Fusão de DEM e PSL abre corrida por vagas no Congresso e nos estados
Novo partido que sai da junção das duas legendas, o União Brasil, ainda não definiu o nome ao Planalto
A convenção do Democratas (DEM) aprovou na 4ª feira (6.set) a fusão entre a sigla e o Partido Social Liberal (PSL). A mudança, que ainda deve passar pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), altera força política no Congresso Nacional, já que o "União Brasil" será o partido com maior bancada na Câmara (81) e o maior de centro-direita do país.
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Segundo o cientista político Lucas Fernandes, consultor de Relações Governamentais da BMJ Consultores Associados, a criação da nova legenda também afetará a corrida eleitoral para presidência em 2022. "A gente ainda tem um caminho muito difícil, apesar da fusão partidária, para que a 3ª via se viabilize, mas é uma mudança de peso e pode trazer um impacto importante para que algum nome consiga se viabilizar e tirar um pouco dessa dicotomia Lula-Bolsonaro", diz.
Mesmo que o partido decida não lançar um candidato próprio, o União Brasil ainda contará com vantagens no Congresso. Isso porque, graças ao grande número de parlamentares, a legenda terá acesso privilegiado ao fundo público de campanha, além de tempo adicional na TV e no rádio para as campanhas.
"É um partido que terá muito disputado, vai ser a joia da coroa", avalia Fernandes, e acrescenta que, por mais que os possíveis presidenciáveis do novo partido, atualmente, não tenham uma grande projeção nacional, são nomes que não carregam uma carga elevada de rejeição, o que abre caminhos para que se tornem mais competitivos com o andamento da corrida eleitoral.
Dentro do futuro partido, há três pré-candidatos: Luiz Henrique Mandetta (DEM), ex-ministro da Saúde; José Luiz Datena (PSL), apresentador; e Rodrigo Pacheco (DEM), presidente do Senado, mas que evita já se colocar como uma opção ao Palácio do Planalto. O ex-juiz Sergio Moro também flerta com a futura sigla, mas ainda não bateu o martelo sobre a qual legenda se filiará.
Além disso, as cúpulas das siglas já se preparam para lançar candidatos ao governo de ao menos 11 estados.
"Desde a reforma política de 2017, a gente vê, principalmente, pela cláusula de barreira estabelecida, uma tendência de diminuição da fragmentação partidária. A fusão do DEM com o PSL abre o tabuleiro de xadrez para movimentações partidárias", explica o cientista político. "E não deve parar por aí. Inclusive agora, que o Congresso derrubou o veto de Bolsonaro sobre federações partidárias, a gente pode ter algumas siglas se unindo nessa nova estrutura que, até então, não era permitida na legislação."
A federação partidária permite que os partidos se unam para atuar como uma só legenda nas eleições e na legislatura, devendo permanecer assim por um mínimo de quatro anos. O pleito brasileiro contará com esse mecanismo pela primeira vez nas próximas eleições, em 2022.
Economia
O cientista político explica que, o novo partido lançar uma candidatura à presidência e ela for bem sucedida, o candidato deverá manter posicionamento um pouco mais à centro-direita. Ou seja, não tão conservador como Bolsonaro, mas em medida, mantendo uma agenda econômica parecida com a do presidente. Isso deve agradar, sobretudo, os partidos do chamado "Centrão".
"A expectativa é de que o Congresso tenha até mais incentivo para ficar mais próximo desse presidente, do que teve ao longo do governo Bolsonaro. Também seria um candidato que não chegaria com uma carga tão negativa quanto a candidatura do PT, por exemplo, que não tem uma afinidade tão grande, do ponto de vista econômico, em relação à composição do Congresso atual", diz.
"Sem contar que a gente também teria um cenário de mais apoio da iniciativa privada. Agentes econômicos devem ficar otimistas se um presidente desse partido for eleito."
Debandada
A ala bolsonarista, que soma cerca de 25 congressistas, já se programa para deixar o União Brasil no período de janela partidária, que deve ocorrer até março do ano que vem. O grupo critica abertamente a união das legendas e defende a reeleição de Bolsonaro.
Para o presidente do Brasil, isso significa que a fusão vai afetar, principalmente, a lista de partidos com as quais o mandatário pode compor alianças para as eleições do ano que vem. "Além disso, mesmo que o União Brasil não lance uma candidatura própria, a tendência é que a sigla não apoie Jair Bolsonaro, pelo menos no primeiro turno", diz Fernandes.
Como estratégia, em vez de tentar fazer novas conexões, o presidente deve continuar mantendo uma atitude que agrade o seu eleitorado. "Ele ainda deve manter esse discurso mais radical para fidelizar o eleitor bolsonarista. Atualmente, Bolsonaro tem um piso de 20% a 25% nas pesquisas de opinião, então o foco é manter o eleitor fidelizado porque, com esse eleitor, ele consegue chegar no segundo turno", completa o especialista.