plataformas norte-americanas.
Em resposta, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que “é falsa a informação sobre o alegado déficit norte-americano” e que “qualquer aumento unilateral de tarifas será respondido com reciprocidade conforme previsto na legislação brasileira”. Reforçou, ainda, que o “Brasil é um país soberano com instituições independentes que não aceitará ser tutelado por ninguém”.
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“O processo judicial contra aqueles que planejaram o golpe de estado é de competência apenas da Justiça Brasileira e, portanto, não está sujeito a nenhum tipo de ingerência ou ameaça que fira a independência das instituições nacionais. No contexto das plataformas digitais, a sociedade brasileira rejeita conteúdos de ódio, racismo, pornografia infantil, golpes, fraudes, discursos contra os direitos humanos e a liberdade democrática. No Brasil, liberdade de expressão não se confunde com agressão ou práticas violentas”, disse Lula.