Petrobras: ações em queda, embate com o governo e troca de presidência
Crise com ministros de Lula derrubou Prates do comando da estatal e abre dúvidas sobre política de preços de combustíveis
Na noite de terça (14), uma notícia pegou os investidores de surpresa: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) demitiu o então presidente da Petrobras, Jean Paul Prates. O economista e ex-senador vinha tendo atritos com o governo, sobretudo com ministros Alexandre Silveira, de Minas e Energia, e Rui Costa, da Casa Civil.
A estatal é uma blue chip, como são chamadas as empresas mais negociadas no mercado acionário, e tem um peso relevante nos principais índices da bolsa. Sua importância para a economia brasileira também pode influenciar no câmbio.
Os papéis da Petrobras na B3, a bolsa de valores brasileira, chegaram a cair quase 10% no primeiro dia após a demissão de Prates. No fim do pregão, a PETR3, ação ordinária (ON), que dá direito a participar das assembleias de acionistas, fechou em queda de 6,78%. A PETR4, ação preferencial (PN), que não dá participação na assembleia, mas preferência no recebimento de divididendos, terminou esta quarta com perda de 6,04%.
O SBT News recupera a história e responde às principais questões sobre o futuro da estatal.
Por que Prates foi demitido?
O ex-presidente da Petrobras estava no comando desde o início do terceiro mandato de Lula, em janeiro de 2023. A demissão foi confirmada em comunicado da empresa que afirmava que uma reunião do conselho de administração iria “apreciar o encerramento antecipado de seu mandato”.
Os ministros Alexandre Silveira (Minas e Energia) e Rui Costa (Casa Civil) vinham tendo embates com Prates, o principal deles a política de distrição de dividendos extraordinários — parcela extra do lucro da empresa que é distribuída aos acionistas (além dos dividendos obrigatórios estabelecidos na política da empresa).
O Conselho de Administração estava discutindo distribuir aos acionistas 50% dos recursos que sobraram no caixa. O que incluía repasses à União, a principal acionista da empresa. O governo defendia manter todo o dinheiro em um fundo de reserva para obter empréstimos para investimentos.
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Nesta situação, Lula interferiu, e o governo indicou que os conselheiros votassem contra a divisão do lucro. Prates se absteve, o que foi analisado como traição.
Posteriormente, a divisão acabou acontecendo. Mas somente após reação negativa dos investidores e com aval do presidente da República. Entretanto, a demissão do agora ex-CEO já era assunto em Brasília.
Quem vai assumir?
O Planalto indicou o nome de Magda Chambriard, que tem aceitação de setores do governo e experiência no mercado de óleo e gás. A engenheira foi diretora-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP) entre 2012 e 2016, durante o governo da ex-presidente Dilma Rousseff. Antes de ingressar na ANP, foi funcionária de carreira da Petrobras, onde trabalhou por 22 anos.
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Possível aliada do governo, Magda vinha defendendo, até então, o avanço do mercado de gás para ampliar a industrialização no país. Criticou também, nas redes sociais, o “atraso” na concessão de licença do Ibama para permitir que a estatal inicie a exploração na Foz do Amazonas. O projeto sofre críticas de ambientalistas e sofre resistência do Ministério do Meio Ambiente, de Marina Silva.
No comando da Petrobras, Chambriard deve aumentar as pressões para o início da atividade na região. O nome dela deve passar por aprovação. Até lá, a diretora de Assuntos Corporativos da Petrobras, Clarice Coppetti, vai assumir interinamente a presidência da estatal.
Como os investidores receberam a troca?
Para os investidores, a troca constante de comando dificulta a previsibilidade das medidas. Uma das dúvidas, por exemplo, é se a Petrobras vai se abrir mais à interferência do governo, segurando o reajuste de preços de combustível, por exemplo, que pode ter impacto nos índices de inflação.
Uma mudança na política de preços pode levar a uma redução da margem de lucro, o que poderia prejudicar a distribuição de dividendos aos investidores. A incerteza sobre a condução da empresa levaram a uma queda de R$ 34 bilhões no valor de mercado na bolsa de valores nesta quarta (15).
Como está a situação financeira da Petrobras?
A petroleira divulgou na segunda-feira (13) seus resultados para o primeiro trimestre de 2024. O balanço demonstrava um recuo no lucro líquido de 37,9% na comparação com o mesmo período do ano anterior. Prates não acompanhou a divulgação ao vivo, mas gravou um comunicado sobre os resultados.
A empresa eegistrou queda na receita com todos os seus principais produtos, com destaque para: gás de cozinha (-22,2%), diesel (-18,8%) e gasolina (-17,3%). A receita total com a venda de derivados de petróleo foi de R$ 69,4 bilhões, uma redução de 17,4% na comparação com o 1º trimestre de 2023.
Segundo analistas, “a redução da receita com derivados no mercado interno deveu-se principalmente a menores preços, à sazonalidade do consumo, ao aumento do teor de biodiesel na mistura do diesel e à perda de competitividade da gasolina para o etanol hidratado”.
Ao todo, números tímidos não causaram alarde, mas, com a mudança no comando, investidores podem procurar opções mais seguras para investir, especialmente no curto prazo.