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"Carnaval é aglomeração sem máscara. Passa covid", diz especialista

4ª onda da covid e replicação do vírus em pessoas já vacinadas podem impactar na realização do festejo

"Carnaval é aglomeração sem máscara. Passa covid", diz especialista
Maioria das cidades dependerão do cenário epidemiológico para realizar o evento | Reprodução/Wikimedia Commons
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A descoberta de uma nova variante da covid-19 deixou o mundo em alerta. Denominada Ômicron, a cepa foi classificada como "variante de preocupação" pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e está sendo monitorada globalmente para compor novos estudos. Nesse contexto, grandes eventos esperados para o fim deste ano e para o ano de 2022, como o Carnaval, podem ser impactados.

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"Falar de Carnaval é um assunto delicado, e como podemos ver na esfera pública existe um comportamento diferente: várias prefeituras cancelaram, mas existem outras que estão investindo no evento", analisa o biologista molecular José Eduardo Levi, coordenador de Pesquisa e Desenvolvimento da rede DASA. "Não é segredo para ninguém que aglomeração, principalmente sem máscara, passa covid. Eu não faria grandes investimentos e programações de carnaval que não pudessem ser cancelados, eu teria isso em mente", ressalta.

Apesar das altas expectativas, tanto da população como dos governantes, muitas cidades ainda não confirmaram o Carnaval e esperam a recomendação de autoridades sanitárias. Capitais como Salvador, Recife e Fortaleza, por exemplo, continuam debatendo o assunto e afirmaram que dependerão do cenário epidemiológico regional para realizar o festejo. Ao mesmo tempo, municípios como São Paulo e Rio de Janeiro já estão planejando o evento, com a divulgação de cronogramas e blocos de ruas, mas também dependem da baixa taxa de contaminação e da autorização da Vigilância Sanitária.

+ Sessão especial da OMS discute resposta à disseminação da Ômicron

Para Levi, a quarta onda da covid-19, a existência da nova variante e o avanço da cobertura vacinal no país por igual são os maiores desafios para a realização de grandes eventos. "A vacinação vai permitir ajudar na erradicação da pandemia, mas, neste momento, mesmo com a população vacinada, nós ainda não conseguimos erradicar o vírus. A gente conseguiu diminuir muito a circulação, as taxas de mortalidade, as hospitalizações, mas os vírus estão conseguindo se replicar nas pessoas vacinadas", explica. "Vai chegar uma hora que teremos que fazer uma escolha para a humanidade, não vai ser a hora de fazer Carnaval, paciência. Estamos em um momento que realmente não vai dar para acontecer."

Nas últimas semanas, mais de 70 cidades do interior paulista anunciaram a suspensão das atividades carnavalescas para evitar aglomerações e uma possível alta na transmissão do vírus. A volta de "um novo normal" ainda não é certa para muitos especialistas e profissionais da saúde e, segundo Levi, o uso de máscaras em lugares públicos, campanhas de vacinação e vigilâncias genômicas farão parte do cotidiano global mesmo quando a pandemia estiver controlada. "Isso por alguns anos, até que tenhamos uma vacina que seja esterilizante e que cause proteção total contra o vírus, que não haja transmissão, e que todo mundo a receba. Depois disso, poderemos falar que esquecemos esse pesadelo que é o coronavírus."

Ômicron

A linhagem da variante ômciron foi relatada pela primeira vez à OMS no dia 24 de novembro pelo governo da África do Sul. Apesar de ainda não haver confirmações certas sobre o impacto da infecção da covid-19 pela cepa, estudos preliminares sugerem que o grande número de mutações -- cerca de 32 -- gerado por ela na parte do vírus que se liga às células humanas, chamada de "spike protein" ("espinhos de proteína"), pode impactar na proteção dos anticorpos gerados pelos imunizantes, além de influenciar em uma alta taxa de transmissão, possivelmente maior que a Delta.

A descoberta mais ágil da variante, no entanto, gera uma vantagem para os pesquisadores e órgãos de saúde. "O trabalho da vigilância genômica foi muito bom, eles agiram muito rápido e na prática isso permite que os países evitem a entrada de pessoas que estejam vindo das nações com a cepa. Isso já é uma consequência do alerta", avalia Levi. Além disso, o aviso fez com que farmacêuticas já começassem a testar a efetividade das vacinas anticovid contra a Ômicron, o que pode auxiliar no desenvolvimento de imunizantes mais eficazes.

+ Sessão especial da OMS discute resposta à disseminação da Ômicron

"No momento, os laboratórios estão recolhendo o soro das pessoas vacinadas e colocando em num sistema de cultura para reagir com a Ômicron para ver como se comporta, se o soro dessas pessoas pode neutralizar o vírus -matar o vírus da cultura externa. Então, com isso ele é quantitativo. Podemos ter uma ideia de que ou melhor ou pior ele possa neutralizar o soro das pessoas vacinadas quando comparado com as outras variantes", explica Levi. "O importante é dizer para que não haja pânico, já que não foram notificados casos muito graves em vacinados e, portanto, não existe evidência de que as vacinas funcionam melhor ou pior contra a variante."

Até o momento, um total de 130 casos da Ômicron foram identificados no mundo, sendo: Botsuana (4), África do Sul (77), Hong Kong (1), Israel (1), Bélgica (1), Alemanha (2), Itália (1), República Tcheca (1), Reino Unido (2), Austrália (2), Holanda (13), Dinamarca (2) e Portugal (13). Conforme informado pelos governos, a maioria dos infectados são viajantes procedentes de países como África do Sul, Moçambique e Egito.

"O que nós sabemos sobre a Ômicron é que as mutações dela são maiores do que outras variantes já citadas como perfil de "preocupação" pela OMS. Ela é uma cepa que carrega 52 mutações, ou seja, 52 alterações do genoma dela, enquanto as outras variantes possuem 20", diz Levi. "Nesse caso, o que chamou a atenção dos sul-africanos é que 32 dessas mutações acontecem na superfície da spike protein, o que sugere que a variante seja de uma super linhagem, que também carrega mutações já vistas na Alfa, Beta e Gama. É como se ela desenvolvesse os piores aspectos de cada uma delas e se encontrassem nessa nova variante."

+ Queiroga: "principal arma para enfrentar a Ômicron é a vacinação"

Para Levi, o surgimento de novas cepas da covid-19 continuará acontecendo caso os países não alcancem altos níveis de imunização. "Quando temos uma população exposta ao vírus, essas pessoas desenvolvem uma resposta imune. Para uma nova variante prevalecer nessa população, que já é largamente imunizada naturalmente, ou seja, exposta ao vírus, ela precisa escapar da resposta imune. Quando o vírus desenvolve essas mutações de escape a resposta imune natural, ele [vírus] usa essas mesmas mutações para escapar da resposta vacinal", explica. "Nesse sentido, a população não vacinada pode ser uma fonte de novas variantes que sejam uma ameaça para as vacinas.

Segundo o biologista, a situação se assemelha muito às doenças de poliomielite, varíola e sarampo, que, para erradicar, é preciso investir na vacinação de, se não 100%, uma grande parte da população mundial, incluindo crianças.

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