Projetado por Niemeyer, Teatro Nacional é reaberto após mais de dez anos em Brasília
Cerimônia de reinauguração da Sala Martins Pena é realizada nesta quarta-feira (18) com programação especial
Yumi Kuwano
Será reaberto nesta quarta-feira (18) o Teatro Nacional Claudio Santoro após um hiato na sua participação no cenário cultural de Brasília. O espaço passou mais de dez anos fechado e será entregue à população após uma obra de restauração.
O teatro é o maior conjunto arquitetônico projetado por Oscar Niemeyer na capital federal, em 1958, destinado exclusivamente às artes e foi fechado em 2014 após descumprir normas dos bombeiros e do Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios (MPDFT), que impossibilitavam a permissão do seu funcionamento. Mais de cem irregularidades foram encontradas no complexo.
No entanto, foram oito anos até o início das obras, em dezembro de 2022, executadas pelo governo do Distrito Federal, na gestão do atual governador Ibaneis Rocha, por meio da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap) e da Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec). Por ser um equipamento tombado, a restauração tem sido um processo lento e delicado.
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De acordo com o GDF, a primeira etapa contou com investimento de R$ 70 milhões, destinados para a atualização das estruturas, construção do sistema de combate a incêndio, da implementação de acessibilidade e do restauro do foyer e da Sala Martins Pena, que será a única sala entregue nesta fase.
O Espaço Dercy Gonçalves, a Sala Villa-Lobos, a Sala Alberto Nepomuceno e o anexo ficarão para a próxima etapa da obra, que contarão com mais de R$ 300 milhões mas ainda não tem data para iniciar.
Misto de emoções
Nas palavras da musicista Kathia Pinheiro, a reabertura da sala Martins Pena é mais esperada do que um filho, no entanto, ela pondera a demora da entrega. “Estou muito feliz, porém muito triste também, porque a Martins Pena, apesar de ser reaberta agora, não é a principal sala do complexo. Ela é a segunda maior sala. Ou seja, quanto tempo ainda vamos esperar para que a principal, a sala Villa-Lobos, seja reaberta?”, indaga.
Kathia faz parte da história do Teatro Nacional. A violinista integrou por quase 35 anos a Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro (OSTNCS). Carioca de nascimento e brasiliense de coração, ela conta que chegou à capital para fazer um curso e voltar para o Rio de Janeiro, mas após um convite para participar da orquestra, que estava sendo fundada na época, na década de 1980, decidiu ficar.
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Kathia conheceu, no dia da inauguração oficial, em 21 de abril de 1981, as três salas do Teatro: Alberto Nepomuceno, Martins Pena e a tão famosa Villa-Lobos. "O Teatro Nacional faz parte de toda minha trajetória como violinista profissional", diz.
A artista relembra vários momentos marcantes que viveu no Teatro Nacional. “Jamais esquecerei a primeira vez que toquei como violinista na Ópera Carmen, de [Georges] Bizet, com solistas internacionais e regência do maestro Silvio Barbado. Outro momento muito marcante foi quando eu fiz o solo do concerto de Camille Saint-Sães para violino e orquestra com regência da maestrina Elena Herrera. E claro, a despedida do maestro Cláudio Santoro, que morreu de infarto fulminante no dia 27 de março de 1989, em pleno ensaio na sala Villa-Lobos”, conta.
Projeto
O Teatro Nacional é tombado em três níveis: mundial, nacional e distrital. Em 1987, foi declarado Patrimônio Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Duas décadas depois foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e por último veio o tombamento junto à Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec).
Isso porque, além de fazer parte do maior perímetro urbano sob proteção histórica do mundo, o edifício é repleto de detalhes que o tornam único. A arquitetura moderna conta com 16 mil metros cúbicos de concreto e cerca de 1.600 toneladas de aço. Estão entre os itens tombados o revestimento, os carpetes, as poltronas, o padrão do palco, as cortinas cênicas, o jardim de Burle Marx e os painéis de Athos Bulcão.
Os projetistas envolvidos na atualização tiveram, acima de tudo, que levar em consideração a preservação do bem sem descaracterizá-lo, o que deixou o trabalho mais longo, como explica a arquiteta e urbanista, professora da Universidade de Brasília (UnB) Angelina Nardelli, que pesquisa patrimônio cultural. Segundo ela, as intervenções são necessárias para atualizar o projeto de qualquer equipamento antigo, mas uma edificação tombada precisa manter as características, mesmo com as modificações.
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"Toda edificação tombada precisa de um zelo muito grande, regras que são importantes e precisam ser seguidas dentro dos princípios que mundialmente regem processos de patrimônio. A obra foi necessária, pois com o passar do tempo o teatro não se adequaria sozinho às normas de segurança", diz a pesquisadora.
Angelina acredita que a reabertura é um pontapé inicial importante para a cultura do DF.
"Além de ter todo o contexto histórico, ele é um edifício feito por Oscar Niemeyer e faz parte do conjunto urbanístico de Brasília numa composição que permite que as pessoas tenham acesso à cultura", completa, entretanto reforça que ainda há um longo caminho pela frente, já que o que está sendo entregue é uma das salas e não o teatro.
Programação especial
Para marcar a reabertura da Sala Martins Pena, estão programados diversos espetáculos. Nesta quarta, os profissionais que participaram das obras de restauração do espaço irão assistir ao espetáculo da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro.
Na sexta-feira (20), será a vez da Orquestra Sinfônica com a dupla sertaneja Chitãozinho e Xororó em um show para convidados.
Já no sábado (21), o espaço será aberto para o público em geral, com show de Almir Sater. No domingo (22), serão duas sessões de "TelaPlana" da Cia Os Melhores do Mundo, e na segunda (23), o público poderá conferir a apresentação de Plebe Rude. Os ingressos poderão ser retirados no Sympla, um dia antes do evento.